Como surgiu o “BBB – Paredão da Personalidade”, vencedor do Prêmio Abril 2011
por Felipe Van Deursen, editor da revista Superinteressante
Mês passado, a SUPER foi duplamente campeã nas categorias digitais do Prêmio Abril de Jornalismo, uma das mais tradicionais premiações do jornalismo brasileiro. O feito, junto com o prêmio que a revista ganhou na categoria “melhor infográfico”, fez da gente a segunda publicação mais premiada no ano, atrás somente de VEJA.
Um dos ganhadores foi o teste “BBB-Paredão da Personalidade”, que levou na categoria “uso de redes sociais”. O jogo marcou o site da SUPER na época por diversos motivos. Um dos mais importantes era: a gente falando de Big Brother? Mas pode isso? Pode.
No verão passado, o programa do Pedro Bial, como em quase todos os verões da última década, era assunto recorrente em mesa de bar, Twitter, fila da farmácia e sala de espera de consultório. Na redação da SUPER não era diferente. Alguns editores dedicavam boa parte de seu tempo no café da máquina discutindo a respeito do comportamento da então webcelebridade Tessália no programa, a redenção de Dourado, o bom-mocismo aguado (para uns) ou lindinhos (para outras) de Cadu. Sim, estávamos falando de um programa que muitos torcem o nariz para confessar que, se não assistem, pelo menos acompanham. Cá entre nós: é muito difícil estar em janeiro no Brasil e passar incólume pelo BBB. Conosco não é diferente.
Foi aí que pensamos em usar o jeito da SUPER enxergar o mundo para tratar o Big Brother. Com o aval do diretor de redação Sergio Gwercman, sugeri ao o resto da equipe do site a explorar o tema. Usamos um grande sucesso nosso de 2009, o Teste de Personalidade, como base para a mecânica. Ele havia sido feito a partir da Teoria dos Cinco Grandes Fatores, de Robert McCrae e Paul T. Costa, estudo que busca entender padrões de comportamento.
A partir de então, debruçamo-nos – com a essencial ajuda de fontes fanáticas por BBB (essas que assinam o pacote PPV todo ano) – sobre as biografias de todos os participantes de todas as edições do programa até então (incluindo a que estava rolando). Mais que a biografia, o que nos importava, de fato, era o “personagem” que cada pessoa encarnara no programa. Não nos interessava saber se, por exemplo, o “doutor Gê”, do BBB5, era um sujeito mal fora da casa. Mas, no programa, ele ficou com a fama de vilão. Era isso que valia, pois o objetivo do jogo era mostrar, com base nas suas respostas, com quem você se pareceria se participasse do Big Brother.
Assim, agrupamos os participantes mais notórios da história do programa em categorias opostas: equilibrado-explosivo, polêmico-agradável, relaxado-reservado, bagunceiro-consciente, liberal-conservador. Cada categoria tinha graus de intensidade. Por exemplo: do mais liberal (Priscila, do BBB9, que dava em cima dos homens e falava de sexo sem nenhuma vergonha) ao mais conservador (Íris, BBB7, que segurou a onda de Diego “Alemão” quase o programa inteiro).
“Todo mundo já se imaginou lá dentro. E ainda pensa ‘nossa, eu ia rodar na primeira semana, ia brigar com todo mundo’”. A gente bateu muito nessa tecla enquanto apurava e desenvolvia o newsgame (vai dizer que você não pensou isso também?). Então decidimos que precisávamos dizer quantas semanas as pessoas durariam de fato no programa. Uma brincadeira que exigiu horas de reunião e algumas discussões para se chegar à fórmula que diria os 15 participantes do programa com quem você se pareceria se estivesse lá dentro – e quantas semanas ia durar até ser eliminado pelo Bial.
Tá, mas 15? Quem se parece com tanta gente? Bem, primeiro que é um jogo, por mais que tenhamos nos baseado em teorias sérias e tivéssemos contado com a ajuda de uma psicóloga especialista em BBB para criá-lo, nunca tivemos a pretensão de fazer um teste psicológico – até porque isso não se faz pela internet, é preciso acompanhamento profissional.
E segundo porque a gente não é 100% parecido com alguém (afinal o nome disso é “idêntico”). Já reparou que quando está com a namorada você parece seu pai, quando tenta separar uma briga você age como um amigo de infância, quando vê uma injustiça você gesticula como seu avô e usa argumentos fortes como aquele antigo professor superlegal? Então, dependendo do tipo de situação, temos um padrão de comportamento. Essa era a ideia.
A melhor sacada, no entanto, veio bem no fim. Era tarde da noite, estávamos com prazo apertado, e então um trote deu a ideia que criou o viral. Um amigo nosso de outra redação da Abril ligou para todos os nossos ramais, usando uma voz robótica para nos chamar para conversar no RH. Ops. Passados o susto, a raiva e os risos quando descobrimos o autor da piada, a designer Fabiane Zambon sugeriu explorarmos o site da voz eletrônica para localizarmos uma configuração semelhante à voz usada pelo “Big Fone”, a voz que decidia o futuro de quem atendesse um telefonema específico no programa, e usá-la para apresentar o jogo a formadores de opinião na internet.
“Atenção. Preste muita atenção. Você foi indicado para o Paredão da Personalidade da Superinteressante. Acesse…” Assim, com a voz do “Big Fone”, nas últimas semanas do BBB10, ligamos para dezenas de jornalistas, publicitários, blogueiros, tuiteiros (teve até colírio da CAPRICHO no bolo), que abraçaram nossa ideia e viralizaram o jogo. O resultado foi um recorde de audiência no site da SUPER, o primeiro grande passo que nos levou a 1 milhão de visitantes únicos em 2010 – e ao Prêmio Abril de Jornalismo.
-Saiba também como começaram a ser produzidos os newsgames da Superinteressante