Haruki Murakami é um dos autores japoneses mais experimentais e bem vendidos contemporâneos. Dance Dance Dance (Ed. Alfaguara, R$ 49,90, 496 pgs.), publicado primeiramente no Japão em 1988, foi recentemente reeditado para o português. É o quarto livro da saga O Rato, que não necessita ser lida inteira para ser compreendida. Misturando referências pop e romance policial, Dance Dance Dance tem uma trama em que a realidade é bem próxima do fantástico, a ponto de ambas se fundirem e o irreal não soar absurdo.
O livro começa com uma narrativa bem próxima de uma história de detetive, algo até um pouco noir. O protagonista lembra-se de uma estadia no Hotel do Golfinho anos atrás, quando sua namorada da época sumiu. Essa ex-namorada, de quem ele não recorda o nome, o chama através do sonho. Então, ele decide tirar férias de seu emprego como escritor freelancer para ir em busca da garota desaparecida há mais de quatro anos.
Ao chegar ao Hotel, o protagonista percebe que o antigo empreendimento foi substituído por outro muito mais luxuoso e moderno. Tudo é enigmático: nenhum funcionário sequer sabe o porquê da mudança. Porém, esse mistério é sempre narrado de forma bem original, diferentemente do estilo normalmente copiado de Poe e Arthur Conan Doyle.
Em meio aos acontecimentos bizarros no Hotel, incluindo um encontro com o “Homem Carneiro” em uma espécie de realidade paralela, o protagonista faz amizade com uma adolescente de 13 anos, Yuki. Um fato interessante é que os personagens de todo o livro são estranhamente nomeados: Yuki (“neve” em japonês) é filha do casal Ame (“chuva”) e Hiraku Makimura, um anagrama óbvio com o nome do autor.
Por causa disso, algo que faz muitíssima falta para melhor compreensão do livro são notas do tradutor. Yumiyoshi é uma personagem bem importante na trama e não há nenhuma indicação para o significado do seu nome, além de que literalmente significa a junção dos ideogramas “arco” e “sorte”.
Dance Dance Dance é uma obra brilhante, narrada de forma lenta e singular. É um livro para quem gosta de romances policiais, mas está cansado das velhas histórias e quer experimentar algo novo. A trama é estranhíssima e cheia de acontecimentos bizarros, mas consegue ser profunda e inteligente dentro desse universo literário. É sempre interessante conhecer um pouco de alguma literatura diferente da usual norte-americana, e, se for japonesa, definitivamente recomendo Murakami.