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Avião movido a lixo orgânico

Por Thays Prado
Atualizado em 19 ago 2024, 15h03 - Publicado em 23 fev 2010, 20h20

Ao mesmo tempo em que a aviação é um dos setores que mais cresce em emissões – entre 1990 e 2005 houve um aumento de 42% e o setor já é responsável por quase 5% do efeito estufa, o que representa um aumento de  0,03 ºC na temperatura global -, é, também, um dos que tem maior potencial para o uso de combustíveis alternativos. O que pode atrasar o avanço nesse quesito são as exigências técnicas e processos de certificação muito rigorosos para o uso de combustível em aeronaves. Por isso, o querosene (de aviação, que passa por etapa a mais de refino que o utilizado para uso doméstico) é o combustível padrão desse segmento.

Claro que só por ser querosene, ele não é nada sustentável. Mas o querosene de aviação tem uma pegada ainda maior: cada tonelada desse combustível, queimado no ar ou no chão, produz 3,16 toneladas de CO2! Dessa forma, a aviação consome 2% de todos os combustíveis fósseis queimados. Isso representa 12% do consumo de combustível de todo o setor de transporte.

Pensando nesse impacto, a companhia aérea British Airways resolveu construir, em 2014, a primeira fábrica europeia destinada a transformar o lixo em combustível. Com o projeto, cerca de meio milhão de toneladas de resíduos serão utilizados anualmente para gerar 72,8 mil metros cúbicos de combustível. Trata-se de uma ótima iniciativa, já que será possível reduzir o volume de metano – gás de efeito estufa mais potente que o dióxido de carbono. Outra boa iniciativa é da Boeing, que apresentou um avião de demonstração de dois lugares que pode voar abastecido com células de hidrogênio.

E não é só na Europa que há projetos de combustíveis alternativos para esse segmento. Em 2012, no Brasil, ainda sem uma data prevista, a companhia aérea Azul e a Embraer devem realizar o primeiro voo experimental – sem passageiros – com o uso de um querosene obtido da cana-de-açúcar. Se tudo der certo, o bioquerosene começará a ser produzido em escala industrial em 2013. E a Gol, juntamente com um grupo de pesquisa de biocombustível para aviões, o Sustainable Aviation Fuel Users Group*, pretende estudar alternativas para combustíveis a partir do pinhão, algas e babaçu.

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Esses esforços das companhias são todos louváveis, mas os pesquisadores – como não poderia deixar de ser – também apontam problemas. No caso do combustível oriundo do lixo orgânico, ele precisa ser aprovado pelo Reino Unido e isso depende de teste já que os biocombustíveis congelam a temperaturas mais altas que o querosene, o que pode gerar problemas em grandes altitudes. Já para o hidrogênio, um dos problemas seria o seu armazenamento (líquido) a bordo da aeronave, o que ocuparia um espaço bem maior do que o combustível convencional. Assim, os aviões precisariam de alterações mecânicas.

Mas, mesmo com todos esses entraves, ainda há motive para se animar com as inovações. O instituto de pesquisa ASTM International já aprovou o uso de 50% de combustível sintético na aviação comercial. A nova norma de especificações fornece critérios para a produção, distribuição e utilização de combustível de motores de turbina de aviação produzido a partir do carvão, gás natural ou biomassa.  É um estímulo ao uso de biocombustíveis no setor. Se tudo correr bem, a previsão é que, em 2030, os combustíveis sintéticos ocupem cerca de 30% dos combustíveis de aviação. 

Pelo visto, o setor de aviação está realmente empenhado em reduzir sua pegada ecológica e se tornar um negócio mais sustentável.  Nada mal para quem não quer deixar de viajar e se preocupa com o planeta e o futuro da humanidade. Só não pode acontecer de as tarifas aumentarem, não é?

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Sustainable Aviation Fuel Users Group*

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