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O que achamos de Aquarius, ou Precisamos falar sobre Clara

Por turma-do-fundao
Atualizado em 4 jul 2018, 20h32 - Publicado em 11 out 2016, 20h44

Pedro_Greco

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Se você não esteve em Marte nos últimos meses, certamente ouviu falar de Aquarius, filme de Kleber Mendonça Filho que estreou em setembro e ainda se encontra em cartaz. No Festival de Cannes, onde o longa foi exibido pela primeira vez, o elenco se manifestou em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, posicionando-se contra o processo. Obviamente, o ato foi apoiado por alguns e criticado severamente por outros. O longa chegou a sofrer ameaças de boicote devido ao posicionamento político dos atores.

Além disso, muitos acreditam que o filme foi inicialmente classificado para 18 anos no Brasil com o intuito de prejudicar o seu orçamento nos cinemas. Porém, nada foi confirmado. A atual classificação é de 16 anos.

As polêmicas serviram para aumentar a discussão em torno do filme e para polarizar a audiência, mas o fato é que, independentemente da posição política dos atores, Aquarius é uma história muito bem contada, algo que todo filme deveria tentar ser.

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Clara, jornalista e escritora aposentada de 65 anos, vive em seu apartamento na Avenida Boa Viagem, em Recife, de frente para a praia. Neste mesmo endereço, viveu boa parte da vida e criou os filhos, se apegando ao local. O edifício Aquarius, onde mora, é humilde se comparado à paisagem revitalizada do lugar.

Certo dia, a personagem recebe a proposta de vender seu apartamento para que a construtora Bonfim realize o projeto de construção de um novo prédio. Diego, neto do dono da construtora, comanda o seu primeiro projeto e encontra-se ambicioso após voltar dos seus estudos nos EUA. Porém Clara se recusa a sair do seu apartamento, provocando o conflito que alimenta o filme.

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O CABELO DE CLARA

A primeira parte do filme revela o significado do apartamento para a personagem. Nele, sua família viveu intensas memórias e criou raízes. O filme destaca inclusive lembranças que alguns móveis da casa guardam.

Clara é sobrevivente de câncer de mama e, quando mais jovem, passou por processos como quimioterapia e mastectomia de um dos seios. A experiência traumática serviu como um símbolo de força para ela, algo que ela demonstra ao longo do filme.

Quando mais velha, seu cabelo encontra-se crescido e firme. Em muitos momentos, o longa foca nos gestos que a personagem pratica com os cabelos, usando-os como arma de sedução, força ou simplesmente ajeitando-os.

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AS POLÊMICAS DE AQUARIUS

“Quando você gosta, é vintage, quando você não gosta, é velho.”

A situação de Clara não é simples. Imagine viver em um prédio onde você é o único morador, não há conforto ou segurança e há grande pressão para que se abandone o local, que é sagrado para você. Ainda assim, a personagem de Sônia Braga sustenta sua resiliência pelas duas horas e meia de filme, enfrentando aqueles que a contrariam ferozmente.

Em uma cena do filme, Clara recebe os filhos em seu apartamento e é novamente aconselhada a se mudar. Mais uma vez, a personagem relembra o significado sentimental da casa, tentando revelar aos filhos que não se trata somente do dinheiro e do conforto oferecido pela construtora Bonfim. O diálogo, riquíssimo, oferece ao espectador a relação entre os irmãos e os conflitos familiares.

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Ao pensar ser chamada de louca, Clara retruca: “Nenhum de vocês sabe como é ser chamado de maluco só porque os outros não compreendem a sua situação.” Ela então se volta para o filho, que é homossexual, e continua: “Não, só você sabe como é, meu filho, ser chamado de louco quando na verdade louco é todo o resto do mundo”.

A situação de Clara não é nem um pouco fictícia. O filme retrata a história de milhares de pessoas que vivem no mundo urbano e são pressionadas a deixar sua moradia por causa da gentrificação de seus bairros.

Alguns críticos realizaram uma análise mais profunda da história, alegando que ela retrata a atual situação política do Brasil. No filme, Clara torna-se a única moradora do edifício Aquarius, não possui o apoio dos filhos e muito menos da construtora para continuar no local e é pressionada de todas as formas possíveis para sair. Ela, ainda assim, revela resistência. Soa familiar?

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AQUARIUS É MÚSICA

Clara é luz, força e feminilidade. Sua história, como a de muitas outras mulheres que passaram pelo câncer de mama, é tocante e provoca reflexão. Mas o que ergue a personagem é, sem dúvida, a atuação impecável de Sônia Braga, que se torna musa para o espectador e para Kleber Mendonça Filho, o diretor.

O filme conta com uma direção perfeita, que molda as cenas de maneira original. Em muitas partes do filme não há falas, mas as imagens por si só dão continuidade à narrativa e isso torna tudo ainda mais excitante para quem está assistindo.

Na trilha sonora: Queen, Roberto Carlos e Gilberto Gil. As músicas fazem parte da vida de Clara e um dos aspectos interessantes do filme é o uso de música diegética, ou seja, a música que se ouve durante o longa também é ouvida pelos personagens. A trilha representa o sentimento de nostalgia, dando importância às memórias de Clara e fazendo com a que a personagem se conecte ao passado.

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Aquarius conta com grande elenco, direção, roteiro e trilha sonora, constituindo um filme de muita relevância para o público brasileiro, especialmente neste momento.

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