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Respostas para as perguntas que surgem entre a primeira e a última página e outras notas de rodapé sobre livros fundamentais – e outros nem tanto. Por Pâmela Carbonari
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Ler em telas interfere na compreensão de texto

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
7 fev 2018, 19h32

Você pode até ser um entusiasta do livro de papel, gostar do cheiro das páginas, da textura da capa, de escolher sua leitura pelas lombadas expostas na estante. Mas poucos argumentos pró-livros físicos conseguem rebater a praticidade dos tablets.

Traduzir palavras, buscar definições, salvar trechos e carregar centenas de livros com o peso pena de um só dispositivo foram alguns dos principais motivos que convenceram leitores, até então analógicos, a investir em livros digitais na última década – pasme, o primeiro Kindle completou 10 anos no final do ano passado. Em pouco tempo, falar sobre as vantagens e desvantagens dos livros digitais vai soar tão ultrapassado quanto conversar sobre ter ou não um telefone celular.

Mesmo assim, verdades absolutas são tão ou mais raras que almoços grátis. E, para questioná-las, é preciso entendê-las. Pensando nisso, um grupo de pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, investigou se ler em telas altera a forma como as pessoas interpretam artigos científicos.

Uma das primeiras lições que aprendi quando comecei a trabalhar na SUPER foi: interpretar um texto sobre ciência é completamente diferente de interpretar literatura ou jornalismo. Esses textos seguem uma estrutura própria e, na maioria das vezes, demandam um conhecimento prévio que nem sempre é exigido para entender o contexto de um romance ou de uma revista semanal, por exemplo.

E se bons romances são escritos para leitores que gostam de boa literatura, o mesmo acontece com os artigos: bons textos científicos são escritos para a comunidade acadêmica – cientistas, aspirantes a cientistas e, no máximo, divulgadores de ciência. Nessa de cada um com seu público alvo, as publicações científicas acabam restringindo seus leitores e pedindo muito mais atenção e capacidade de análise de quem se dispõe a encará-los.

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Por também acreditar que esse tipo de assunto requer mais esforço, a equipe da Pensilvânia pediu para que um grupo de 400 adultos que utilizam dispositivos eletrônicos de leitura periodicamente lessem oito artigos científicos, que cobriam desde temas como circuitos elétricos e GPs a astronomia e navios tanque. Em seguida, os participantes responderam a questionários sobre os assuntos que tinham lido. Além dos testes de interpretação dos artigos, os voluntários também descreveram seus hábitos de leitura e a frequência que costumam usar dispositivos eletrônicos (seja para ler, jogar videogames, trocar mensagens, ver vídeos na internet ou assistir TV).

Os pesquisadores perceberam que as notas no teste de interpretação dos artigos foram inversamente proporcionais ao tempo gasto por dia diante de uma tela: aqueles que passavam mais tempo offline tiveram um desempenho melhor do que os que usavam dispositivos eletrônicos com frequência.

Isso não quer dizer que você precise jogar seu smartphone no lixo, usar seu tablet como badeja de café ou se mudar para um sítio isolado sem luz elétrica. Mesmo os cientistas que desenvolveram esse estudo se manifestaram como partidários da tecnologia como uma poderosa ferramenta de ensino.

Uma das explicações para as notas baixas dos participantes mais conectados é que os dispositivos eletrônicos nos estimulam a fragmentar as informações e a buscá-las no texto de forma mais aleatória e não linha por linha. E esse tipo de leitura não funciona tão bem para materiais que demandam uma interpretação de conceitos desconhecidos ou pouco familiares como é o caso dos textos científicos.

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Olhe só: enquanto escrevo, tenho uma tela grande diante de mim, as frases têm poucas quebras de linhas e nenhuma palavra é hifenizada. Mas se você estiver lendo este post em um celular, as coisas mudam de figura. As frases que no computador pareciam ter um tamanho normal, serão comprimidas na palma da sua mão e vão formar parágrafos muito maiores na sua tela do que pareciam ser para mim. Isso vai ativar o seu modo de leitura CTR F. Quem escreve para internet sabe que grandes blocos de texto afugentam os leitores e, como isso é o oposto do que queremos, costumamos deixar a estrutura do texto mais fragmentada possível.

“Quando você está escrevendo um texto em um smartphone, por exemplo, você usa frases curtas e abrevia muito, então está fragmentado. Quando você lê um texto científico, você está recebendo informações básicas aqui e ali e nem sempre tenta conectar o material. Acho que essa pode ser a principal diferença, quando você está lendo textos científicos expositivos você precisa conectar e integrar a informação”, disse Ping Li, professor de psicologia e representante do Instituto de Cyber Ciência de Penn State, na divulgação do estudo.

Ping Li e seus colegas acreditam que os resultados dessa pesquisa serão úteis tanto para estudantes que precisam ler artigos científicos quanto para os próprios cientistas que querem tornar a publicação dos seus trabalhos mais acessíveis e gostosas de ler. O próximo passo da equipe é analisar como a leitura em diferentes plataformas eletrônicas afeta a compreensão dos leitores. “Minha hipótese é de que o Kindle terá resultados mais parecidos com os de um livro impresso que os de um iPhone ou iPad”, disse Ping Li.

Como jornalista que precisa ler vários artigos por dia e que passa mais da metade do tempo acordada com os olhos diante de uma tela luminosa, tenho que fazer uma confissão pouco ecológica: muitas vezes, a solução para entender uma teoria científica é imprimi-la e segurá-la na mão. Independentemente do resultado da nova pesquisa de Li, o mais importante é que possamos escolher como preferimos ter a ciência na ponta dos nossos dedos.

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