Eu Não Quero Voltar Sozinho foi um curta que ganhou o coração de milhares de pessoas. Além de premiado, foi sucesso de público e acabou resultando num longa independente, Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, que ainda pode ser encontrado nos cinemas.
O novo longa não funciona exatamente como sequência, e sim como uma reinvenção do mesmo enredo. Deu certo: o diretor Daniel Ribeiro soube conduzir os espectadores muito bem e, novamente, conseguiu fazer um filme muito cativante.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho retrata a vida de Léo, um adolescente cego que quer explorar o mundo e conquistar logo sua independência. Sua fiel amiga Giovana é seu porto seguro, tanto na vida como na escola. Quando Gabriel, um novo aluno da turma, aparece na vida dele, Léo começa a viver novas experiências e descobrir que existe ali um laço maior do que amizade.
O filme seria originalmente chamado Todas as Coisas Mais Simples, mas o título acabou sendo mudado pra fazer referência ao curta. Mas o seguimento dele é assim mesmo, numa simplicidade gostosa de assistir. Não é o roteiro mais ambicioso do mundo e, mesmo assim, ele busca (e encontra) uma quebra de barreiras, mostrando como tudo pode ser mais fácil de aceitar e lidar do que a gente pensa. Com o passar do tempo, a construção das personagens e da história em si é muito bem-vinda, já que nada vai rápido demais.
Gabriel ensina Léo a dançar: “agora presta atenção que vou mostrar como faz o headbang”
Todos os personagens são bem trabalhados. As intrigas, os momentos românticos, as horas de conversa e todo o resto definem quem é quem aos poucos. A gente termina o filme sem ficar querendo saber mais sobre tal pessoa.
O filme também aborda o bullying ao mostrar brincadeiras de mau gosto feitas pelos colegas de classe de Léo, que, além de se aproveitarem de sua condição, não têm a mínima tolerância com o menino. Há também a presença muito forte do relacionamento familiar, do desejo de liberdade e da persistência de Léo, que, mesmo sendo cego, se sente capaz de fazer qualquer coisa.
A atuação do elenco não pode passar despercebida. Ghilherme Lobo, Fabio Audi e Tess Amorim, que interpretam Léo, Gabriel e Giovana, respectivamente, dão um toque sensível a seus personagens. Os três prometem ser grandes apostas para a dramaturgia brasileira.
Por fim, a música tem grande participação. A trilha se encaixa perfeitamente nos momentos certos, então reforça bem as horas divertidas, as tristes e até as mais quietas. Tanto músicas nacionais quanto internacionais são usadas na produção: Marcelo Camelo, David Bowie e Belle & Sebastian são alguns nomes presentes.
Bullying com o cego: “o pior é que eu sei onde eles colocaram esses dedos”
O filme é melhor que o curta, se for comparado. Como saímos de um curta de 15 minutos para um filme de 90, o acréscimo de conteúdo era esperado, e cai bem. O adicional aqui são os pais superprotetores de Léo, os colegas que fazem bullying com ele, as festas e o ciúme. A transição para a tela grande só adicionou mais à narrativa e a deixou bem completa e interessante de acompanhar.
Hoje Eu Quero Voltar Sozinho não é só mais um filme, mas sim um grande destaque no meio de todos os longas brasileiros. A obra de Daniel Ribeiro combina entretenimento de qualidade com conscientização e vai, com certeza, tocar as pessoas que o assistem. Porque ali nós podemos entender que, no mundo, pode nascer todo tipo de amor.
Confira também nossa entrevista com o diretor Daniel Ribeiro.