O grande diferencial da literatura nacional é nossa língua, com todo o charme e as particularidades que ela possui. E, apesar de os autores brasileiros mais famosos serem os clássicos, cujas obras caem no vestibular, nosso panteão de autores vai bem além. Existem escritores brasileiros para todos os gêneros e todos os gostos.
A seguir, alguns autores que fogem dos clássicos e escrevem de forma atual, tanto sobre sentimentos quanto sobre problemas sociais. Para quem preferir poesia, também fizemos essa lista aqui.
Adoraríamos ouvir a sugestão dos leitores do blog para ajudar esta lista a crescer!
Sal, de Letícia Wierzchowski
Ed. Intrínseca, 240 págs., R$ 24,90
A autora possui mais de quinze livros em sua obra, que contém tanto romances quanto livros infantis. A história de Sal gira em torno de uma família grande que mora em uma ilha com um farol. Mesmo com tal simplicidade, a autora consegue nos envolver em sua prosa poética cheia de detalhes e seus personagens envolventes, fazendo com que a complexidade do ser humano seja o tema principal da obra. Cada protagonista tem sua personalidade construída com cautela, fazendo com que todos eles se tornem palpáveis.
É um livro ideal para lágrimas e também para risadas. Uma descoberta ótima para aqueles que preferem poesia, mas querem variar um pouco. Letícia não decepciona com sua prosa cheia de floreios ornamentais necessários para descrições, sem nenhum eruditismo.
Minha Vida Sem Banho, de Bernardo Ajzenberg
Ed. Rocco, 192 págs., R$ 24,50
Bernardo já atuou como jornalista e tradutor, além de escrever contos e romances. Com tanta bagagem literária, a indicação é esta obra, que ganhou o prêmio Casa de las Américas 2015. O livro destaca-se pela ironia. Célio, protagonista principal do romance, trabalha em um instituto ambientalista e decide parar de tomar banho. Mesmo com tal gesto podendo ser interpretado como atitude em prol do meio-ambiente, esse não é o caso. Célio está sem controle sobre os incidentes de sua vida e resolve cortar essa atividade diária como forma de protesto.
Ajzenberg constrói um texto com fragmentos da vida da namorada, do pai, da mãe e do amigo do pai, fazendo com que Célio fique em segundo plano. Mesmo assim, o livro é uma boa lição para ficar claro até que ponto as outras pessoas modificam nossa vida e até que ponto nós mesmos perdemos o controle pelos outros. Apesar da narrativa entrecortada, com várias vozes em capítulos misturados, Bernardo consegue compor uma trama estranha, mas comovente.
Me Ajude A Chorar, de Fabrício Carpinejar
Ed. Bertrand Brasil, 156 págs., R$ 15,40
Talvez Carpinejar seja o mais famoso da lista, pelo fato de ter atingido a popularidade pelas redes sociais (vide @carpinejar no Twitter). Possui cerca de 20 livros publicados, além de ter ganhado oito prêmios. A indicação é Me Ajude a Chorar, no qual o autor retrata sua vida íntima com crônicas curtas e tocantes. De forma simples, Carpinejar consegue ilustrar seus sentimentos como se estivesse pintando um quadro só para o leitor.
Ele escreve sobre as perdas, compondo um livro melancólico e triste, mas que te deixa com esperança. Tamanha honestidade é algo que até faz você pensar se o autor não poderia se encontrar com você em um bar para discutir sobre a vida e seus amores e desamores. Tudo que resta é convidá-lo para tal passeio – o autor deixa o e-mail visível nas redes sociais. Enquanto espera a resposta, você poderá se comover com sua escrita e ter mais uma razão para sonhar.
Lugares Que Não Conheço, Pessoas Que Nunca Vi, de Cecília Giannetti
Ed. Ediouro/Agir, 160 págs., R$ 39,70
Cecília é colunista, contista, cronista e estreou como romancista com esta obra. O leitor é apresentado a um universo entrecortado, com capítulos curtos que formam peças de um quebra-cabeça. A escrita elaborada é ácida e cheia de detalhes, mas ainda apresenta o sentimento de algo que incomoda.
A autora retrata uma jornalista confusa, perdida na vida, com um ex-marido sempre de chinelos e um amante com mãos grandes. Seus sentimentos são vagos, mostrando complexidade, e não o contrário. A violência urbana é explorada com imagens praticamente surrealistas, ilustradas por Christiano Menezes (também responsável pela capa). Essa é a obra da lista que mais possui caráter de denúncia social, ideal para uma longa reflexão. Atualmente, a escritora prepara um novo livro.
Daytripper, de Gabriel Bá e Fábio Moon
Ed. Panini Books, 256 págs, R$ 64
Gabriel Bá e Fábio Moon são irmãos gêmeos paulistas e, em 2008, eles foram os primeiros quadrinhistas brasileiros a receberem o Eisner Awards, que é considerado o “Oscar” dos quadrinhos. Em 2011, os moços ganharam novamente o prêmio pela HQ Daytripper, que narra a história de Brás de Oliva Domingos, um escritor de obituários que se questiona sobre quando sua vida começou.
De forma não linear, a HQ acompanha diversos dias-chave na vida do protagonista. Em um dia ele tem 30 anos e, no outro, é ainda uma criança. O engraçado (e trágico) é que o dia sempre acaba com um final… surpreendente. Até quem não lê normalmente quadrinhos pode se encantar com o filosófico Daytripper. E a tamanha repercussão internacional não é à toa, pois Bá e Moon escrevem roteiros tão poéticos quanto complexos. Os dois são artistas que inspiram qualquer leitor que cruza sua obra.
Eu Me Chamo Antônio, de Pedro Gabriel
Ed. Intrínseca, 192 págs., R$ 29,90
De uma despretensiosa página no Facebook para um grande sucesso, Eu Me Chamo Antônio é uma obra de um artista sensível e extremamente atual – afinal, nada mais moderno que o sucesso online se tornar produto literário.
Com Pedro Gabriel, entretanto, refletimos sobre questões existenciais ou mundanas de maneira diferenciada por meio de suas singulares ilustrações no guardanapo. Os pequenos poemas, trocadilhos e metonímias revelam um escritor atento à língua e suas possibilidades. Talvez porque o autor de origem africana teve um contato tardio com o português, mas certamente porque é uma pessoa muito talentosa.