Pedro Antônio Gabriel Anhorn. Esse é o nome do autor do personagem Antônio, que, nas suas constantes visitas a bares, usa e abusa de guardanapos para despejar suas desilusões amorosas, seu humor e suas alegrias em pequenas frases encharcadas de poesia.
No final de 2012, Pedro criou uma página no Facebook para expor sua arte feita nos guardanapos. Não deu outra: em menos de um ano, conseguiu mais de 300 mil seguidores. Hoje, são mais de 600 mil.
O sucesso foi tamanho que o resultado não poderia ser diferente: um livro. Mais precisamente, o primeiro livro de arte nacional da editora Intrínseca.
Amanhã, dia 22/2, acontece o lançamento de Eu Me Chamo Antônio (192 pgs., R$ 29,90) na Fnac do Shopping Morumbi (SP). A TdF conseguiu bater um papo com Pedro (ou Antônio?) pra saber um pouco mais da sua história, da sua arte e dos seus planos para o futuro.
Turma do Fundão: Você escreveu o primeiro verso em um guardanapo. O que te fez continuar escrevendo neles?
Pedro Gabriel: Acho que faz parte do personagem Antônio. Mas agora estou viciado em escrever neles, pois sinto que encontrei uma forma na qual me sinto à vontade, já criei uma relação com eles. O jeito de escrever, o peso da mão… é mais fácil para mim me expressar neles, é uma plataforma em que me sinto seguro.
TdF: E de onde vem tanta inspiração?
Pedro: A gente pode até falar que é do nada, mas o “do nada” vem com muita coisa antes: o que você viveu, suas lembranças e experiências, filmes, músicas, tudo isso vai ficando em você, e uma hora isso sai de alguma forma. Inspiração é tudo aquilo que eu vejo, que eu leio, que eu ouço.
TdF: Sabemos que você nasceu em Chade, na África, e veio para o Brasil com 12 anos, sem conseguir falar uma palavra da língua portuguesa. Como foi esse período de adaptação pra você?
Pedro: Nasci em um país no sul do deserto do Saara, por conta do meu pai, que trabalhava com ajuda humanitária. Com 12 anos, voltei para o Brasil com a minha mãe, brasileira, mas falando apenas francês. Estudei em escola francesa e, aos poucos, fui aprendendo nossa língua. Mas não foi fácil! Com 13 anos, ainda não escrevia nenhuma palavra direito. Mas essa distância entre eu e a língua da minha mãe acabou me ajudando, pois comecei a prestar atenção na sonoridade e na grafia das palavras.
TdF: Quando você descobriu que você tinha essa habilidade com as palavras?
Pedro: No que diz respeito aos guardanapos, comecei só no ano passado, quando frequentava o Café Lamas (RJ), um bar tradicional no caminho da minha casa. Depois do trabalho, passava por lá e, enquanto esperava meu pedido, rabiscava no guardanapo ali do balcão. Como um dia eu gostei do resultado, decidi fotografar e criei a página Eu Me Chamo Antônio. Mas era muito mais pra registrar as criações, sem pretensão de divulgar. Um guardanapo é tão frágil…
TdF: Como você está fazendo hoje pra lidar com tanto sucesso?
Pedro: Pra mim, é um susto! Mas um susto muito bom, porque eu criei sem intenção alguma no balcão de um bar o que era apenas um guardanapo com um desenho e um verso. Até hoje, a ficha não caiu. Minha mãe, que é doutora em história na UFRJ, agora é conhecida como a “mãe do Antônio”.
TdF: A partir do momento em que a sua arte começou a ser reconhecida e admirada por tanta gente, você passou a ter algum objetivo com seus leitores? Alguma história que queria contar?
Pedro: Tudo que coloquei nos guardanapos são coisas que realmente vivi. Eles são feitos sem pretensão de agradar alguém, apenas uma tentativa de exteriorizar aquilo que vivo e que sinto. Mas, desse jeito, as pessoas acabam de identificando ainda mais, pois elas conseguem sentir que há uma história por trás de tudo. Um cara que fala, com sinceridade, sobre o amor ou até humor. É algo meu, mas, a partir do momento em que o outro lê, torna-se dele também.
TdF: E como são as reações das pessoas?
Pedro: Elas dizem: “Ah, Pedro, esse guardanapo foi feito pra mim”, “É a minha cara!”.
É legal porque, às vezes, o que eu gosto menos é o preferido de várias pessoas, ou aquele que eu amo num dia e no dia seguinte já não gosto tanto assim. Depende muito do momento pelo qual cada um está passando. Funciona muito como um espelho.
TdF: Você escreve muito sobre amor. Precisa estar apaixonado pra isso?
Pedro: Não necessariamente. Você pode ter perdido um amor também ou falar sobre amores platônicos. Nos guardanapos, eu falo também sobre outros tipos de amor. No meu favorito, por exemplo, falo sobre o amor pelo meu avô.
TdF: Você também escreve contos. Já pensou em lançar um livro com eles? E outro livro do Antônio?
Pedro: Bom, eles não cabem em guardanapos. Ainda não pensei em um novo livro do Antônio. Quero aproveitar o momento e ver o que os leitores acharam do primeiro. Material é o que não falta. Lá em casa, tenho mais de mil guardanapos guardados. Mas um livro não é só pegar o material e colocar, tem toda uma construção. E lançar por lançar também não dá. Acho que, junto com a editora, veremos o momento certo pra isso.
TdF: Onde você guarda os guardanapos?
Pedro: Tenho uma maleta com eles, mas, como os mil não cabem lá, tenho uma gaveta também. Porém, todos estão fotografados.
TdF: Você tem um sonho?
Pedro: Eu tinha um que foi realizado: ter um livro meu lançado. E hoje acho que, como qualquer artista, sonho em pode viver da minha arte.
Saiba mais sobre o livro Eu Me Chamo Antônio e leia um trecho no site oficial.