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Os desafios enfrentados pelas mulheres em cinco países

Por Redação Super
Atualizado em 3 set 2024, 10h24 - Publicado em 8 mar 2014, 08h27

por Pedro Corrales*

*Esta reportagem faz parte de um especial produzido por alunos de Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo especialmente para a SUPER. 

Leia também:

– Reféns do medo: Histórias de mulheres vítimas de violência doméstica

– Histórias de mulheres empreendedoras que trabalham em prol de outras mulheres

 

Conversamos com cinco mulheres de cinco países diferentes – Arábia Saudita, Egito, Espanha, República Tcheca e Uganda – para descobrir qual o principal desafio enfrentado pelo gênero feminino em cada sociedade. Nenhuma das cinco se assumiu como feminista, mas, dentro de cada circunstância regional, todas se impõem ativamente de alguma maneira na sociedade e não aceitam as condições desvantajosas impostas às mulheres.

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Liberdades individuais x religião na Arábia Saudita

Aeshah Ali Awadh, 25 anos. Formada em Biologia, realiza trabalhos sociais no Hospital Geral de Jazan, sua cidade natal

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A Arábia Saudita, localizada no Oriente Médio, é uma monarquia absolutista teocrática regida pela doutrina islâmica. Leis ultraconservadoras baseadas no regime do Wahabismo exaltam a segregação de gêneros em espaços públicos de todo o território nacional.  Na cidade de Jazan, no sul do país, nasceu e vive até hoje Aeshah Ali Awadh, de 25 anos. Formada em Biologia pela universidade local, ela realiza trabalhos sociais no Hospital Geral da região. Durante a entrevista, Aeshah alterou declarações conservadoras vinda de uma criação marcada pelas tradições do Islã e argumentos de uma nova geração de mulheres árabes que surge no Oriente Médio em busca da igualdade de direitos.

Vestimenta

“Vestindo o Hijab (conjunto de vestimentas para mulheres muçulmanas) eu me sinto como uma rainha que não exibe a sua beleza para o público a não ser que seja para homens de sua família ou seu marido”.

Todas as mulheres do país são obrigadas a vestir o Hijab quando não estão em casa. O pano que cobre quase toda a cabeça representa o código de vestimenta muçulmano baseado na intenção de preservar a dignidade das mulheres e impedir que elas sejam desejadas ou possuídas por estranhos. Na perspectiva estrangeira, o véu é visto como uma ferramenta para isolar e silenciar as mulheres. Já Aeshah parece enxergar isso como algo mais romântico.

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“Existem algumas mulheres muçulmanas em diferentes países árabes que não concordam com usar o véu, mas, isso é problema delas com o nosso Deus. Eu não digo que elas estejam certas ou erradas, mas o Islã é muito claro com elas”.

O véu pode ter diferentes graus de conservadorismo. No Afeganistão e no Paquistão, por exemplo, são usadas as conhecidas burcas. A foto acima foi tirada durante a viagem de Aeshah ao Canadá e, por isso, ela veste um Hijab menos conservador, apenas como um cachecol enrolado na cabeça. Quando viajam, a utilização da vestimenta completa é opcional para as sauditas. Caso estivesse em seu país, ela estaria vestindo o véu de tecido preto tradicional. Atualmente, além da Arábia Saudita, a vestimenta é obrigatória somente no Irã e na província de Achém, na Indonésia.

Direito a dirigir

“Para que as mulheres pudessem começar a dirigir e houvesse uma aceitação, eu acho que toda a sociedade saudita precisaria ter mais cultura e ser mais educada. Sem poder dirigir, a locomoção e a vida das mulheres se torna bem mais difícil”.

Outra questão bastante polêmica no país e no cenário internacional é a lei que impede as mulheres sauditas de possuírem uma carteira de motorista. Ainda hoje, a Arábia Saudita permanece como o único país do mundo em que não é permitido que mulheres dirijam. Além disso, segue como uma das poucas nações que não aceitam a Declaração Internacional dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). No dia 26 de outubro de 2011, quinze sauditas foram às ruas dirigindo para reivindicar o direito de conduzir no país. Condenadas e presas, foram liberadas apenas dias depois sob pagamento de fiança.

Esperança

“Agora, o governo saudita está realmente preocupado com o direito das mulheres. Eu acho que, passo a passo, nós iremos conseguir cada vez mais direitos iguais aos homens. Mas eu me sinto muito sortuda por ser saudita e ser muçulmana”.

Apesar da vida com restrições e desigualdade, Aeshah Ali Awadh é otimista e vê um futuro mais igualitário entre homens e mulheres. O rei Abdullah, líder do Reino da Arábia Saudita, já realizou ações que reduziram a segregação de gêneros no país. A mais importante delas foi o anúncio de que, a partir de 2015, as sauditas poderão se candidatar e votar nas eleições locais para o conselho que supervisiona o poder legislativo das regiões. A preocupação do líder local com o direito das mulheres, contrariando os extremistas religiosos locais, já é um bom sinal para o avanço dos direitos humanos na região.

