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Como as Pessoas Funcionam

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Estudos científicos e reflexões filosóficas para ajudar você a entender um pouco melhor os outros e a si mesmo. Por Ana Prado

Por que julgamos as pessoas de acordo com a quantidade de roupas que elas estão usando?

Por Ana Carolina Prado
Atualizado em 21 dez 2016, 09h49 - Publicado em 14 nov 2011, 18h01

marilyn__jane

Pode parecer absurdo – e preconceituoso – julgar a capacidade mental e a personalidade das pessoas pela quantidade de roupa que elas estão usando. Mas um artigo de pesquisadores das universidades de Maryland, Yale e Northeastern (EUA), publicado no jornal Personality and Social Psychology, revelou que é exatamente isso o que fazemos. E tem mais: seis estudos mostraram que a ideia que fazemos em relação à mentalidade e atitude de alguém pode mudar significativamente se essa pessoa tira uma blusa ou faz qualquer outra coisa que a faça revelar mais o seu corpo. Assim, instantaneamente.

A descoberta expande a ideia difundida há muito tempo de que, quando um homem vê uma mulher usando pouca roupa, ele se concentra mais em seu corpo e menos em sua inteligência, o que faz com que ele a veja como um objeto sem mente ou moralidade. Pesquisas anteriores sugerem que isso acontece quando se olha para alguém em um contexto sexual, como na pornografia.

Mas o novo estudo mostra que, além de esse efeito ocorrer com ambos os sexos, as pessoas com pouca roupa não são vistas como mero objeto. Em vez disso, muda-se o tipo de disposição mental que atribuímos a elas – e isso não acontece só quando se expõe demais o corpo. “Mostramos também que isso pode acontecer mesmo sem a remoção de roupas. Simplesmente focar nos atributos físicos de alguém, concentrando-se em seu corpo em vez de em sua mente, faz você ver a pessoa menos como um agente [alguém com a capacidade de agir, planejar e exercer autocontrole] e mais como um experimentador [alguém mais focado na sensações e emoções]”, explicou ao MedicalXpress um dos autores do estudo, o psicólogo Kurt Gray.

Em múltiplas experiências, os pesquisadores puderam comprovar a existência desses dois tipos de percepção que temos sobre os outros. Quando os homens e mulheres usados como voluntários focavam no corpo de alguém, a percepção de “agência” (autocontrole e ação) foi reduzida, enquanto a percepção de “experiência” (emoção e sensação) foi aumentada.

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Para os autores, esse efeito ocorre porque as pessoas, inconscientemente, pensam em mentes e corpos como coisas distintas ou até mesmo opostas – com a capacidade de agir e planejar ligada à mente e a capacidade de experimentar ou sentir ligada ao corpo. De acordo com Gray, as descobertas não são de todo ruim: elas podem ser úteis na vida amorosa.  “O foco no corpo e o aumento da percepção da sensibilidade e emoção que isso provoca pode ser bom para os amantes”, diz ele.

A roupa, o cuidado e o sexismo

Surpreendentemente, o estudo também descobriu que um foco no corpo da pessoa pode na verdade aumentar a postura moral dos outros em relação a ela – pelo menos no que se refere a causar-lhes danos. Embora quem estivesse vestindo pouca ou nenhuma roupa tenha sido visto como menos moralmente responsável nos testes, eles também foram vistos como indivíduos mais sensíveis e, portanto, merecedores de maior proteção. “Os outros parecem ser menos inclinados a prejudicar as pessoas com a pele nua e mais inclinados a protegê-los. Em um experimento, por exemplo, as pessoas eram menos inclinadas a dar ​​pequenos choques elétricos em homens sem camisa do que naqueles que estavam vestidos”, explica Gray.

No entanto ele destaca que, no ambiente de trabalho ou em contextos acadêmicos, nos quais as pessoas são basicamente avaliadas de acordo com sua capacidade de planejar e agir, isso tem efeitos negativos: ser visto como um “experimentador” faz a pessoa parecer menos competente e lhe tira a liderança, o que impacta negativamente a avaliação do seu trabalho. Essas pessoas também são vistas como mais reativas e emocionais, características que também podem prejudicar a sua carreira.

O aspecto positivo de um foco no corpo, como o aumento no desejo de proteger contra danos, também pode ser prejudicial. Segundo os autores, isso pode dar origem ao chamado “sexismo benevolente”, comum nos Estados Unidos na década de 1950, em que os homens oprimiam as mulheres sob o pretexto de protegê-las.

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