3 teorias e análises sobre Lost (e seu fim) por quem entende da série
22 de setembro de 2004 entrou para a história da cultura (pop, principalmente). É a data de exibição do primeiro episódio de Lost (e também da queda do voo da Oceanic Airlines). Neste domingo, 23 de maio de 2010, às 20h, Lost chega ao final (no Brasil, o canal pago AXN exibe, na terça, 25, o episódio final) . “The End”, episódio que encerra essa viagem será exibido nos EUA e muitos mistérios serão revelados nas 2 horas e 30 minutos do capítulo especial. Reunimos 3 opiniões sobre o fim de Lost (com teorias e especulações) produzidos por pessoas que entendem da série. E você, já escreveu seu final para Lost? A ideia mais criativa de final será publicada na próxima edição da Superinteressante.
Visite o nosso especial de Lost aqui.
Lost por Alexandre Versignassi
Tá meio frustrado com esse final? Ainda bem. Estranho seria se não estivesse. Só tem uma coisa: isso é mérito do Lost. Nunca um produto da cultura pop (ou da não-pop) atiçou tanto a imaginação de tanta gente. Tudo bem que exista uma quantidade surpreendente de donos de sabres de luz ou de pessoas fluentes em Klingon por aí (eu conheço um cara que fala Klingon e a língua dos elfos do Senhor dos Anéis, além de grego clássico, mas não posso dizer quem é). Só que beleza: são coisas de nicho. E nicho tem pra tudo. Lost é diferente. É para a massa. Dá para puxar conversa no metrô sobre o que está acontecendo na ilha. Alguém vai ter uma teoria.
E esse é o ponto. Se cada um tivesse a sua teoria e ficasse em casa com ela não haveria tanta frustração com os últimos episódios. O problema é que a troca global de teorias, principalmente via Lostpedia, criou algo inédito: uma seleção natural de teses em que só as melhores sobreviveram. Darwin puro: as ideias mais redondas se juntaram com outras tão boas quanto e deixaram descendentes ainda mais brilhantes. Tão bem-adaptados ao ambiente da série que, em alguns casos, a teoria chegou a superar a prática (a história que estava na cabeça dos roteiristas).
A minha favorita dizia que o Jacob era um Aaron do futuro, que teria voltado ao passado mais remoto da ilha e começado a parada toda. O Homem de Preto? Fácil: era o Aaron da realidade alternativa. O bebê ainda não tinha nascido no universo paralelo e, como todo mundo teve uma vida pregressa ao vôo 815 um pouquinho diferente (Jack teve um filho, por exemplo, provavelmente com a Juliet), o pai da criança seria outro. E o Aaron nasceria moreno. Seria um Jacob Bizarro… O Homem de Preto, enfim. E um não poderia matar o outro porque, poxa, eles seriam a mesma pessoa.
Aí veio o episódio da semana passada, o Across the Sea, e matou a teoria que eu gostava. Tive de me contentar como o fato de que eles não são filhos da Claire, mas de uma romana xis, e que não podem matar um ao outro por causa de uma porcaria de um passe de mágica. Pô…
Mas ok. Importa mais saber que o desfecho não é um Frankenstein roteirístico criado a partir do que os fãs acham. Está claro que pelo menos a essência do que imaginam pro fim já estava na cabeça dos caras. Olha aqui que você vai ver. Nesta cena do 1º episódio da 1ª temporada fica óbvio que o personagem ali jogando gamão com o Walt não é o Locke, mas o Homem de Preto mesmo. Foi o que o Emiliano Urbim, que também edita a Super, percebeu. Os produtores tinham medo de a série ser cancelada depois de 12 episódios. Então era natural que já pusessem o irmão do Jacob no corpo do Locke de uma vez. Até por isso tinha aquele mistério de o John ser um paralítico que voltou a andar. Voltou a andar porque quem estava no controle do corpo dele era a entidade. Mais para o final da temporada, com contrato renovado com a ABC e tudo ok para produzir mais dezenas de episódios, a coisa muda de figura. Terry O´Quinn, o ator que faz o Locke, muda o jeito de interpretar seu personagem. O Locke da ilha vira um homem frágil, igual o dos flashbacks. Perde o olhar de onisciência que fazia nas primeiras cenas. E o Homem de Preto só toma mesmo o corpo do Locke lááá na frente, na 5ª temporada.
