Quando o diretor Marc Webb e a Sony Pcitures anunciaram o projeto de reiniciar a franquia de Homem-Aranha, alguns anos atrás, os discursos estavam alinhados. O objetivo era tornar o personagem mais moderno. E, em pelo menos três aspectos, eles foram bem-sucedidos.
O primeiro foi a reformulação de Peter Parker. Enquanto Tobey Maguire, na trilogia original, definia uma certa nerdice quase infantiloide exclusivamente com seu olhar crédulo, seu sorriso bobo e seu tom monocórdico, o britânico Andrew Garfield traz um aresenal de caretas e maneirismos. São sorrisos tímidos mal-contidos, gagueiras imprecisas, gestos exagerados. Garfield tem muito mais cara de galã do que Maguire jamais teve, e talvez seu casting tenha sido um acerto. Nesses mais de dez anos que separam Homem-Aranha e O Espetacular Homem-Aranha, a noção do que é ser nerd mudou drasticamente – e ninguém melhor do que um dos fundadores (ficcionais) do Facebook para criar uma versão contemporânea, em que a nerdice anda de skate, não presta atenção na aula e beira o cool.
Toda essa energia cinética nervosa de Parker também está lá quando ele veste a fantasia. Este é o segundo elemento modernizado pela produção. No mano-a-mano com o vilão Lagarto ou com outros criminosos da cidade, este Homem-Aranha é um animal completamente novo: mais ágil, mais rápido e provavelmente com mais truques na manga do que foi visto em toda a trilogia original. Webb foi astuto ao entender que o contato do público atual com o personagem não é pelas HQs, e sim, provavelmente, pela boa safra de games recentes, como Web of Shadows, Shattered Dimensions ou Marvel Vs Capcom 3. Os games foram, afinal, a primeira mídia a realmente coreografar tudo o que o Aranha era capaz de fazer – e quem gastou os dedos com qualquer um desses títulos terá um delicioso dejá vu assistindo a O Espetacular Homem-Aranha. (Uma pena que, nas cenas de ações mais abertas, passeando pelos arranha-céus da cidade, a sensação é só de dejà vu – a terceira dimensão não adiciona nada que Sam Raimi já não havia mostrado antes).
Por fim, o outro grande acerto foi propor uma nova namorada – e colocá-la, desde sempre, em pé de igualdade com o herói. Gwen Stacy (Emma Stone) é tão inteligente quanto ele. Trabalha como estagiária na Oscorp para o Dr. Curtis Connors (o alter-ego do vilão Lagarto) e exerce um papel fundamental no clímax. O Aranha jamais precisa salvá-la: sua função paternal é com a cidade de Nova York. Sobretudo, ao contrário da relação entre Parker e Mary Jane na trilogia original, Gwen demonstra tanto interesse por Peter quanto ele por ela, o que liberta Emma para fazer o cativante toma-lá-dá-cá das comédias românticas que, afinal, é seu ponto forte com atriz. O resultado é um casal com muito mais química do que Maguire e Kirsten Dunst.
Então podemos concluir que o novo filme é melhor que a trilogia original?… Não necessariamente. É irritante, por exemplo, perceber que buracos naquele roteiro de 2001 permanecem exatamente os mesmos em 2012, e ainda surgiram outros. A teia não-orgânica ganhou uma explicação mal ajambrada e todo o imbróglio sobre os pais de Peter não tem razão de ser – a julgar pelo epílogo, sua resolução foi empurrada para a continuação, em 2014. Além disso, o Lagarto não é um vilão marcante e há um enorme problema de ritmo na primeira metade do filme (Webb sabe que todo mundo já viu o Aranha antes, então não sente pressa nenhuma em mostrar o herói antes dos primeiros 50 minutos).
Mas voltemos ao discurso original do diretor e da distribuidora: ninguém falou em fazer um filme melhor, e sim, mais moderno. E, nesse sentido, este Aranha é mesmo um espetacular Homem-Aranha.