O humor possui lógica própria: de acordo com a variação cultural, aquilo que provoca o riso em um canto não provoca em outro. O humor brasileiro, por exemplo, reflete a nossa identidade – ou a falta dela –, em todas as questões que estão relacionadas a classes sociais, etnia ou sexualidade.
Já o humor dos EUA, popularizado pela hegemonia massacrante de Hollywood, traz consigo o gênero das trapalhadas bobas: slapstick, ou humor pastelão, caracteriza uma horda de risos torpes e gargalhadas soltas, arrancadas por piadas nem sempre tão boas assim – geralmente simples, cercadas de estereótipos e com pitadas de violência física.
Confira cinco filmes cômicos que carregam reflexões perspicazes em seu roteiro.
1) O Auto da Compadecida
Obra-prima do cinema nacional, o longa direciona os holofotes ao tão esquecido (ao menos pela grande mídia) cenário nordestino, sem apelar para estereótipos e preconceitos. Ressaltando os valores e as tradições regionais, o humor se sobressai de maneira sutil, porém rica. A dupla de marmanjos Chicó e João Grilo sobrevive à custa dos outros – até que Nossa Senhora de Aparecida, Deus e o Diabo surgem para julgar os seus pecados.
2) Relatos Selvagens
O filme argentino acompanha a humanidade em sua versão mais desnuda. Fora das dissimulações sociais, os personagens – em seis histórias diferentes e independentes – unem-se na barbárie: motivados por mágoa, egoísmo e vingança, eles mostram ao espectador aquilo que todo mundo é quando ninguém está olhando. O humor, nesse aspecto, habita a quebra de expectativa, pois, longe das máscaras de sanidade, a linha tênue entre a civilização e a carnificina tremula.
3) Bastardos Inglórios
Com direção de Quentin Tarantino, a produção alterna entre momentos de comicidade ou violência, de modo que, em alguns momentos, ambas estão tão intimamente entrelaçadas que coexistem na mesma cena, trocadilho ou piada, numa performance crua de humor negro. O enredo baseia-se na história de remanescentes judeus que se unem para contemplar a vingança contra as atrocidades nazistas.
4) O Verão do Skylab
Dirigido por Julie Delpy – conhecida pela atuação nos filmes de Linklater –, o longa acompanha um verão em família. O humor, assim, paira leve e descontraído, sendo provocado pela identificação do espectador para com os causos narrados; uma vez que toda família, mesmo que sob disparidades culturais, apresenta semelhanças entre si: as bizarrices dos tios, as disputas políticas, os códigos entre os primos, as tradições e as traições. Todo esse universo ácido e encantador constrói, de jeito leve, as delícias e as desgraças da vida familiar.
5) A Viagem para Darjeeling
Três irmãos que não se falam há mais de um ano decidem partir para uma viagem sem rumo, divididos entre buscar o tão famoso – mas tão pouco visto – “autoconhecimento” e reformar os laços fraternais. Contudo, uma série de desencontros faz com que eles sejam abandonados no deserto e o humor surja nos pequenos acasos do cotidiano absurdo – marca registrada do diretor, Wes Anderson, personalidade queridinha da trupe cinéfila.