Quase um inception: cientistas inserem memórias artificiais em ratos
Por Vinícius Giba Um grupo de pesquisadores do MIT, liderados pelo neurocientista Susumu Tonegawa, demonstrou como criar memórias falsas em ratos alterando seu sistema nervoso. As memórias das experiências que vivemos (um show da sua banda favorita, por exemplo) são armazenadas no nosso hipocampo num conjunto de neurônios numa forma e ordem específicas. Ao relembrar […]
Por Vinícius Giba
Um grupo de pesquisadores do MIT, liderados pelo neurocientista Susumu Tonegawa, demonstrou como criar memórias falsas em ratos alterando seu sistema nervoso.
As memórias das experiências que vivemos (um show da sua banda favorita, por exemplo) são armazenadas no nosso hipocampo num conjunto de neurônios numa forma e ordem específicas. Ao relembrar aquele show, os neurônios relativos àquela experiência se reativarão. Esse grupo de células nervosas responsáveis por uma memória pode ser chamado de engrama.
E, bom, nos ratos, funciona praticamente do mesmo jeito.
Entendidas essas ideias, vamos ao passo-a-passo da experiência com pinta de sci-fi que os pesquisadores realizaram:
1- Primeiro, eles desenvolveram geneticamente um rato capaz de expressar a proteína Channelrhodopsin-2 (ChR2). Mais precisamente: um rato capaz de expressar essa proteína apenas nas células nervosas que se envolvem na formação de uma memória. Isso torna possível o mapeamento exato dos neurônios que participaram de um engrama específico.
2- Então, esse ratinho especial foi colocado numa salinha segura, que vamos chamar de sala A. As células que memorizaram a experiência expressaram a proteína ChR2 e foram identificadas pelos pesquisadores.
(Ah, um detalhe importante: a proteína ChR2 é foto-sensível. Ao ser iluminada, ela causa a ativação da célula que a expressou. Esse fator é essencial para a experiência.)
3- Depois, o ratinho foi levado para outra sala, a sala B, e, lá, a área cerebral com o engrama da experiência da sala segura foi iluminada, causando a reativação daqueles neurônios e trazendo à mente do roedor a memória da sala A.
4- Enquanto ele revivia a experiência da sala A, os pesquisadores deram um pequeno choque nas patas do bichinho, gerando uma reação de medo.
5- Ao retirá-lo da sala B e recolocá-lo na sala A, foi possível ver o sucesso da implantação de memória quando o ratinho sentiu medo daquele ambiente. Mesmo nunca tendo tomado um choque ali, ele tinha em seu cérebro a memória de ter passado por maus bocados naquele lugar.
Essa pesquisa pode gerar impactos em estudos já existentes sobre a falibilidade da nossa memória e (mais legal ainda) em estudos sobre a criação de memórias artificiais em humanos – o que causa arrepios em quem já viu obras sci-fi que tratam do tema. Qual delas mais te assusta?
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Via: io9