A dona do single de maior sucesso de 2012, Carly Rae Jepsen, retornou esse ano com seu terceiro álbum de estúdio, E•MO•TION. O disco se assemelha bastante ao último de Taylor Swift, 1989, e conta com 12/15 faixas nas edições padrão/deluxe, respectivamente.
Do começo ao fim, E•MO•TION se inspira no pop de Prince e Cyndi Lauper predominante nos anos 80, além de pegar um pouco dos trabalhos iniciais de Madonna. A paleta de sons é repleta de sintetizadores e as composições são bastante românticas. O disco também marca a estreia de grandes nomes no time de colaboradores de Carly, dentre eles Dev Hynes, Sia e Peter Svensson, que estão por trás de alguns sucessos de Rihanna, Katy Perry e Ariana Grande.
Numa primeira ouvida, o álbum pode não parecer tão novidade no cenário que o pop vivencia. Mas apostando na sutileza lírica, Carly sai da sua zona de conforto e inaugura uma postura mais madura e, por que não, sensual. “Run Away With Me”, que inicia o disco, é marcada imediatamente pelo saxofone, que segue até o final da música acompanhado de um baixo ritmado em loop. “Querido, me leve até aquela sensação, vou ser sua pecadora em segredo, quando as luzes se apagarem, fuja comigo”, canta Carly. Essa combinação é o que engrandece o produto final e cativa já na primeira ouvida.
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Musicalmente, no álbum também são perceptíveis elementos que remetem ao pop tradicional de Katy Perry e aos últimos trabalhos da sueca Robyn. Por exemplo, na faixa-título, a letra diz “em sua fantasia, sonhe comigo, e tudo o que poderíamos fazer com essa emoção, esta emoção, eu sinto, esta emoção, você sente”.
“Gimmie Love” tem versos sussurrados, com Carly fazendo uma súplica ao crush para que a ame, durante a percussão pulsante em ascensão – “Me dê amor, é a maneira que estamos juntos, quero me sentir assim pra sempre”. Com direito a coro do refrão em diante, é uma faixa memorável.
Durante todo o CD, é perceptível a insegurança e vulnerabilidade em vista da difícil missão de manter um relacionamento. “Desculpe, desculpe, eu te amo, eu não quis dizer o que eu disse, sinto sua falta, estou sendo sincera”, Carly solta em “Your Type”, novamente confessando estar entregue de corpo e alma para o amado, embora não seja correspondida.
“All That” ganha singularidade pela tonalidade mais introspectiva. Diferentemente de todas as outras faixas presentes, a baladinha expressa a entrega de corpo e alma da moça, em vista das incertezas vindas da outra parte do relacionamento, numa escolha instrumental que lembra bastante Cyndi Lauper.
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Funcionando como trilha sonora para road trips litorâneas, a incrivelmente agradável “Let’s Get Lost” chega carregada de romantismo, falando de dois apaixonados caindo sem rumo na estrada e sem hora para voltar. É um dos pontos altos do álbum. Fechando os destaques, “Warm Blood” desacelera o ritmo eufórico das anteriores e entra em uma atmosfera hipnótica, em que Carly confessa estar se apaixonando muito rapidamente. Tudo isso em meio à produção mais simples do disco, provavelmente a faixa mais sutil do material.
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Em 2012, Kiss trouxe o maior single mundial da época, “Call Me Maybe”, mas o projeto não trouxe o pacote completo. Sendo apenas um punhado de potenciais sucessos, mas que não traziam ousadia, o disco acabou caindo no lugar comum. Seu sucessor chega para comprovar o enriquecimento artístico de Carly Rae Jepsen em todos os sentidos. Embora ainda não tenha uma identidade musical totalmente clara, Carly mostra que quer chegar lá, mesmo que a longo prazo. Seu baixo desempenho em estúdio é compensado em dobro com o talento de compositora e, com E•MO•TION, Carly não só entregou seu trabalho mais sólido e coeso até aqui (além de um dos êxitos mais interessantes de 2015), como pode finalmente garantir seu merecido espaço no cenário musical.
E•MO•TION se empenha para provar as vantagens de ter sido produzido, com cada peça interligada com precisão, no estilo máquina-engrenagem. É surpreendentemente eficaz e, como o melhor da música pop, demanda ser ouvido ad nauseam.