 

O terror da mutilação genital feminina em Uganda

May Ndahura, 25 anos, nascida em Nakuru, no Quênia. Trabalha com marketing digital em Kampala, Uganda.

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Outro cenário crítico que parece se acertar com o tempo está presente nos dois países de May Ndahura: nascida no Quênia, vive em Uganda desde criança e se considera ugandesa. Aos 25 anos, formada em Engenharia Civil na capital Kampala, ela fala sobre uma prática de crueldade absurda que afeta as mulheres onde vive: a mutilação genital.

“O grande problema de direito das mulheres aqui é a tradição extremista da mutilação genital feminina que ainda acontece em algumas áreas do país. Algumas organizações internacionais vieram para ajudar e já mudaram bastante o panorama local”.

Teoricamente justificado por crenças religiosas, a mutilação genital feminina ocorre em 29 países do Oriente Médio e na África. Segundo uma estimativa da ONU, mais de 125 milhões meninas e mulheres já sofreram da prática nesses países. Uganda e Quênia, os dois países de May, decidiram recentemente adotar leis para exterminar a prática de uma vez por todas.

 

O direito ao aborto na Espanha

Clara de Partearroyo, 43 anos. Professora de espanhol para estrangeiros no Colégio Delibes em Salamanca, Espanha.     

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Aos 43 anos, a espanhola Clara de Partearroyo é professora de espanhol para estrangeiros na cidade de Salamanca, onde nasceu e mora até hoje. Solteira e sem filhos, admite sentir certa pressão da sociedade para casar, mas não se incomoda com isso. Para ela, o que realmente incomoda as mulheres espanholas no momento é a questão do aborto.

 “A lei me parece muito restritiva e espero que ampliem. Antes era muito livre e agora é muito restrito, acho que precisam achar um meio-termo. O problema na verdade é a educação sexual”.

Na Espanha, até o ano passado, o aborto era legalizado e realizado de forma segura para que não se pusesse em risco a vida de qualquer mulher que demonstrasse vontade de interromper sua gravidez. Em 2013, foi aprovado o anteprojeto de lei que cria restrições para que o aborto seja permitido e ocorra legalmente em apenas dois casos: ou por conta de um possível risco à vida da grávida ou em casos de estupro com a denúncia previamente efetuada. Menores de idade também precisam apresentar o consentimento dos pais.

“Muitos falam que abortar é um direito. Para mim não é um direito. Direito é uma coisa que seja boa para todos como a igualdade, a vida e a justiça. O aborto é um privilégio/benefício do estado de bem-estar social”.

Tanto na Espanha quanto no Brasil, a discussão da legalidade do aborto esbarra em questões religiosas e em discussões sobre quando de fato começa a vida do bebê. Do outro lado estão a autonomia, a liberdade de escolha da própria grávida com o seu corpo e os procedimentos perigosos a que mulheres e meninas são submetidas quando procuram meios clandestinos para abortar.

 

A desigualdade no mercado de trabalho no Egito

Nadine Hamdy, 20 anos. Estudante de Farmácia na Universidade Alemã de Cairo, Egito.

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Nascida no Canadá e de família egípcia, Nadine Hamdy, de 20 anos, vive no Cairo, capital egípcia, onde estuda Farmácia. Segundo estudo realizado pela Fundação Thompson-Reuters, o Egito é o pior país do mundo árabe para ser mulher. Um recente relatório da ONU diz que 99,3% das mulheres do país estão expostas ao assédio sexual. Além disso, números de tráfico de mulheres e leis discriminatórias contribuíram para a sua colocação no topo dessa lista.

“No Canadá eu nunca havia sofrido preconceito por ser mulher, mas quando me mudei para o Egito notei claramente a diferença. Aqui é muito comum que as mulheres se sintam em desigualdade em todas as esferas da sociedade. Até no mercado de trabalho, muitas empresas aceitam profissionais femininas para as vagas, mas nunca deixam que elas subam de posição.”

 

O desafio da independência financeira na República Tcheca

Lucy Machová, 21 anos, é da República Tcheca e estuda Turismo na capital, Praga.

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Lucy nasceu em Pilsen, na República Tcheca, e hoje estuda Turismo na capital. Desde criança possui o desejo de ser completamente independente e bem-sucedida profissionalmente.

“Eu jamais quero depender de algum homem financeiramente. Mesmo que seja meu parceiro, quero poder fazer o que quiser por mim mesma. Sonho em construir uma família e ter filhos, mas preciso pensar nos meus estudos e na minha carreira profissional antes”.

Lucy é ambiciosa, mas não é otimista em relação ao futuro da igualdade de gêneros no trabalho. Por enquanto, parece ter toda a razão. Segundo dados do Eurostat, a média de diferença salarial entre gêneros na União Europeia é de 16,4% a mais para os homens. No Brasil, pelos números da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) divulgados no fim do ano passado, a diferença é ainda maior, com média de 27,1%.

 

Foto: arquivo pessoal

 

 

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