Nokia e Microsoft aderem ao sistema Android, mas com um porém; entenda mudança histórica
Seis meses depois de ser comprada pela Microsoft, a Nokia decidiu dar um passo histórico – e apresentou ontem à noite seus primeiros celulares com o sistema operacional Android. Eles se chamam Nokia X, X+ e XL e são aparelhos relativamente modestos, com telas de 4 a 5 polegadas e câmera de 3 a 5 megapixels. […]
Seis meses depois de ser comprada pela Microsoft, a Nokia decidiu dar um passo histórico – e apresentou ontem à noite seus primeiros celulares com o sistema operacional Android. Eles se chamam Nokia X, X+ e XL e são aparelhos relativamente modestos, com telas de 4 a 5 polegadas e câmera de 3 a 5 megapixels. Mas são bem bonitos -usam a mesma linguagem de design criada para a linha Lumia-, e muito baratos: vão custar 89, 99 e 109 euros, já desbloqueados e sem subsídio de operadora (os preços em outros territórios ainda não foram divulgados; mas, se a Nokia decidir fabricá-los no Brasil, seria razoável supor valores abaixo de R$ 400). E todos rodam Android.
Com um porém. O Nokia X e seus irmãos têm uma nova interface gráfica, que é bem diferente do Android como o conhecemos – lembra mais o Windows Phone. Ou seja: o Android da Microsoft tem a cara do Windows. Além disso, ele não acessa a loja de aplicativos Google Play. Ele acessa uma loja própria, onde supostamente haverá “centenas de milhares” de apps Android. Parece plausível, porque os aplicativos não terão de ser alterados, ou seja, bastará copiá-los para a nova loja. Em suma: a Microsoft, e sua subsidiária Nokia, estão aderindo com cautela ao Android.
Mas por que? Por que não abraçar de vez o Android, que já ocupa incríveis 81% do mercado mundial? Por dois motivos. Primeiro: não ficar nas mãos do Google. Usar a loja Google Play seria muito arriscado para a Microsoft. De um dia para o outro, o Google poderia simplesmente barrar o acesso delas – algo possível e, considerando o histórico de estranhamentos entre as empresas, até provável. Não dá pra correr esse risco.
Segundo: a Microsoft ainda não está pronta para abandonar o Windows Phone. Ele está há três anos no mercado e, mesmo tendo suas qualidades, não consegue decolar, principalmente porque faltam aplicativos (de Tinder a Candy Crush, o WP fica devendo quase todos os hits recentes). Mesmo assim, não irão matá-lo agora. Ainda vão insistir mais um pouco. Por isso o Android da Microsoft vem disfarçado, camuflado de Windows Phone.
Por enquanto, a linha Nokia X é apenas uma experiência (e que já estava pronta quando a Microsoft comprou a empresa finlandesa). Mas se começar a vender bem, a Microsoft poderá ir lançando mais aparelhos Android, com configurações mais potentes, até substituir totalmente o Windows Phone. Não é garantido que isso vá acontecer, ou dar certo. Manter uma loja de aplicativos paralela sempre é complicado. E não será fácil enfrentar a Samsung, atual senhora do mundo Android. Mas, se alguém tem competência para isso, é a Nokia.
A adesão ao Android é uma medida ousada, que recoloca os finlandeses no jogo. E mostra que a Microsoft, mesmo atolada em confusões internas, ainda é capaz de pensar no futuro.
Update 26/2: Nos comentários, abaixo, alguns leitores articulam uma tese interessante: para eles, a medida é um ato de rebeldia ou insubordinação da Nokia ante a Microsoft (e não uma ação coordenada da MS, como defendo acima). É uma teoria intrigante, mas difícil de aceitar. Porque desde 2010 a Nokia é comandada por Stephen Elop: executivo que veio da Microsoft, e fez uma gestão inegavelmente Microsoftiana. Ele convenceu a Nokia a adotar o Windows Phone, abandonando as próprias pretensões, e depois vendeu a empresa para a MS por US$ 7,2 bilhões, um valor considerado muito baixo (é menos do que a Microsoft pagara pelo Skype). Ou seja, Elop é Microsoft desde criancinha. É altamente improvável, para dizer o mínimo, que tome qualquer medida à revelia da empresa de Bill Gates. Ele não só aceitou os Nokias com Android como subiu ao palco, anteontem, para apresentá-los pessoalmente à imprensa.