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Por que a lã das ovelhas (e alguns cabelos humanos) são encaracolados?

Havia duas hipóteses para explicar porque os pelos dos mamíferos (e a lã, que não é bem pelo) enrolam. Calhou que nenhuma das duas estava exatamente certa.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 set 2024, 15h39 - Publicado em 28 mar 2018, 15h08

Abaixo a chapinha: ovelhas ostentam seus cachos com orgulho. E põe cachos nisso. O que torna a lã um material tão bom para fazer casacos é justamente o ar retido nas curvas do material, que serve de isolante térmico natural. Milhares de anos de domesticação e seleção artificial transformaram bichos que não eram tão cabeludos assim em dóceis nuvens ambulantes de algodão doce.

Acontece que os biólogos ainda não sabem muito bem por que lã de ovelha – e, por tabela, cabelo de Homo sapiens – enrolam. É claro que os dois materiais são bem diferentes um do outro em vários aspectos, mas a explicação para os caracóis, no nível celular, não pode ser tão diferente assim. Duas hipóteses para esse fenômeno disputam as mentes que se dedicam à pesquisa capilar.

A primeira é que as células que compõe o cabelo cacheado se reproduzem mais rápido de um lado do fio que do outro – gerando uma curva na direção do lado que cresce menos. A segunda é que as células de um lado do fio (ortocorticais) são mais compridas que as do outro (paracorticais). Nos dois casos, o princípio seria o mesmo que permite que um barco a remo faça curvas: basta remar mais forte de um lado que do outro.

(Antes de continuar, uma ressalva rápida: de maneira muito simplificada, as células que compõem o cabelo e a lã não são células no sentido tradicional, com núcleo, mitocôndria e ribossomos. Elas estão mais para pacotinhos de queratina, a mesma proteína que vai nas unhas e nos chifres de rinocerontes).  

A equipe do pesquisador neozelandês Duane Harland, disposta a desenrolar essa questão de uma vez por todas, fez um estudo meticuloso. Eles pegaram a lã mais macia possível, lavaram e desemaranharam os fios e fizeram uma inspeção detalhada no microscópio. Ops: calhou que o número de células de cada lado do fio é quase igual. Mas o tamanho delas também não varia com a previsibilidade necessária para correlacionar os dois fenômenos diretamente. “Nós definitivamente não esperávamos que nenhuma das previsões estivesse correta”, afirmou Harland, desapontado, ao The New York Times.  

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Os pesquisadores imaginavam descobrir que as células ortocorticais eram maiores que as paracorticais em uma proporção constante (digamos, 3 para 2). Assim, o fio cresceria percorrendo uma curva correspondente. Mas a realidade é um pouco mais caótica. O tamanho das células ortocorticais não varia em uma taxa tão precisa. Elas são mais compridas que as paracorticais apenas em média.

Mas é aqui que vem o pulo do gato (ou seria do carneiro?): quando você considera a quantidade de células que compõe um fio – são vários e vários milhares –, as flutuações pontuais, somadas, se traduzem em ma tendência estatística difícil de ignorar. Ou seja: talvez, a hipótese de que as células ortocorticais são mais compridas esteja correta. É só que isso ocorre de maneira muito inconstante quando o fenômeno é observado em escala microscópico.

A moral da história é que a balança está pendendo para a hipótese do tamanho das células, e não para a do ritmo de produção. E no que depender de Harland, a lã das ovelhas, por ser mais fina e mais fácil de estudar que os pelos do bicho homem, ainda vai revelar muitos segredos sobre nossos próprios penteados.

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