Há alguns anos, a adolescência, como fase necessária de amadurecimento e transformação, não era ponderada ou discutida. Sob um industrialismo pungente, o indivíduo era considerado valoroso assim que pudesse ser, também, mão de obra: passava-se com uma rapidez estrelar da infância para a vida adulta, na qual o sexos se encaminhavam para seus destinos: moçoilas tricotavam e se casavam e rapazotes se enfiavam nas máquinas e nas engrenagens cheias de óleo.
Não é como se a adolescência não existisse, ou só tenha passado a fazê-lo depois que recebeu uma denominação categorizada pelos psicólogos. Ela era apenas invisibilizada, desconsiderada, ofuscada.
Na contemporaneidade, com a ascensão do conceito de adolescer (do latim: crescer), a fase passou a levar créditos por sua magnitude e importância: é o momento no qual o indivíduo passa a reconhecer seus limites e moldar o impulso de transgredi-los; desassocia-se do que fizeram dele e constrói, com base nos erros e acertos, a sua personalidade. Confira, abaixo, 6 filmes que esmiúçam – sem muitos clichês – esse momento tão essencial do desenvolvimento humano.
1) A Lula e A Baleia
Com trilha sonora regada a Pink Floyd, a produção de Noah Baumbach – precursor do movimento cinematográfico Mumblecore – acompanha a trajetória de um casal cinéfilo-hipster-cult-intelectuazóide e de seus filhos, e também o desandar de seu casamento.
A partir de uma traição, a prole se divide em termos de descobertas sobre o mundo fora do castelo-cor-de-rosa familiar e de identificações com esse mundo cinza exterior. Frank, o pré-púbere, mergulha em questionamentos sobre sua personalidade e sua sexualidade. Walt, o adolescente mais velho, questiona-se sobre os limites das influências que recebeu de ambos os pais. O filme foi indicado ao Oscar por Melhor Roteiro Original.
2) Quase Famosos
O que acontece quando um jovem de 15 anos é convidado para escrever para uma revista de grande porte? Não, não estou falando da Turma do Fundão: William, aspirante a jornalista musical, consegue o privilégio – cedido pela revista Rolling Stone – de acompanhar uma banda de rock em turnê nos transviados anos 70.
Nessa jornada cheia de sexo, drogas e rock and roll, o menino descobre, simultaneamente, o glamour e a desglamourização da tão sonhada “vida de artista”. O longa ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Original.
3) As Virgens Suicidas
O longa de Sofia Coppola é rodeado por cores pastéis e construções imagéticas que remetem à pureza: é assim, nesse universo, que o enredo se choca com a concepção aterrorizante de cinco irmãs loiras, delicadas e imaculadas cometendo suicídio.
O filme traz uma visão sagaz sobre a atuação sutil e incisiva do patriarcado: vítimas da repressão familiar, as meninas, sufocadas pela superproteção, veem seus sonhos, desejos e ambições podados em nome do controle dos pais. A castração da vida, que as empurra a uma existência parcial, sem autonomia ou liberdade, motiva o trágico suicídio final.
4) Educação
Nesta produção indicada ao Oscar de Melhor Filme, a doce Carey Mulligan interpreta Jenny, uma garota de 16 anos. A adolescente foi montada, qual um robozinho, para ser perfeita: notas excelentes, saia abaixo do joelho e aulas de violoncelo só para dizer que toca um instrumento qualquer.
Dentro deste claustro de cobranças, surge uma salvação – ou algo próximo disso: a oportunidade de namorar um homem mais velho, já com seus 30 e poucos anos. Jenny agarra esse relacionamento como uma oportunidade de fuga, e assim vai descobrindo os prazeres do mundo, seus vícios e virtudes, para além do vestibular de Oxford.
Mas educação é só aquilo que se está nos livros? Apesar de ser, em tese, madura para sua idade, Jenny descobre que todo conhecimento técnico que possuía não era necessário para enfrentar os azedumes da vida.
5) Os Sonhadores
https://www.youtube.com/watch?v=nPb4irdCusw
Bertolucci agrega nesta obra a idealização sublime de qualquer jovem metido a artista: Paris, cinefilia e revolução. Um estudante norte-americano, perambulando pela sociedade parisiense em 1968, na mesma época dos famosos protestos de maio, descobre e se infiltra na família dos irmãos glamour Theo e Isabelle. Juntos, os três tateiam as bordas e fronteiras da arte e da paixão – em toda a sua amplitude de conflitos, sensualidade e delírios.
6) Boyhood
O queridinho de Hollywood alcança a pretensão de seu diretor, Linklater: a proposta de acompanhar os atores e os personagens durante 12 anos de amadurecimento fervilhou os burburinhos cinematográficos, dividindo a estima da plateia.
Nessa jornada, Boyhood atende as expectativas exaltadas ao reconstruir, fidedignamente, a realidade de um adolescente médio, em questões conflitos e descobertas.