Bom, os produtores nunca disseram isso. Nem desdisseram, porque ninguém perguntou. É só uma teoria. Mas isso é o que interessa no Lost: ele bota as nossas cabeças para funcionar o tempo todo, não só enquanto um episódio está passando. Teorizar o passado e no futuro da trama é tão bom quanto assistir capítulo novo. Até melhor, às vezes. Pena que, em questão de horas, isso vai acabar
*Alexandre Versignassi é editor da Superinteressante.
Lost por Fabio Hofnik
Lost foi um marco histórico na TV em todos os sentidos. Foi a experiência mais completa de crossmedia até os dias de hoje. A utilização dos ARGs, os jogos que intruduzem ao jogador o universo e o coloca dentro da história, aproximou o público de Lost criando um vínculo único. A série surgiu no único momento que poderia ter surgido, em uma época que a internet estava conhecendo o conceito de 2.0 que combina totalmente com a série e foi justo nisso que os criadores se apoiaram.
A integração dos produtores com o público no início da primeira temporada foi a chave para o boom. Claro que a pesquisa na época de pré-produção da série também foi importante, sempre.
Essa conexão que ficou tão clara ao longos dos seis anos da série no ar no mundo todo, é claramente vista em cada episódio. Devido aos vários níveis de entendimento da série, o público é bem diverso. Há aqueles que gostaram do romance e das traições, ou aqueles que assistiram pela ação e mistério. Ainda há os que curtiram as conspirações e teorias malucas. Todos os motivos para gostar de Lost estão corretos e se equilibram. A grande coisa aqui é que o público cresceu com Lost.
*Fabio Hofnik é um dos organizadores do Dharma Day, evento organizado pelos fãs para discutir sobre a série.
Lost por Davi Garcia
É o fim! Lost, a obsessão de milhões ao redor do mundo ao longo dos últimos seis anos chega a seu derradeiro ato. E goste-se ou não dos rumos que a série tomou, a certeza de todos que a acompanharam deve ser uma só: algo realmente muito especial está se encerrando na história da televisão. Produtores, roteiristas e elenco tem plena consciência disso e mais um monte de gente mundo afora (incluindo os críticos mais ferrenhos) também.
Ousando ser diferente na fórmula e no conteúdo, Lost surgiu como um sopro de originalidade em meio ao ócio criativo que dominava a tv aberta. A união que a série propôs de ação em larga escala num cenário belíssimo, porém incomum, com ciência (ou pseudociência), mitologia e sobretudo discussões sobre a natureza humana, instantaneamente provocou uma rara aclamação tanto de crítica quanto de público.
Ao longo desses seis anos, fomos todos espectadores e personagens, já que em maior ou menor escala, nos enxergávamos em Jack, Sawyer, Locke e cia repercutindo do lado de cá da tela as discussões que ganhavam corpo na série. ‘The End’, episódio final da série vem cercado de expectativas. O que vai acontecer na ilha? O homem de preto/monstro sob a forma do Locke vai enfim provar que não há nada a se proteger ali e destruirá o lugar como pretende? E a tal da realidade paralela, como e quando surgiu e que ligação tem com aquela da ilha e com as efetivas resoluções das histórias daqueles personagens? Com 100 minutos de duração, são essas as maiores perguntas que o derradeiro episódio de Lost tende a responder. E se é lugar comum dizer que tudo pode acontecer, faço uma aposta particular bem simples do que poderemos ver.
Na ilha, o homem de preto vai tentar usar Desmond (que é imune ao eletromagnetismo) para anular seu núcleo (a fonte de luz) contando que isso por si só provoque a destruição da ilha. Contudo, com Jack agora na posição de novo protetor, o homem de preto/monstro terá um oponente capaz de impedí-lo fisicamente de concluir seu plano salvando Desmond. Este no entando, ciente de seu papel, dirá a Jack que ele precisa se sacrificar em prol de todos candidatando-se a levar o monstro consigo para dentro do coração da ilha. Uma vez lá dentro, um distúrbio eletromagnético desencadeará um novo e breve salto da ilha para o passado pouco depois da detonação da bomba que Juliet provocou. Daí em diante, veremos o lugar entrando em colapso (indo parar no fundo do mar) ao mesmo tempo em que as duas realidades vão se fundir fazendo com que os personagens na paralela adquiriam enfim plena consciência de tudo o que viveram.
Se vai ser algo minimamente parecido com isso aí eu não faço ideia, mas se uma certeza me cabe à essa altura é a de que independente do destino final, a jornada por si só já valeu muito à pena.
*Davi Garcia é um lostmaníaco inveterado e responsável por um dos blogs brasileiros mais lidos, o “Dude, we are lost”.