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ENTREVISTA: “A Marcha da Maconha é pacífica”

Por Tarso Araujo
Atualizado em 3 set 2024, 10h19 - Publicado em 26 abr 2014, 18h42

A Marcha da Maconha de 2014 já se concentra no vão do Masp, na avenida Paulista. A caminhada começa por volta das 16h, rumo à praça Roosevelt. Neste ano, a organização do evento publicou uma carta aberta reforçando o caráter pacífico da manifestação. Leia neste post uma entrevista sobre o assunto, direto da concentração, com Marco Magri, um dos organizadores.

Marco, alguma expectativa especial para a marcha de hoje?

Que a gente consiga realizar a Marcha novamente. Temos dificuldade de debater drogas, violência, legalização e cannabis medicinal e ainda estamos num momento de consolidar a marcha como evento político. Esse ano vai servir para mais uma vez marcar isso no calendário. E para no ano que vem virmos mais fortes, de preferência com alguma conquista para comemorar.

O que acha que pode ser conquistado até o ano que vem?

Acho que a possibilidade de se importar medicamentos de maconha, como o CBD, agora que essa discussão sobre a cannabis medicinal desencadeada pelo filme Ilegal, que está mais forte hoje. E que com isso o debate possa se ampliar para outros aspectos da legalização da maconha, que são igualmente importantes.

Como vai funcionar o cordão de isolamento feito pela própria marcha?

A gente vai fazer um cordão assim como realizamos em outras edições da Marcha, mas de maneira mais organizada. É para garantir segurança das pessoas dentro da Marcha, garantir o fluxo da via, impedir que carros passem no meio e outras situações que podem ser conflituosas.

O cordão será formado por pessoas de braços dados ao longo da via da Marcha. É uma tentativa de ter mais liberdade de ir para às ruas com um numero menor de policiais. O número de policiais presentes em qualquer evento aqui no Brasil tem sido sempre desproporcional ao número de manifestando, comparado com o de qualquer país do mundo.

Acha que a polícia pode tomar a falta de aviso como provocação e vir de ânimos acirrados?

A Prefeitura foi avisada e isso já atende ao que a Constituição exige de uma manifestação, assim como atende a própria sentença do Supremo Tribunal Federal, que em 2011 garantiu a legitimidade da Marcha da Maconha. A gente poderia até avisar à polícia para pedir um destacamento de Polícia para garantir a segurança das pessoas na Marcha contra assaltos, por exemplo. Mas não achamos necessário. Até porque eles já vêm com uns dois mil homens. Esse número todo de policiais não vêm para prestar serviço, é muito mais uma demonstração de força e de autoridade. Eles estão prontos para terminar com a manifestação a qualquer momento. E é um absurdo tratar qualquer manifestação política de antemão como um crime em potencial.

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Por que este ano a organização da Marcha decidiu publicar uma carta sobre o caráter pacífico da manifestação?

A Carta Aberta reafirmou algo que sempre informamos quando nos relacionamos seja com a prefeitura ou qualquer outro interlocutor público. A Marcha é pacífica e todos os casos de violência que ocorreram, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Salvador, em Belo Horizonte, foram causados pela ação truculenta da Polícia (Militar e Civil). Este ano no momento em que estamos debatendo e os políticos votando leis que violam a liberdade de manifestação e de organização política, achamos importante reforçar este aspecto pacífico. Acreditamos que a decisão do STF que reafirmou a legitimidade da Marcha (em 2012) também reafirmou a legitimidade das manifestações em geral: sem censura ou violação de direitos, sem necessidade de autorização, confirmando a manifestação pública como um direito político.

Desde junho passado muitas manifestações têm sido infiltradas por black blocks, e isso acaba fazendo com que elas cheguem à mídia como atos de “vandalismo”. Essa conjuntura também foi importante para a decisão de publicar uma carta?

A conjuntura que determinou que escreveríamos esta Carta é o da violência  policial, uso de técnicas ilegais pela PM para acabar com manifestações, prisões também ilegais para averiguação e todo o rol de ferramentas que a Polícia e o Estado tem usado para tentar perseguir as manifestações.

A conjuntura da Marcha é a conjuntura do Brasil, onde a manifestação democrática é uma prática muito nova para o Estado e para a Polícia, sendo necessário educá-los em relação a função, objetivo e limites que estas instituições desempenham em relação às pessoas. É saudável que a Polícia aprenda que as manifestações políticas são exercícios de liberdade de expressão, outro conceito igualmente recente para estes.

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