O melhor do ano: 10 melhores livros de 2012
Por Karin Hueck, editora da SUPERINTERESSANTE
Carcereiros
O dia de Drauzio Varella tem 102 horas: ele é médico oncologista, trabalha em clínicas particulares e hospitais, apresenta um programa no Fantástico, escreve livros premiados (ganhou o Jabuti em 2000, por exemplo), busca novos remédios contra o câncer em plantas amazônicas, clinica em presídios e ainda arranja tempo para ir ao bar com os amigos que fez nas prisões, os carcereiros. Foi dessa última experiência que nasceu seu novo livro (que também se chama Carcereiros). A obra são as histórias de quem passa a vida dentro das cadeias sem ter cometido crime algum – o que não quer dizer que os relatos não sejam cheios de rebeliões, corrupção e acertos de contas. Você vai terminar o livro com uma certeza: o sistema carcerário brasileiro faliu.
Carcereiros, Drauzio Varella, Companhia das Letras, 232 páginas, R$ 33
O Povo Pequeno está vigiando você
Aomame é uma jovem assassina de aluguel especializada em matar homens que batem em mulheres. Tengo é um professor de matemática que sonha em escrever um romance de sucesso. Sem saber, eles são sugados para um mundo onde nada mais é o que parece: duas luas iluminam o céu, uma grande organização religiosa começa a controlar suas vidas e um misterioso Povo Pequeno aparece em todo lugar. Este livro (uma trilogia, os outros dois ainda serão lançados no Brasil) foi inspirado no clássico 1984 de George Orwell e virou best-seller mundial imediatamente. Leia e decida se o Povo Pequeno do japonês Murakami é tão assustador quanto o Grande Irmão de Orwell.
1Q84 (Livro 1), Haruki Murakami, Alfaguara, 432 páginas, R$ 50.
Uma história sem graça
“Jamais tantos brasileiros morreram em tão pouco tempo e no mesmo lugar como naquele domingo em Niterói.” Dessa forma, o jornalista Mauro Ventura descreve o incêndio do Gran Circo Norte-Americano que pegou fogo em dezembro de 1961. A lona, de material sintético, ficou em chamas e pedaços de tecido começaram a cair sobre a plateia que se atropelava para chegar às duas saídas acessíveis. Em menos de 10 minutos, mais de 500 pessoas morreram – a maioria delas crianças. Mas as implicações da tragédia e as histórias pessoais dos envolvidos foram muito maiores do que se imagina: envolveram políticos, artistas e até o Papa.
O Espetáculo Mais Triste da Terra, Mauro Ventura, Companhia das Letras, 320 páginas, R$ 46.
O câncer na sociedade
Neste livro, o oncologista Siddhartha Mukherjee vem com a inusitada ideia de fazer uma biografia do câncer. Para isso, investiga a doença desde seus primeiros registros em papiros egípcios de 2.500 a.C. com a precisão de um cientista e a sensibilidade de alguém que lida com vítimas desse mal há anos. Aqui, o inimigo pode assumir diversas formas – mas ironicamente todas têm origem no descontrole de um mecanismo essencial para a vida: o crescimento celular. A dificuldade em vencê-lo vem de outra ironia sinistra: com uma capacidade maior de se adaptar, as células cancerosas são uma versão mais perfeita e resistente de nós mesmos.
O imperador de todos os males, Siddhartha Mukherjee, Companhia das Letras, 640 páginas, R$54
Retrato do artista quando jovem
Vincent Van Gogh cresceu em uma família muito rígida, muito unida e muito opressiva em uma pequena cidade no sul da Holanda. Desde cedo, o primogênito foi reconhecido como ovelha negra e enviado para estudar em internatos – a mãe não simpatizava com o jeitão de artista. Por isso, quando estava em casa, Vincent gostava de dar longos passeios sozinhos no mato para fugir da loucura familiar. E foi justamente nessas voltas que ele primeiro reparou nas cores, na luz e na força da natureza que, anos depois, transformaria em alguns dos quadros mais famosos do mundo. Cada aspecto da vida do pintor foi destrinchado à exaustão nesta biografia que defende, quase sem deixar dúvidas, que Van Gogh não cometeu suicídio, mas foi assassinado por um conhecido. Quer saber por que? É só ler as 1128 páginas.
