O surfe, as belas e os tóxicos
Surfistas são pessoas descoladas, coradas de sol, que se saúdam com “aloha” e estão sempre em contato com a natureza. Parece natureba, mas a fabricação da prancha não combina nem um pouco com esse estilo de vida: são gerados cerca de sete quilos de resíduos para cada brinquedinho. E, apesar da briga de alguns, os fabricantes ainda não deram sinais de que querem adotar selos ecológicos ou adotar uma gestão sustentável de recursos.
Esta é a opinião de Paulo Eduardo Antunes Grijó, surfista, engenheiro ambiental e coordenador do projeto Marbras et Mundi, que tem como proposta a diminuição e a reciclagem dos resíduos gerados na fabricação de pranchas. “É um problema cultural, acima de tudo. Os recursos são direcionados para baladas, competições, concursos de beleza e outras questões. A sustentabilidade não é prioritária, é um paradoxo”, diz.
Entre 50% e 70% do material consumido na produção das cerca de 50 mil pranchas feitas no país, anualmente, são descartados e, o pior, vão direto para o aterro comum sem receber nenhum tratamento.
“ É tóxico, inflamável e perfuro cortante. Isso é um veneno que afeta de maneira irreversível o lençol freático e o solo e diminui a vida útil do aterro”, explica. Além disso, Grijó estima que o prejuízo financeiro desse desperdício seja superior a US$ 7 milhões e de mais de 380 toneladas o volume de substâncias (nada saudáveis) encaminhadas para os lixões.
Com os restos de prancha dá para fazer placa de isolamento termo-acústico e blocos de concreto, por exemplo. Mas parece que ainda não é a onda. E dá-lhe Miss Biquíni!
*Foto: Marcelo Santana