O plano obscuro de criar um Estado judaico no Mato Grosso do Sul
Antes da Segunda Guerra, havia militantes que não faziam questão de um país para os judeus na Terra Santa
Recebi este mapa do Marcelo Andreghetti, camarada curioso e de bom gosto que acompanha o blog
“Os judeus têm o direito de demandar:
– INDEPENDÊNCIA em vez de tolerância
– SOBERANIA em vez de direitos de minorias
– AUTOCONFIANÇA em vez de proteção
– DIGNIDADE em vez de compaixão”
Ao longo da história, os judeus foram perseguidos não por um nem dois nem três povos. Assírios, babilônios, selêucidas, romanos, portugueses, espanhóis, cossacos, russos… A lista é longa. No século 19, o antissemitismo na Europa Central e do Leste voltou a crescer. Em resposta a isso, o movimento sionista, que pregava a fundação de um estado judaico na Terra Santa, ganhou força.
Em 1917, com o iminente colapso do Império Turco-Otomano, que ainda controlava a Palestina (ao menos no papel), os ingleses apoiaram a criação do país. Por duas décadas, árabes e judeus lutaram em banho-maria, com a intromissão das potências europeias, como sempre de olho na partilha dos territórios.
Aí veio o nazismo, que superou todos os antecessores em termos de maldade, e o apoio internacional à criação do país judaico cresceu ainda mais. O Estado de Israel surgiu em 1948 e, justamente por isso, outros projetos para a formação desse país acabaram esquecidos na gaveta empoeirada dos planos que nunca se concretizaram. Não havia só um plano de nação para os judeus, mas algumas dezenas. E havia movimentos territorialistas não-sionistas, ou seja, que não faziam questão de ocupar o território do antigo Reino de Israel, mas miravam o globo todo.
Um exemplo desses idealistas era Joseph Otmar Hefter, que publicou em Nova York, em 1938, o panfleto “Room for the Jews!”, que trazia um mapa, um manifesto (escrito acima) e um descritivo de possíveis novos países judaicos. Hefter era um defensor da Nai Juda (Nova Judeia), um estado soberano com tudo a que tem direito (bandeira, leis, hinos, idioma oficial etc.).
Dez desses projetos estão exibidos no panfleto de Hefter, como Madagascar, Uganda e Birobidzhan, na Rússia. Os representantes da América do Sul são um território que ocupa o sul e o oeste da Guiana e o sudeste da Venezuela, na fronteira com o Brasil. O outro fica aqui dentro do país mesmo, em Mato Grosso do Sul:
“Uma seção da região de Matto (sic) Grosso, ao norte do Rio Paraná, na fronteira com o Paraguai. Encravada, inexplorada, desconhecida, quase inabitada. Uma terra difícil de florestas, perigosa, mas habitável. Rica em recursos. Borracha, ouro, diamantes. Potencial império industrial. Poderia neutralizar grandes colônias japonesas e alemãs entrincheiradas na costa.”
Tudo isso é uma realidade paralela, um mundo em que a Segunda Guerra não existiu e nada do que veio depois foi o mesmo. A riqueza de recursos da região está lá, mas é representada hoje pelo minério de ferro, além da biodiversidade e do potencial turístico de nível global. A “indústria” está mais na soja e no gado. E o projeto que de fato saiu do papel não foi o judaico, mas o da Liga Sul-Mato-Grossense, que, pouco antes de Hefter, em 1934, iniciou os trabalhos rumo à separação de Mato Grosso, o que ocorreu em 1977.
O hipotético estado judaico em Mato Grosso do Sul fica ainda mais surreal quando sobreposto a outra realidade paralela, a das teorias conspiratórias. Há quem jure que ali pertinho, em Nossa Senhora do Livramento, 140 km acima da ainda inexistente divisa entre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, viveu até 1984 um simpático imigrante chamado Adolf Leipzig. Teria morrido em paz, com seu nome de nascença devidamente escondido: Adolf Hitler.