Equipe brasileira cria detector portátil de doença renal e é destaque em competição internacional
Editado por Otavio Cohen Você faz exames médicos anualmente, tipo um check up geral, só pra ver se está tudo certo. E, a julgar pelos resultados dos exames, não tem nada de errado. Aí, do nada, você começa a sentir fraqueza, uma certa dificuldade para urinar e percebe inchaço no rosto e nos pés. Vai […]
Editado por Otavio Cohen
Você faz exames médicos anualmente, tipo um check up geral, só pra ver se está tudo certo. E, a julgar pelos resultados dos exames, não tem nada de errado. Aí, do nada, você começa a sentir fraqueza, uma certa dificuldade para urinar e percebe inchaço no rosto e nos pés. Vai novamente ao médico e recebe a informação de que é portador da Doença Renal Crônica, uma lesão que pode resultar na perda irreversível da função dos rins. O caso é grave e você precisará de transplante. E aqueles exames todos? Não serviram pra nada?
É que os biomarcadores, moléculas que constatam esse problema nos rins, não conseguem identificá-lo em seu estágio inicial. Aí, o que normalmente acontece é um diagnóstico tardio que prejudica bastante o tratamento do paciente.
Foi por isso que uma equipe de universitários brasileiros criou um jeito mais fácil de diagnosticar o período inicial da doença. E bem mais barato também. Para isso, tiveram que modificar geneticamente uma bactéria chamada Bacillus subtilis e, a partir dela, criar um biodetector. Funciona assim: quando a bactéria entra em contato com o sangue, consegue identificar se há algo que possa afetar o funcionamento do rim. O mais legal disso é que, se não houver algo errado – ou seja, se você não estiver doente -, a bactéria vai brilhar na cor verde. Se estiver infectado, ela continua transparente.
Mas isso parece coisa de laboratório. Como é que o ser humano comum vai conseguir fazer isso em casa? É que a bactéria estará num dispositivo portátil. O gadget, que cabe na palma da mão, tem um chip que armazena os esporos da Bacillus subtilis. Aí fica fácil. “A ideia é que o profissional ou o paciente consiga usar o dispositivo simplesmente apertando um conjunto de botões”, diz Danilo Zampronio, um dos idealizadores e desenvolvedores do projeto. Depois, é só esperar mais ou menos quatro horas, e o resultado aparece.
Sucesso no exterior
O time conta com alunos de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado de três universidades diferentes: USP (São Carlos e São Paulo), UFSCar e UNESP (São José do Rio Preto). As pessoas vêm das mais diversas áreas, tais como Biotecnologia, Química, Física, Farmácia e Arquitetura. Apesar de haver três universidades envolvidas no desenvolvimento do aparelhinho, Danilo conta que os pesquisadores tiveram muita dificuldade financeira para tirar o projeto do papel.
O problema do dinheiro voltou a aparecer quando a equipe foi convidada a participar de uma competição de biologia sintética entre universidades do mundo inteiro nos Estados Unidos. O evento aconteceu no Hynes Convention Center, em Boston. O jeito foi apelar para campanhas de financiamento coletivo e pedir ajuda para professores. No final, os pesquisadores conseguiram patrocínio e as universidades ajudaram com a viagem de alguns membros. No fim, deu tudo certo.
“Foi sensacional! Mais de 2500 pessoas das melhores universidades do globo! Lá estavamos nós com Harvard, Oxford, MIT, Imperial College London, Universidade de San Francisco entre outros gigantes”, diz Danilo. Ao fim da competição, a equipe trouxe para casa o terceiro lugar e um prêmio pela ótima qualidade dos relatórios apresentados. E trouxe ainda a esperança de que, no futuro, a biologia sintética, uma ciência ainda emergente no Brasil, ganhe mais investimento e gere mais inovações made in Brasil.