É possível ficar muito tempo dentro d’água até derreter?
Querido e sempre lido Oráculo: Quando ficamos muito tempo na água nossa pele começa a enrugar e tudo volta ao normal em alguns minutos após sair da água. Porém, o que acontece se ignorarmos isso e permanecermos na água, quanto tempo nossa pele aguenta submersa? Obrigada! Rita Braga, São Paulo, SP “OLAR” ATUALIZAÇÃO EM […]
Querido e sempre lido Oráculo: Quando ficamos muito tempo na água nossa pele começa a enrugar e tudo volta ao normal em alguns minutos após sair da água. Porém, o que acontece se ignorarmos isso e permanecermos na água, quanto tempo nossa pele aguenta submersa?
Obrigada!
Rita Braga, São Paulo, SP
“OLAR”
ATUALIZAÇÃO EM 02/10/14:
Vários leitores apontaram erros na resposta dada abaixo. Sim, a informação está ultrapassada. No passado, a hipótese mais aceita era a de que o enrugamento era resultado de interações osmóticas no estrato córneo da pele, ou seja, entre a última camada, feita de queratina, e a água. Até que dois estudos recentes desbancaram essa visão.
Uma é do Instituto de Neurociência da Universidade de Newcastle, no Reino Unido. O outro foi publicado no Brain, Behavior and Evolution Journal por cientistas do Instituto de Pesquisa 2AI Labs. Eles defendem que nossa pele enruga por conta da contração dos vasos sanguíneos, provocada por uma reação neurológica do sistema nervoso autônomo. “Sabe-se disso porque pessoas que têm lesões neurológicas não ficam com os dedos enrugados”, diz a dermatologista Valéria Campos, pós-graduada em Harvard e membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
A mudança na pele dos dedos seria, portanto, uma adaptação evolutiva. De acordo com as duas publicações, a pele enrugada facilita o manuseio e a retenção de objetos debaixo d’água – nossos dedos adquirem maior fricção quando submersos. Valéria observa que a evolução se deu porque nossos antepassados se instalaram pertos de rios e mares, em que a pesca era uma atividade constante: uma melhor aderência dos dedos embaixo d’água ajudaria o caçador a capturar um belo peixe.
Mark Chanzigi, diretor do 2AI Labs, compara a mudança evolutiva à diferença entre um pneu careca e um novo. O último tem mais dificuldade em derrapar em poças assim como nossos dedos imersos em água. Quanto ao tempo que suportamos debaixo d’água, Valéria afirma que não há limites do ponto de vista da pele. Ela é, sim, uma barreira poderosa. Mas fungos adoram umidade para se proliferar. Ou seja, depois de muito tempo embaixo d’água, o risco de você sair com uma micose no pé vai ser bem maior.
Oráculo também erra. Obrigado aos sempre fiéis discípulos que ajudam na empreitada. Conhecimento compartilhado é o melhor conhecimento.
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Querida e sempre respondida Rita, nossa pele ficaria tão murcha e fraca que nos tornaríamos extremamente vulneráveis à ação de agentes externos como fungos ou bactérias. Em vez de ficarmos hidratados debaixo da água, ocorre o contrário. Nossa pele fica escamada porque perde água para o meio, por conta da osmose. Esse processo físico-químico acontece porque nosso corpo tem uma maior concentração de elementos (a saber, sódio, potássio e cloro) do que a água do mar, por exemplo. Por isso, a pele desidrata e murcha.
A camada de gordura que envolve a cútis e serve como barreira é a primeira a ser afetada. “Quanto mais tempo ficarmos debaixo d’água, mais fina essa camada fica, porque a gordura se dissipa”, explica a dermatologista Jorgeth de Oliveira Carneiro da Motta, professora da Universidade de Brasília (UnB). Assim, a pele se torna mais ressecada e mais suscetível a feridas e inflamações. Quanto ao tempo de resistência que nossa pele aguenta, não há como precisar. “É uma questão de dias”, afirma a médica. Por via das dúvidas, não tente virar um peixe.
O site Mundo Gump fez uma deliciosa lista de melhores derretimentos do cinema. Gostoso para ver antes de almoçar.