Há muito, no meio acadêmico, existe uma disputa acirrada para a caracterização da psicologia como ciência social ou ciência da saúde. Atualmente, a corrente que dá mais ênfase biológica à área vem tomando espaço, por um motivo claro: estamos doentes. Mas não com dor de dente, tornozelo torcido ou câncer de pulmão. Estamos tristes e cansados, ansiosos e deprimidos. Doentes de alma, para os mais religiosos, ou de psiquê – para os mais céticos.
Diretores como Lars Von Trier e Noah Baumbach são marcados pelo ato de transformar dor em arte – tal qual ostras feridas que produzem pérolas como um mecanismo de defesa. A arte, de maneira geral, está cercada destes sofredores criativos anônimos, que usam da pintura, literatura ou do cinema para canalizar a dor e extrair beleza a partir dela. Confira, abaixo, sete filmes sensíveis sobre a dor humana.
1) Melancolia
Esta obra de Lars Von Trier é parte da chamada Trilogia da Depressão. Ela narra a história de duas irmãs, Claire e Justine, e suas reações diante do fim do mundo. A primeira, aparentemente bem estruturada, bem sucedida e inserida em uma família padrão, responsabiliza-se por cuidar da segunda, a irmã caçula, que sucumbe à depressão aguda.
O decorrer da história exibe, de maneira assustadoramente fidedigna, a rotina da doença, que castra a sensibilidade de Justine e a transforma em um ser apático, frio e indiferente. Além disso, o roteiro desmitifica a figura de Claire como adulta perfeita e a mostra, por fim, como alguém tão frágil quanto a sua irmã.
2) Ninfomaníaca
Também de Lars Von Trier, é o terceiro componente da Trilogia da Depressão e se divide em dois volumes. Considerada polêmica por apresentar cenas de nudez frontal e explícita, a obra, graças à sua sensibilidade extraordinária, consegue destacar-se ante ao lobby e provar que não é mais um filme qualquer sobre sexo.
A personagem principal, Joe, apresenta-se como uma viciada em sexo e, desde os princípios da adolescência, envolve-se em experiências – muitas vezes macabras – para satisfazer o prazer carnal. Contudo, com o desenrolar da trama, percebe-se que Joe usa a sexualidade como uma forma patológica de punição e autodestruição. O longa também toca em assuntos importantes, como a repressão do patriarcado sobre a sexualidade feminina.
3) Alabama Monroe
O longa belga, indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro, alterna cenas de euforia e de depressão. Regido em uma narrativa borderline, narra a história de um casal, na alegria e na tristeza, amém, aprofundando-se nas adversidades da vida e relatando as reações de Elise e Didier a temas como doenças, acidentes e morte.
A morte, por sua vez, ganha um espaço abrilhantado, sob a ótica de Didier, ateu convicto, que precisa lidar com o vazio da perda de alguém amado, sem usar de artifícios ou muletas sentimentais.
4) O Lado Bom da Vida
Às vezes comédia romântica, às vezes melodrama, o longa foi um dos acertos do americano David O. Russell, que conseguiu afastá-lo do clichê. Acompanhando Pat e Tiffany, portadores de transtorno bipolar e depressivo, respectivamente, a trama segue observando como os dois lidam com as dores e, principalmente, com eles mesmos.
Numa tentativa meio torta de dois cegos se guiarem, os protagonistas vão mostrando ao mundo as belezas de, apesar dos pesares, serem peculiares em uma sociedade onde todos fingem normalidade para esconderem suas particularidades.
5) Pequena Miss Sunshine
De forma leve e bem-humorada, o filme narra a trajetória de Olive e sua família numa viagem para um concurso de beleza infantil. O detalhe é que cada membro dessa trupe é encantadoramente esquisito: o avô que foi expulso do asilo por porte de drogas, o tio gay recém retornado do hospício após uma tentativa de suicídio, o irmão que fez promessa de silêncio, e a própria Olive, uma menininha doce e desengonçada. É uma narrativa delicada, que insere o telespectador em questões profundas, como a autoaceitação, de maneira suave.
6) Se Enlouquecer, Não Se Apaixone
Também bem-humorado, traz a história de um adolescente que decidiu se internar num hospital psiquiátrico após uma tentativa de suicídio malsucedida. Lá ele encontra as mais diversas pessoas, dos mais variados lugares e idades. Inserindo-se na rotina da sua ala, Craig passa cinco dias vivenciando experiências um tanto incomuns e aprendendo a ser mais sensível à realidade alheia.
7) Desligando Charleen
Esta obra polonesa acompanha a vida de Charleen, uma adolescente de 15 anos que tenta se matar colocando um secador na banheira – mas não consegue. Ao começar a frequentar um psiquiatra, a jovem passa a rever seus valores e a refletir sobre a nada fácil adolescência. O filme foge dos clichês estadunidenses (jovens felizes que frequentam muitas festas) e exibe os empecilhos que todo adolescente já passou, seja ele depressivo ou não.