Dan Fabbio é um professor de música dos Estados Unidos que tinha um tumor no cérebro. Esse tumor ficava justamente em uma área responsável pelas atividades musicais – o que significa que a sua retirada poderia comprometer seu trabalho (que também era sua paixão) para sempre.
“Remover um tumor cerebral pode ter consequências significativas dependendo de sua localização. Tanto o tumor em si quanto a operação para removê-lo podem causar danos ao tecido e comprometer a comunicação entre diferentes partes do cérebro”, explicou o seu neurocirurgião Web Pilcher, da Universidade de Rochester, em uma matéria publicada pelo site Futurity.org.
Numa tentativa de reduzir os danos nas cirurgias, Pilcher e o professor Brad Mahon, da mesma universidade, desenvolveram um programa de mapeamento cerebral. Segundo Mahon, o cérebro de todo mundo é organizado mais ou menos da mesma forma, mas a localização particular de certas funções pode variar alguns centímetros de uma pessoa para a outra – daí a importância desse mapeamento personalizado.
Para identificar as áreas importantes para o processamento de música e linguagem no cérebro de Fabbio, os pesquisadores desenvolveram certos testes. Por exemplo, enquanto monitoravam sua atividade cerebral usando imagem por ressonância magnética (fMRI, na sigla em inglês), colocavam uma música para tocar e pediam que ele cantarolasse as melodias. Eles também fizeram testes envolvendo identificar objetos e repetir frases.
Usando essas informações, criaram um mapa 3D superdetalhado para guiá-los na cirurgia. Mas não foi só isso: a cirurgia foi feita com Fabbio acordado para que pudessem testar se suas habilidades permaneceriam intactas. Ele novamente teve de cantarolar reproduzindo as melodias que eram tocadas na sala de cirurgia – a diferença era que desta vez seu cérebro estava exposto. No vídeo abaixo (que tem cenas fortes), é possível ver como o toque em determinada área deixava o paciente incapaz de repetir as melodias.
Mais para o final do procedimento, Fabbio fez o impensável: tocou seu saxofone deitado na mesa de cirurgia, com o cérebro ainda exposto. É claro que cuidados foram tomados: ele não podia ficar fazendo força, por exemplo, então tocou uma música que permitia sopros mais curtos.
Os dados obtidos com esse caso ajudou os pesquisadores a definirem com mais precisão a relação entre as diferentes áreas cerebrais responsáveis pela música e pelo processamento da linguagem – e o procedimento como um todo, inédito, abriu um precedente importantíssimo.
No fim, quando Fabbio tocou o saxofone, todo mundo ficou emocionado. Suas habilidades musicais permaneceram intactas.
[ATENÇÃO: Cenas fortes do cérebro de Fabbio em ação]
O caso foi descrito no periódico Current Biology.