Demônio de Neon, filme de terror do diretor dinamarquês Nicolas Winding Refn, está em cartaz nos cinemas brasileiros desde a semana passada. Mas ele vem dividindo opiniões desde maio, quando foi exibido pela primeira vez para a imprensa durante o Festival de Cannes. Lá, a história foi recepcionada com vaias, críticas e até mesmo palavrões.
O longa segue a mesma polêmica de outros filmes de terror lançados este ano, como A Bruxa e Boa Noite, Mamãe, com histórias que causaram reações controversas e inúmeros debates entre os espectadores. Esse é o tipo de filme que ou vai te fazer sair do cinema com os olhos brilhando ou te fará ficar decepcionado e até irritado por perder tempo e dinheiro. Particularmente, fiquei entre os dois, sentindo aquela estranha relação de amor e ódio que só um filme maravilhoso e, ao mesmo tempo, muito ruim, pode deixar num espectador.
Antes da crítica em si, é preciso alertar que, diferentemente de como foi categorizado, Demônio de Neon nem de longe consegue ser um filme de horror típico. Isso significa que, se você espera por sustos a todo momento, câmeras que tremem e muitos gritos, talvez deva passar longe deste aqui. A trama é desenvolvida num ambiente inquieto, silencioso e talvez com mais simbolismos do que dê para notar ao assistir o filme uma única vez.
O filme é centrado em Jesse (Elle Fanning, deslumbrante), uma adolescente que acabou de se mudar para Los Angeles com o sonho de se tornar modelo. Pouco a pouco, enquanto adentra o mundo imperfeito da moda, a personagem descobre as rivalidades e os desafios da profissão.
A premissa não é lá essas coisas, devo concordar. Filmes que retratam a busca doentia pela aparência perfeita, o narcisismo e a pressão no mundo das passarelas são incontáveis e, hoje em dia, quase não surpreendem. Felizmente, Demônio de Neon consegue dar um passo à frente e inovar em alguns quesitos. Entre eles a trilha sonora, a iluminação e a incrível fotografia, que talvez seja a melhor parte — e o principal motivo pelo qual alguns críticos chamaram o longa de uma “obra de arte”. O filme possui uma estética delicada e cada cena parece ter sido feita e refeita várias vezes até ter sido encontrado o “tom” perfeito para todas as situações.
Como nem tudo são flores, é nítida a razão das vaias e dos protestos em cima do enredo. Entre os defeitos, podemos citar o desenvolvimento raso da história e dos personagens (incluindo a da protagonista) e a falta de bons diálogos entre eles, o que pode ser interpretado como uma crítica para o modo superficial como as modelos são tratadas nesse universo. Até mesmo a participação especial de Keanu Reeves é rápida e apagada.
O longa possui também alguns momentos excessivamente gráficos, considerados desnecessários e problemáticos, que não são fáceis de serem digeridos para quem possui o estômago fraco (se você não curte cenas nojentas, passe longe).
Numa primeira olhada, daria até para dizer que a película é só mais uma bobagem produzida por Hollywood. Mas a verdade é que Refn conseguiu, em vários momentos, criar uma verdadeira aula de cinema.
Por isso, caso você dê uma chance ao longa, aqui vai uma recomendação pessoal: assista no cinema ou na maior e melhor resolução que puder. Demônio de Neon, assim como Gravidade (2013), possui como trunfo a qualidade da fotografia e dos cenários e não merece, de modo algum, ter sua beleza contemplada numa tela pequena.