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Bruno Garattoni

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Vencedor de 15 prêmios de Jornalismo. Editor da Super.

O que significa a suposta redução de eficácia das vacinas contra a Omicron

CEO da Moderna disse que as vacinas atuais deverão ter menos força contra a nova variante. Mas isso não significa, necessariamente, que elas deixarão de proteger contra Covid grave. Entenda por que.

Por Bruno Garattoni Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 6 set 2024, 09h25 - Publicado em 30 nov 2021, 10h25

CEO da Moderna disse que as vacinas atuais deverão ter menos força contra a nova variante. Mas isso não significa, necessariamente, que elas deixarão de proteger contra Covid grave. Entenda por que.

“Não existe um mundo, eu acho, em que [a eficácia da vacina contra a variante Omicron] é no mesmo nível… que nós tivemos com a [variante] Delta”, disse ao jornal inglês Financial Times o executivo Stéphane Bancel, CEO da empresa farmacêutica Moderna, que produz uma das vacinas contra o coronavírus. Bancel acrescentou: “Eu acho que haverá uma queda material [palpável]. Eu não sei quanto, porque temos de esperar os dados. Mas todos os cientistas com os quais falei… eles dizem, ‘isso não vai ser bom'”. 

Esses dois comentários foram o suficiente para espalhar mais uma onda de preocupação no mundo e nos mercados financeiros, com as Bolsas caindo bastante. Mas as declarações de Bancel não são bem o que podem parecer. É praticamente certo que a variante Omicron, que foi detectada na África do Sul e em vários outros países desde a semana passada, reduza a eficácia das vacinas. Afinal, ela tem 50 mutações, muito mais do que qualquer outra variante do Sars-CoV-2 – e 32 delas estão na proteína Spike, que é o principal alvo das vacinas. Mas isso não significa, necessariamente, a volta da pandemia à estaca zero – ou sua progressão para um estágio novo e ainda mais terrível. 

Existem duas maneiras de testar a eficácia de uma vacina: os testes in vitro, em que você coloca anticorpos (previamente colhidos de pessoas vacinadas) em contato direto com o vírus, e os estudos clínicos – em que você compara as taxas de infecção, doença e morte em grupos de voluntários (ou animais de laboratório) vacinados e não vacinados. 

Os fabricantes de vacinas já estão fazendo os testes in vitro, com os primeiros resultados previstos para daqui a duas semanas. Eles provavelmente mostrarão que a variante Omicron é mais resistente aos anticorpos. Foi o que aconteceu com a variante Delta e com várias outras – a variante Beta, também originária da África do Sul, se revelou especialmente resistente aos anticorpos induzidos pelas vacinas (que se baseiam no Sars-CoV-2 “antigo”, anterior às variantes).   

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O resultado disso foi confirmado na prática. Ao longo de 2021, vários estudos clínicos foram mostrando que as vacinas de fato perdiam força contra as variantes. Dados de Israel mostraram que a vacina da Pfizer tinha apenas 39% de eficácia contra infecção pela variante Delta. As demais vacinas tiveram quedas igualmente grandes. Mas, eis o ponto-chave, todas elas continuaram altamente eficazes contra Covid grave, oferecendo mais de 90% de proteção. As variantes conseguem driblar parcialmente os anticorpos, e infectar pessoas vacinadas; mas as vacinas continuam evitando que essas pessoas adoeçam e morram.

Isso também pode acontecer com a Omicron. É o cenário considerado mais provável, inclusive. “Se você falar com pessoas que estão trabalhando na vacina, eles tem um bom nível de confiança de que três doses oferecerão boa proteção contra a nova variante”, disse o médico Scott Gottlieb, ex-comissário da FDA e atual membro do conselho da Pfizer, à emissora americana CBS. Ele se refere a três doses das vacinas atuais, sem adaptações contra a nova variante. “Eu acho que os estudos [in vitro] vão mostrar que a neutralização [ação dos anticorpos] contra esse vírus caiu substancialmente. Mas isso não significa que as vacinas deixarão de ser eficazes.”

Ou seja: a vacina que você já tomou (até o momento, 62,4% dos brasileiros receberam o ciclo completo) muito provavelmente oferecerá algum grau de proteção contra a variante Omicron – em especial se ela for complementada com uma terceira dose, de reforço, que o Ministério da Saúde recentemente liberou para todos os adultos que foram vacinados há pelo menos cinco meses (e 10 milhões de brasileiros já tomaram). Isso ajudará a ganhar tempo até que uma nova versão das vacinas, atualizada para a Omicron, esteja pronta e testada – isso se ela for de fato necessária. 

A variante Omicron é preocupante. Bem preocupante. Mas pode não ser o pesadelo que as primeiras notícias, baseadas em informações truncadas e ainda sem dados concretos, dão a entender. Continue usando máscara e tomando precauções sanitárias, e lembre-se do seguinte. Sempre que há uma onda de pânico, seja lá sobre o que for, a melhor coisa a fazer é sempre a mesma: manter a calma e não embarcar nela.

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