Jovens líderes em busca de soluções para os maiores desafios da humanidade
Desde ontem – e até domingo, 22/10 -, por iniciativa do Planeta Sustentável (que assina este blog), o jovem Lucas Rossi, 24 anos, repórter da revista Você S.A., da Editora Abril, acompanha a terceira edição do One Young World* (movimento criado pelos ingleses David Jones e Kate Robertson em 2009), em Pittsbugh, na Pensilvânia, EUA.
O encontro reúne 1.500 jovens líderes de 18 a 30 anos, de 196 países, para que debatam a respeito dos grandes desafios da humanidade, encontrar soluções e disseminá-las por meio de projetos próprios ou da implantação de novas ideias nas empresas onde trabalham. Para esse trabalho, contam com o suporte de adultos inspiradores como Bill Clinton, Bob Geldof, Joss Stone, Jamie Oliver, Jack Dorsey (Twitter), Jimmy Wales (Wikipedia) e o “banqueiros dos pobres” Muhammad Yunus.
Lucas é um dos 25 talentos selecionados para integrar a delegação brasileira e, nestes dias, vai postar fotos e pequenos relatos em nosso perfil no Instagram (planetasustentavel). Quando voltar, contará sua experiência em nosso site e também nas “Páginas do Planeta”, que serão publicadas em revistas parceiras do nosso movimento, incluindo a Superinteressante.
No texto a seguir, ele conta detalhes sobre os preparativos para a viagem e seu primeiro dia no One Young World.
COM BARREIRAS NÃO HÁ CRESCIMENTO
Assim que sentei na poltrona 32A do voo 0030, com destino a Newark, Nova Jérsei, cidade onde faria a ponte para a cidade onde o One Young World* irá acontecer – Pittsburgh, na Pensilvânia -, a senhora que me acompanharia pelas próximas dez horas de viagem perguntou, logo depois dos cumprimentos formais: “Você reparou como os comissários de bordo são mais velhos que o normal?”. Aquela não era sua primeira viagem para fora do Brasil. Ela vai, duas vezes por ano, aos Estados Unidos visitar uma filha que mora lá. Aquela, porém, era sua primeira viagem com uma companhia americana, onde é bastante comum ter comissários mais velhos a bordo. “Converso com minha filha todos os dias via Skype”, disse. “Mesmo assim faço questão de ir visitar meus três netos sempre que possível, senão eles não vão me conhecer”. As tecnologias, sem dúvida, aproximam as pessoas, mas nada substitui o contato pessoal.
Durante as duas últimas semanas, acompanhei alguns fóruns criados para discutir o que seria tratado no One Young World 2012. Alguns deles formais, que podiam ser acessados pelo próprio site do evento, e outros criados no Facebook. Acompanhei também a hashtag #oyw2012 no Twitter e no Instagram. É claro que essas experiências ajudam a entender o ambiente que encontrarei e dá sinais das discussões que acontecerão nos próximos dias. Mesmo assim, nada vale mais que o olho no olho, o tête-à-tête e a experiência de estar ali. É o mesmo que ver um quadro na tela ou ao vivo: a aura que envolve é o melhor tempero.
Este é o terceiro ano do One Young World (OYW), mas a primeira vez nos Estados Unidos. Em 2010, a cidade de Londres, Inglaterra, foi que recebeu o encontro. E, no ano seguinte, foi a vez de Zurique, Suíça. O OYW discute alguns temas importantes para o mundo, como liderança, a inclusão da mulher nas organizações, o valor da educação e o papel das empresas. Todos os mais de 1 500 participantes têm até 30 anos e vêm de 193 países. De alguma forma, esses jovens têm feito diferença em seus postos – seja dentro da empresa aonde trabalham ou em suas comunidades.
Na semana que antecedia o evento, alguns participantes começaram a escrever que não poderiam comparecer. O motivo: seus vistos de entrada nos Estados Unidos tinham sido negados. Alguns nepaleses e nigerianos, além de outros que provavelmente não chegaram a comentar, ficarão de fora. As tecnologias podem encurtar caminhos, mas as relações políticas continuam a afastar as pessoas. Ainda no Brasil, fui um dos selecionados para passar por um teste que verificaria se tinha ou não pólvora em meu corpo. A escolha de quem passa por este teste é aleatória, asseguram as autoridades. Na conexão para Pittsburgh o mesmo aconteceu. Em ambas as vezes fui liberado, afinal não havia nenhum vestígio de pólvora. A família indiana, logo atrás de mim na fila em Newark, teve suas bagagens de mão abertas pelo segurança, na frente de todo mundo. E assim vamos criando barreiras que nos impedem de ouvir e conhecer as pessoas como elas realmente são. Criamos conceitos para tudo. Isso nos cega, nos faz esquecer quem somos para acreditar piamente nesses conceitos. Mas, acima de tudo, somos seres humanos e convivemos em um mesmo mundo, ainda que com muitas fronteiras.
Eventos como o One Young World têm a clara e importante missão de discutir questões relevantes para o desenvolvimento do mundo. Mas também tem o papel de aproximar pessoas, derrubar barreiras, ultrapassar fronteiras. Infelizmente a senhora que sentou ao meu lado não irá ao OYW. Neste momento ela já deve estar com seus netos. Talvez ela tenha percebido que não importa a idade: é possível continuar trabalhando independentemente dela. Sem conceitos e com uma mente aberta, conseguimos chegar a lugares nunca antes explorados. E é justamente assim que começo este primeiro dia de OYW.
Foto: Raul Jr.