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O outro dia em que o presidente dos EUA visitou Cuba

O papa foi, os Rolling Stones já chegaram e Barack Obama também foi pra Cuba. Um momento histórico, porque foi a primeira vez em 88 anos que um presidente americano pisou na ilha em caráter oficial. Na última vez, em janeiro de 1928, o mundo era outro. O líder dos Estados Unidos se chamava Calvin […]

Por Felipe van Deursen
Atualizado em 4 set 2024, 11h29 - Publicado em 24 mar 2016, 20h56
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REUTERS/Ivan Alvarado


O papa foi, os Rolling Stones já chegaram e Barack Obama também foi pra Cuba. Um momento histórico, porque foi a primeira vez em 88 anos que um presidente americano pisou na ilha em caráter oficial. Na última vez, em janeiro de 1928, o mundo era outro.

O líder dos Estados Unidos se chamava Calvin Coolidge. A Revolução Cubana pertencia a um futuro distante e nem a revolução predecessora, de Fulgencio Batista, que seria derrubada por Fidel Castro e Che Guevara, havia acontecido. Cuba conquistara a independência dos espanhóis em 1902, mas, na prática, ela era governada pelos EUA. E foi justamente para discutir isso que Coolidge embarcou no USS Texas em Key West, na Flórida, em direção a Havana. Não só Cuba como outras nações latinoamericanas queriam mudanças na política externa americana. Essa era a pauta da Conferência Panamericana de 1928, realizada na capital cubana.

Foi a primeira viagem internacional de Coolidge, que precisou tomar uma série de cuidados diplomáticos. Os EUA viviam a famigerada Lei Seca, em que desde 1920 a fabricação, o comércio, o transporte, a importação e a exportação de bebidas alcoólicas era proibido.

Eis a situação: você é o presidente de um país onde o consumo de álcool é reprimido por uma emenda na Constituição, um estado policial combate (e apanha) do contrabando de bebidas e seus cidadãos fabricam uísques potencialmente venenosos no quintal de casa. E aí, então, você viaja a uma ilha da América Central que é o paraíso da coquetelaria, que seduziu alguns de seus melhores escritores e deu ao mundo drinques reproduzidos até hoje, inclusive nos bares das suas cidades igualmente famosas pela cultura de bar.

A situação de Coolidge poderia gerar algo parecido com o que aconteceu recentemente quando o presidente do Irã, Hassan Rouhani, foi à Itália e à França. Ou seja, os anfitriões cubanos poderiam:

1. Fazer como a Itália, que cobriu nus de estátuas e ofereceu aos iranianos uma refeição sem vinho – e acabou criticada pela imprensa local.

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2. Fazer como a França, que não quis saber de boicotar um ícone do país e se recusou a não servir vinho – e o almoço acabou cancelado

Mas os cubanos, latinos que são, ignoraram a saia-justa da pataquada da Lei Seca (até porque ela era uma grande e óbvia desculpa para os americanos viajarem a Cuba e gastarem seus dólares para beber sem aporrinhação).

Pois então, receberam Coolidge como se devia, com álcool. Um jornalista que cobriu a viagem relembrou o momento:

“Uma bandeja de delicados copos de cristal para coquetéis chegou, todos espumando até a borda de daiquiris – rum, suco de limão fresco e açúcar bem mexidos (…) Cal [vin Coolidge], é claro, era o centro de atração do drama. Como a bandeja se aproximou de sua esquerda, ele virou-se artisticamente à direita, parecendo admirar um retrato na parede. A bandeja chegou mais perto. Coolidge girou mais 90 graus, apontando para Machado [Gerardo Machado Morales, líder cubano à época] as belezas da vegetação tropical. No momento em que ele completou sua curva de 360 graus, a bandeja tinha passado com segurança além dele. Aparentemente, ele nunca tinha visto. Sua manobra foi uma obra-prima de ação evasiva.” 

Um baile diplomático.

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E aí, quase um século depois, Obama repete a malemolência, mesmo que de forma esquisita – um presente de Raúl Castro. Que bom que não fizeram high five.

 

Um sósia de Obama cumpriu o protocolo alcoólico e completou o serviço, virando uns mojitos e surpreendendo muita gente

Os presidentes americanos seguem sem se recostar nas bancadas da Bodeguita del Medio, mas seus cidadãos deverão, nos próximos anos, voltar a bebericar rum no Malecón.

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Já vai tarde, Guerra Fria.

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