Por que é tão difícil sair da internet e ir trabalhar/estudar/ler um livro
Que atire a primeira pedra quem nunca perdeu minutos valiosos navegando na internet em vez de fazer um trabalho atrasado. Ou quem nunca tenha ido para a cama com a intenção de ler um livro, mas resolveu dar uma olhada rápida no Facebook e no Twitter para, depois, se dar conta de que gastou todo o tempo da leitura apertando o F5 obsessivamente.
Fazer isso vez ou outra não significa que você esteja viciado em internet, mas essa é uma realidade constante para quem tem o problema. Agora, a ciência parece ter descoberto o que esse comportamento não é só uma questão de autocontrole, mas está relacionado a alterações estruturais no cérebro. Um estudo publicado em junho na revista científica PLoS ONE analisou os cérebros de 18 chineses que passavam de 10 a 12 horas em games online e os comparou com outros 18 jovens que gastavam no máximo duas horas na rede.
O resultado revelou que várias pequenas regiões no cérebro dos viciados encolheram significativamente – em alguns casos, entre 10 e 20%. Quanto mais antigo o vício, mais pronunciada a redução. Para os autores do estudo, esse encolhimento poderia afetar o autodomínio (é por isso que não dá para ficar só 15 minutinhos no Facebook) e o foco em prioridades e metas definidas (ler um livro, por exemplo).
A pesquisa também revelou que a matéria branca cerebral (um dos principais componentes sólidos do sistema nervoso central, ao lado da massa cinzenta) também foi alterada. As imagens mostraram maior densidade de matéria branca em um ponto do cérebro ligado à formação da memória. Por isso, não é raro encontrar viciados em internet com dificuldade para armazenar informações. (Sabe quando você encontra um texto ótimo em um site e pouco tempo depois não faz ideia do que ele dizia? Então.) Já no membro posterior esquerdo da cápsula interna – parte do cérebro ligada a funções cognitivas e executivas – a densidade da matéria branca caiu, o que pode prejudicar a habilidade de tomar decisões.
Uma explicação possível para essas alterações é que quem passa muito tempo online utiliza mais algumas áreas do cérebro do que outras. Como um músculo, certas áreas podem se desenvolver mais ou menos para se adaptar ao uso que fazemos delas.
Tratamentos radicais
Por falta de evidências científicas, o vício em internet ainda não é um transtorno reconhecido pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM, em inglês), a bíblia dos profissionais da saúde mental. Mas já existem tratamentos para esse problema em vários lugares. Talvez a China seja o país que faça isso com maior rigor: lá tem um polêmico campo de treinamento semimilitar para viciados em Internet que inclui até eletrochoques. Estima-se que 14% dos jovens urbanos chineses – o que significa 24 milhões de pessoas – tenham esse vício.