Escrito nas estrelas
A ponta do dedo brilha. O menino, encantado, finalmente entende o seu novo amigo. As frases, roucas, soltas no espaço, revelam o desejo: “go home” (ir para casa, em tradução livre). O garoto, então, sobe em sua bicicleta, coloca seu amigo na garupa e pedala. No meio da noite, inesperadamente, os dois alçam vôo em uma noite de lua cheia.
Congela exatamente nesse ponto.
Se no clássico filme de Steven Spielberg, a magrela tomou os ares graças aos poderes extraterrestres de E.T., aqui no Brasil – mais precisamente em São Paulo – as coisas são um pouco mais práticas. Entre os prédios do Itaú Cultural e do Sesc, na Avenida Paulista, o artista plástico Eduardo Srur pendurou algumas bicicletas com cabos de aço. Lá, elas parecem voar.
Por que isso?
A idéia é questionar a mobilidade nas grandes cidades e a falta de espaço para atividades tão simples quanto pedalar. “O aspecto lúdico caminha junto com uma dose de ironia, pois apesar do encantamento inicial da obra, com as formas, cores e movimentos, existe uma certa provocação pela falta de espaço urbanístico para um lazer simples, necessário na cidade: andar de bicicleta. Então fica minha alternativa: bicicletas voadoras”, comenta Srur sobre sua instalação Bicicletas.
O artista é conhecido por suas intervenções urbanas, com as quais questiona a relação entre o homem e o ambiente em que vive. Em 2006, Srur instalou, no rio Pinheiros, 100 caiaques ocupados por 150 manequins de plástico. Foi o meio encontrado por ele para chamar a atenção dos milhões de paulistanos que trafegam pela Marginal e nem se importam com aquele rio sem vida. Com os caiaques “remando”, Srur trouxe aos olhos dos cidadãos uma imagem muito comum no passado, quando o afluente era utilizado como uma opção de lazer.
Se nem o rio e a terra podemos usar para o lazer, infelizmente, sobrou, então, o ar.