Não verás futuro algum
Há 25 anos, alguém escreveu que as cidades seriam superpovoadas – só São Paulo teria 60 milhões de habitantes -, o trânsito seria tão caótico que ficaria eternamente parado, a Terra ficaria muitos graus mais quente, a Amazônia se tornaria desértica e haveria escassez de água. Esse alguém é Ignácio de Loyola Brandão, que há um quarto de século praticamente previu um futuro não tão distante.
No seu livro “Não verás país nenhum”, Loyola narra a história do que aconteceria se as pessoas continuassem com seus modos insustentáveis. Estranhamente, o relato é muito similar ao que o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) anunciou no começo deste ano. As mudanças climáticas são, “muito provavelmente”, causadas pelo homem.
O autor, em uma crônica para o jornal O Estado de S. Paulo, explicou que “a literatura já tinha saído na frente da vida”. E é verdade. As mazelas que Loyola descreve, hoje, são muito mais reais para a população, já que são sensíveis essas “suposições” do escritor.
Mas, como diz Washington Novaes, jornalista especializado em meio ambiente, no prefácio do livro, “há quem diga que artistas são uma espécie de antena da raça. E são mesmo – por sua capacidade de antever, enxergar muito antes que os simples mortais, graças a sua sensibilidade aguda”.
E é graças a essa sensibilidade que a pergunta é reforçada: quantos avisos são necessários para que mudemos nossa conduta?