“Don Corleone fez uma pausa e apresentou ao agente funerário um riso irônico e cortês.
– Agora, você vem a mim e diz: ‘Don Corleone, faça justiça’. E não pede com respeito. Não me oferece sua amizade. Você vem a minha casa no dia do casamento de minha filha e me pede para matar dizendo – aqui a voz de Don Corleone fez uma imitação desdenhosa – ‘pagarei o que o senhor pedir’. Não, não, eu não estou ofendido, mas o que fiz eu para você me tratar de modo tão desrespeitoso?”
Quem conhece a famosa trilogia de filmes O Poderoso Chefão, dirigida por Francis Ford Coppola e lançada entre 1972 e 1990, talvez não saiba que a história vem de um livro. Escrita por Mario Puzo, que também foi o autor do roteiro dos filmes, a obra foi originalmente lançada em 1969. No Brasil, saiu primeiro pela Editora Abril como O Chefão. Atualmente, quem possui os direitos de publicação é a Editora Record.
O livro conta a história do grande Don Vito Corleone, chefe da família que lidera a máfia nos EUA. Seus amigos o chamam carinhosamente de Padrinho, pois ele faz de tudo para qualquer pessoa, pedindo em troca apenas sua eterna e verdadeira amizade.
A máfia Corleone, que controla os jogos de azar, o contrabando e o assassinato em Nova York, sempre foi vista como uma ameaça às outras cinco famílias mafiosas existentes na história – até Al Capone se envolveu com Don Vito de forma pouco amigável. A história começa quando um homem chamado Virgil Sollozzo vem até Vito oferecendo um novo negócio: os narcóticos.
Sollozzo, que já está envolvido com a família Tattaglia, acredita que o setor de drogas pode gerar muito lucro para ambas as famílias e, em troca, pede a proteção dos Corleone, já que eles controlam quase toda a força política e policial do estado e, sem a vista grossa dessas autoridades, a venda dos narcóticos seria impossibilitada.
Mas Vito recusa por não gostar desse tipo de negócio e considerá-lo “sujo”. Isso faz com que ele sofra uma tentativa de assassinato, gerando a ira de seus filhos, o esquentado Sonny, conhecido por sua facilidade em “explodir” e ficar com raiva de tudo, e o pacato Michael, que a princípio não queria se envolver com os negócios da família. O conflito todo acaba se tornando uma verdadeira guerra.
Além dos dois filhos, outro personagem que deve ser muito bem notado é Tom Hagen, advogado e o consigliori (um conselheiro, tradição na antiga Sicília) oficial da família. Ele toma muitas das decisões apresentadas no livro, todas com inteligência e astúcia. Confesso que, depois de Vito, esse é o meu personagem favorito. Sua história é emocionante e sua presença é crucial para toda a trama.
O livro é cheio de tensões e reviravoltas, com estratégias políticas e formas diferentes de ver as situações. Mario Puzo consegue prender o leitor por muitas horas, fazendo com que você sempre queira saber o que vai acontecer em seguida. O leitor entra nas mentes dos personagens: você sente o ódio de Amerigo (um personagem que pede a Vito que vingue o estupro de sua filha), o desespero das situações e até mesmo acompanha o que uma mulher está sentindo na hora do sexo.
Don Vito Corleone é um personagem simplesmente incrível. Sua inteligência é invejável e seu carisma durante todo livro é cativante. Por vezes, durante a leitura, você pode ficar impressionado com a sua forma de pensar, mudando sua opinião sobre o que é uma figura criminosa. Dá até para se emocionar pelo carinho que ele tem pelos filhos e pela família – um verdadeiro exemplo de Padrinho.
PS: Um dos melhores livros que eu já li 😉