Todos nós sabemos que a adolescência é um período pra lá de difícil. Insegurança com a aparência, o/a crush que não responde, as desavenças entre as panelinhas… Se pra maioria já é difícil, imagina pra um garoto que não sabe como falar pros pais que quer ser uma menina? E imagine ainda chegar numa escola nova já sendo conhecido como insano? Esse é o enredo de A Arte de Ser Normal, de Lisa Williamson (Ed. Rocco, 382 pgs., R$ 34,50).
A narrativa se divide entre o ponto de vista de dois garotos, Leo e David, que estudam na mesma escola. Considerado um “aluno problema”, Leo vem de um lar desestruturado e, depois de ser expulso do pior colégio da cidade, tem o renomado Colégio Parque Eden como a sua última chance.
Já David sempre estudou no Parque Eden e tem uma família amorosa, mas também precisa lidar com os seus próprios dilemas, como bullying na escola ou quando e como vai revelar aos seus pais que na verdade ele não é feliz com o gênero que lhe foi designado.
Depois de dar um soco no nariz de um valentão da escola para defender David, Leo vai parar na detenção, onde David também está (mesmo ele sendo a vítima do bullying). Graças a um dever de matemática, os dois se aproximam A amizade genuína prova que, apesar das diferenças, todos nós só queremos aceitação.
A leitura corre muita intensa e sem perder a graça, aguçando a curiosidade e despertando empatia e carinho pelos protagonistas. A voz em primeira pessoa funciona ao mostrar de forma honesta os sentimentos mais íntimos que abalam os jovens. Desde o começo, a autora mantém um ritmo muito bom, que prende o leitor.
A escrita tem muita sensibilidade e fluidez, o que é incrível, ao tratar de assuntos tão delicados como a identidade de gênero, a sexualidade, a negligência de cuidados e os transtornos psicológicos. Esses temas são desenvolvidos com o cuidado de mostrar a realidade dos personagens, dando à história um tom muito mais pessoal e autêntico.
O livro cumpre perfeitamente a missão de sensibilizar e mostrar a importância de apoio em momentos de crise, principalmente durante a fase de crescimento, e expõe a dificuldade dos deslocados em se encaixar e fazer parte da sociedade – ou seja, a vontade de ser considerado normal. Tudo isso sem abrir mão de uma boa trama.
Não se assuste se perceber que leu cem páginas de uma vez, A Arte de Ser Normal é um livro realmente muito difícil de largar. Depois de terminado, ele deixa no ar aquela velha questão: enfim, quem de nós é normal?