Van Gogh – a vida, Steven Naifeh e Gregory White Smith, Companhia das Letras, 1128 páginas, R$ 79,50.
Onde estou com a cabeça?
“Eu costumava mergulhar em um livro ou artigo extenso. Agora, raramente isso acontece. Minha concentração começa a se extraviar depois de uma ou duas páginas. A leitura profunda tornou-se uma batalha.” O drama do autor parece familiar? Neste livro, o jornalista Nicholas Carr conseguiu vencer os obstáculos que sua curta concentração lhe impôs para reunir evidências e defender sua tese de que isso é tudo culpa da internet. Google, redes sociais, blogs e afins estariam readaptando nosso cérebro e mudando a forma como pensamos e processamos as informações. Será o fim da concentração?
O que a internet está fazendo com nossos cérebros – A geração superficial, Nicholas Carr, Ediouro, 384 páginas, R$ 50
O futuro já começou
Pode confiar: até 2100, centenas de satélites espaciais na órbita da Terra absorverão a radiação do Sol e finalmente resolverão o problema das fontes energéticas. Os robôs terão sentimentos (o que lhes permitirá tomar melhores decisões), a internet será acessada por meio de lentes de contato e você poderá alterar o lugar – e até a forma – dos móveis de sua casa com um simples comando mental. (Não é feitiçaria, é tecnologia: eles terão chips capazes de ler sinais elétricos do cérebro.) Essas previsões foram feitas pelo físico Michio Kaku. Com base em mais de 300 entrevistas com cientistas e em pesquisas existentes, Kaku faz previsões confiáveis sobre como será o nosso cotidiano no futuro.
A física do futuro, Michio Kaku, Editora Rocco, R$ 60
Bala no Laden
Pouco antes de executar Osama bin Laden no Paquistão, os homens do Grupo Especial da Marinha dos EUA passaram por apuros: o helicóptero em que estavam sofreu uma pane e quase caiu. Quase. Um muro da casa do terrorista impediu a queda e todo mundo saiu ileso. Bin Laden foi morto pouco depois ao dar uma espiada pela porta do seu quarto. O homem que incentivou a seus seguidores a matar e morrer nem sequer esboçou defesa. Pelo menos essa é a versão de seus executores. “Em todas as missões, é igual. Quanto mais alta a posição, mais covarde a pessoa é”, escreveu o líder da missão, que adotou o nome fictício de Mark Owen para contar a sua experiência (e esse fatídico dia) neste livro.
Não há dia fácil, Kevin Maurer e Mark Owen, Paralela, 280 páginas, R$ 35
Esfriou hoje, né?
Você já ouviu falar no paradoxo das florestas e do mar? É uma previsão que diz que, se as áreas verdes do planeta virarem desertos, a temperatura vai subir e uma grande quantidade de poeira será jogada sobre os oceanos. Mas eis o paradoxo: essa mesma poeira vai servir de alimento para o plâncton, que, por sua vez, vai começar a absorver mais CO2 e resfriar o planeta. Ou seja, a desertificação da Terra vai aquecer e resfriar o planeta. Ao mesmo tempo. Essa e outras histórias sobre tempo, tempestades, ventanias e a nossa relação com o clima estão neste livro. É pra esquentar a conversa de elevador.
Novos tempos, Ana Lucia Azevedo, Zahar, R$ 40.
Drogar-se é humano
Você sabia que nós e os grandes primatas somos as únicas espécies com um olfato capaz de reconhecer o cheiro de álcool? E que temos um sistema exclusivo no fígado para processar o álcool? Essas adaptações indicam que talvez a bebida tenha sido evolutivamente boa para os humanos – sobrevivia quem gostava de birita. (Sim, somos bêbados por natureza). Este livro explica tudo (tudo mesmo) sobre as substâncias que alteram nossos sentidos. Do LSD à cafeína, tintim por tintim.
Almanaque das Drogas, Tarso Araújo, Leya, 384 páginas, R$ 90.
*Resenhas escritas por Karin Hueck e Ana Prado.