Qual é a torcida mais criativa do Brasil?
Toda vez que vou ao estádio e ouço uma música nova, sinto orgulho do quanto nossa torcida é criativa. Mas aí logo depois vejo que outros times têm a mesma música, só mudam a letra! Não tem rivalidade nisso? Uma imita a outra e beleza? Ou existe uma torcida que realmente é mais criativa e […]
Toda vez que vou ao estádio e ouço uma música nova, sinto orgulho do quanto nossa torcida é criativa. Mas aí logo depois vejo que outros times têm a mesma música, só mudam a letra! Não tem rivalidade nisso? Uma imita a outra e beleza? Ou existe uma torcida que realmente é mais criativa e as outras vão atrás? Me ajude com todo seu carisma que tanto falta ao Caio Ribeiro e os comentaristas da Globo!
Nando Antunes (Jimmy Neutron), Brasília, DF
A LEI DE DEUS, A LEI DOS HOMENS E A LEI DE SEI LÁ MAIS QUEM
Sim, existe rivalidade. Você provavelmente não vai escutar a torcida do Palmeiras fazendo uma adaptação do “Aqui tem um bando de loucos”, do Corinthians, ou a torcida vascaína se inspirando no “Ó, meu Mengão, eu gosto de você”, do Flamengo.
Mas as adaptações acontecem. E muito. “Os torcedores do Flamengo adaptaram músicas do Corinthians (“Ôôô, vai pra cima deles, Timão”) e do Internacional (“Vai começar a festa…dá-lhe, dá-lhe, ô”), por sua vez adaptada de uma letra do grupo musical Mamonas Assassinas”, explica Bernardo Borges Buarque de Hollanda, professor da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas.
Para o pesquisador, a criatividade não está necessariamente em criar uma música do nada, mas no processo de adaptação e paródia. É aquela velha máxima do nada se cria, nada se perde, tudo se transforma, se copia, se compartilha. Geralmente, as torcidas pegam as letras e as melodias da TV, do rádio, da internet ou de algum outro meio – ou de outras torcidas. A partir daí, “a criatividade está em se apropriar da música do outro e mudar seu significado, usualmente por meio da ironia”, explica.
O professor lembra da melodia “Marcha da Vitória”, da Fórmula 1, que a torcida flamenguista levou para o Maracanã e foi alterada pelas demais torcidas cariocas em tom de zombaria. “Em sentido contrário, assim seria com o grito ‘silêncio na favela!’, que entre os flamenguistas virou ‘tem festa na favela!’”, ressalta.
Mas Hollanda aponta que cada época tem sua torcida mais criativa. “A do Atlético Mineiro, nos anos 70, criou o bordão “Gaaalôôô”, quando nenhuma torcida marcava continuadamente a primeira e a última sílaba, por exemplo”. Atualmente, as torcidas que merecem destaque na avaliação do pesquisador são a do Santa Cruz, de Pernambuco, e do Sampaio Correia, do Maranhão, ambos na série C do Campeonato Brasileiro. “Os estádios (dessas torcidas) ainda permitem públicos gigantes, embandeirados, fantasiados e multicoloridos”.
Mas nem precisa comentar aqui embaixo, torcedor. A gente sabe que a sua torcida é a mais criativa de todas… 😉
(imagem: Luciano Joaquim)