Destaques de 2011 da SUPER: As 10 melhores séries do ano
Por Marcel Nadale, editor da Mundo Estranho
COLABORAÇÃO PARA A SUPERINTERESSANTE
10. New Girl e 2 Broke Girls (1ª temporada)
Uma tendência estabelecida neste finzinho de ano foi a volta da sitcom. O formato, praticamente considerado carta fora do baralho pelas produtoras e pelos canais há uns cinco anos, ressurgiu com sangue novo, apoio da crítica e carinho do público. E, sob essa tendência, há outra, subjacente: a descoberta de que mulheres, podem sim ser engraçadas e atrair grandes audiências. Estes dois shows se deram bem ao apostar em atrizes queridas do cenário indie: Zooey Deschanel (500 Dias com Ela) e Kat Dennings (Uma Noite de Amor e Música), respectivamente. Ambas são carismáticas, tem um excelente timing e estão bem escoradas por roteiros que, apesar de apelarem para alguns estereótipos, são genuinamente engraçados.
9. True Blood (4ª temporada)
A divertida série segue na lista pelos mesmos motivos do ano passado: ela é como uma daquelas barras nutricionais que promete uma “refeição completa e balanceada”. Em nenhuma outra atração há doses tão fartas de suspense, humor, terror, ação, drama, romance e sensualidade. A chegada da bruxa Marnie ofereceu aos roteiristas (e aos fãs) uma boa vilã, mais tradicional, permitindo deixar de lado as intrigas da política vampírica que a série ainda não sabe desenvolver tão bem. Entretanto, ao contrário do que o criador Alan Ball afirmou recentemente, não vejo uma longa vida para True Blood. Seria bom ele começar a botar a casa em ordem para fechar as aventuras de Sookie com uma espetacular sexta, no máximo sétima temporada. A última coisa que um seriado sobre vampiros e lobisomens merece é virar um morto-vivo.
8. Parks & Recreation (3ª e 4ª temporadas)
Com 30 Rock aproximando-se de sua sexta temporada (e do inevitável declínio, e da crise criativa, e das polêmicas nos bastidores sobre atores saindo/querendo sair do show), todos os olhos se voltam à melhor sucessora de Liz Lemon: a impagável Leslie Knope, que comanda uma trupe de idiotas no departamento de parque e recreação em uma cidadezinha no interior de Indiana. Com um humor simultaneamente sofisticado e acessível, Parks and Recreation é, regularmente, o programa mais engraçado da TV – e o mais subestimado também, infelizmente. Dificil achar mais alguém que o descobriu, escondido na madrugada de sábado do Sony (o que há de errado com esses canais?)
7. American Horror Story (1ª temporada)
O produtor Ryan Murphy tem dois talentos. O primeiro é pescar uma espécie de zeitgeist latente no público americano. O segundo é explorar esse zeitgeist exageradamente até se fazer parecer muito mais genial do que ele realmente é. Com o atual triunfo da TV de gênero (em oposição ao declínio do cinema de gênero), o horror era um dos caminhos mais óbvios. Ainda assim, American Horror Story inova no ritmo narrativo, por não propor a tradicional alternação de suspenses e sustos, e sim uma perene sensação de… desconforto. Nesse sentido, a atual atração das terças-feiras do canal Fox até lembra medalhões como Além da Imaginação.
6. The Killing (1ª temporada)
Outro filhote da TV de gênero, disposto a reeducar o público sobre como uma investigação policial de fato é solucionada. Surpresa: não é com um mentalista, um médium, uma amostra de DNA marota ou uma epifania tech aos exatos 35 minutos do episódio. É com muita pesquisa, interrogatório, burocracia, e erros muito mais do que acertos. Em alguns casos (como no desta série, sobre o assassinato de uma adolescente, investigado ao longo de 13 episódios), nem tudo isso basta. Essa inconclusividade pode até ter irritado os fãs, mas só torna o show ainda mais genuíno e ousado. Coloca, contudo, um enorme peso sobre a próxima temporada. A conferir. Em tempo: uma pena que a série tenha sido enterrada no Brasil no canal A&E, com uma dublagem asquerosa.
