Em março de 2017, a Netflix nos apresentou 13 Reasons Why, uma série que representava, finalmente, o que é e no que pode resultar a depressão. Em seguida, seus assinantes foram apresentados a O Mínimo Para Viver, um filme estrelado por Lilly Collins (Simplesmente Acontece) e Keanu Reeves (Matrix) e dirigido por Marti Noxon, que trata de um assunto próximo, mas recebeu menos atenção.
O longa mostra as dificuldades e consequências que a bulimia e anorexia podem trazer à vida de alguém pelos olhos de Ellen (Collins), apresentando o espectador aos diversos conflitos mentais e às inúmeras idas e vindas de clinicas de reabilitação.
Logo nos primeiros minutos, descobrimos a origem tensa de Ellen, uma adolescente problemática estereotipada, bem introvertida, que desabafa de uma forma silenciosa por pinturas e que tem pouca intimidade com a família. Com o começo de seu distúrbio, ela se muda para viver com o pai ausente, a madrasta e a irmã postiça.
Ao longo dos anos, muitas vezes, ela tentou se tratar. Essas tentativas (e os fracassos) desgastaram a relação com sua família. No fundo, os familiares buscavam uma solução que só interessava realmente a quem queria ajudar Ellen, e não a ela própria. Quando o filme começa, ela está voltando de uma dessas tentativas para a casa do pai.
Ellen então conhece William Beckham (Reeves), um médico não-ortodoxo que tenta tratar os pacientes como pessoas independentes, e não como vítimas indefesas de seus distúrbios. Seu método, porém, acaba parecendo apático e chegando quase a níveis de descuido. Ellen se muda para a casa onde ela e outros pacientes recebem o tratamento, mas faz pouco progresso. No entanto, ao conhecer essas pessoas novas, ela começa a ganhar perspectiva sobre a própria vida.
Não há cenas especialmente chocantes e são menores as chances de que o filme seja gatilho para pessoas com anorexia ou bulimia (assim como 13 Reasons Why foi para pessoas com depressão). De qualquer jeito, é um filme impactante. O assunto é delicado e emocionante e não garanto que você saia com todos os seus canais lacrimais intactos.
Mas uma coisa que pode, sim, revoltar os telespectadores é que o final é aberto, talvez até demais. Falta alguma resolução ali. É possível tirar conclusões objetivas ou filosóficas sobre o futuro da protagonista, mas a inércia em relação a um progresso é o que marca esse desfecho.
No geral, O Mínimo Para Viver é um retrato tocante de um assunto que pode (e deve) ser muito mais explorado. O filme abre um canal não violento de discussão sobre um problema que só tende a abranger cada vez mais pessoas – complexadas graças aos padrões de beleza inalcançáveis e ao pouco incentivo à autoaceitação. É um alerta que pede licença para ser ouvido e que devemos aprender a notar mais.