5. Downtown Abbey (1ª e 2ª temporadas)
Esta produção da BBC papou vários prêmios do Emmy reservados para minisséries. Mas ganhou uma segunda temporada agora em setembro, podendo, portanto, ser classificada como “série” (What’s in a name?, diria o bardo). A trama acompanha os empregados de uma milionária família aristocrata, pouco antes de explodir a Primeira Guerra Mundial. Se um romance calcado na luta (silenciosa) de classes – o subgênero dramático britânico por excelência – não for o suficiente para satisfazer seu desejo pela tradicional fleuma inglesa, seis palavras extras: dame Maggie Smith está no elenco.
4. Homeland (1ª temporada)
A temporada de estreias nos EUA não foi particularmente surpreendente este ano. Entre os poucos shows que se destacam está este, com legítima inteligência. No universo dos anti-heróis, propõe um jogo de espelhos: os dois protagonistas também são antagonistas. A competente Claire Danes interpreta Carrie Mathison, uma analista da CIA que está certa de que um recém-resgatado prisioneiro da guerra no Iraque, vivido por Damian Lewis, se tornou um terrorista secreto. Ela parece empenhada, trabalhadora, patriótica – mas é também instável emocionalmente, paranoica e infeliz. Ele é um autêntico herói de guerra – mas também tem uma lista de comportamentos suspeitos. Paira a pergunta: é possível, no contexto de um conflito armado (ainda mais em um tão hipócrita como a chamada “guerra ao terror”), ambos os lados estarem certos? Ou ainda: ambos errados? O potencial é imenso e os capítulos têm sido bons.
3. Mad Men (4ª temporada)
É até apropriado que uma série sobre um homem que recriou a si mesmo, trabalhando numa área em que a reinvenção é tudo, tenha atingido seu ápice exatamente quando propôs uma grande alteração no status quo. No final da temporada anterior, a agência de Don Draper (Jon Hamm) se tornou independente e teve que ser reconstruída do zero. Além disso, o publicitário enfim levou um pé na bunda de sua esposa (January Jones) e se descobriu mais “solitário” do que “solteiro”. O que se seguiram foram 13 episódios de profunda (às vezes, irritantemente lenta) análise de personagem. O show gradativamente se afasta dos truques motivados pela ambientação vintage e cada vez mais se sustenta nos laços entre seus personagens, que ganham (ou perdem?) mais e mais camadas. Uma pena que disputas contratuais nos bastidores tenham atrasado a produção da próxima temporada.
2. Game of Thrones (1ª temporada)
Por muito tempo, a HBO assistiu os canais rivais americanos Showtime, FX e AMC tentarem invadir seu quintal. Agora, todos investem em séries sofisticadas, para um público de nicho. Como se destacar? Com um projeto ainda mais “diferenciado”: uma irretocável adaptação da épica série de fantasia medieval de George R. R. Martin – uma mistura de Roma, O Senhor dos Anéis e O Poderoso Chefão. A chocante morte do herói Eddard Stark, que sequer aconteceu no último episódio da temporada, relembrou o fim emblemático de outro personagem da casa: o de Christopher Moltisanti no início (e não em um “climático” final) de um episódio de Família Soprano. Não foi um recado apenas para os rivais do tirânico Joffrey Baratheon, mas aos concorrentes do canal: a HBO continua pronta para executar o que ninguém mais tem os culhões (ou a grana) para fazer.
1. Breaking Bad (4ª temporada)
Desde que Tony Soprano inaugurou o império do anti-herói, seus clones se multiplicaram pela TV – mas sempre como figuras prontas, tautológicas, mutáveis apenas no estrito sentido de que poderiam ser recuperadas. Ninguém ousou mostrar o contrário: a queda de um cidadão de bem rumo ao crime e à canalhice, sem ressalvas. E, mesmo que tentassem, ninguém faria isso tão bem quanto Breaking Bad – disparada, a melhor série da atualidade. O roteiro e as atuações de todo o elenco são impecáveis. Walter, o ex-professor de química que virou traficante por necessidade e, aos poucos, perdeu sua alma, e Jesse, seu ajudante loser, mas com resquícios de um bom coração, viraram forças contrárias e equivalentes. Espelhos distorcidos um do outro. Ficamos perplexos diante da desgraça irrevogável de um, mas torcemos para que o outro se safe.