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10. Homem elástico

Bruno Moreno lambe o próprio cotovelo, dobra os joelhos para trás e estica o pescoço muito além do normal graças à hipermobilidade

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h47 - Publicado em 1 fev 2013, 22h00

Fêcris Vasconcellos

Superpoder – Hipermobilidade

Utilidade – Fazer movimentos inesperados no futebol

Frequência – 30% das pessoas têm algum grau de hipermobilidade. A dele é rara.

Você consegue lamber o próprio cotovelo? Bruno Moreno espicha a língua, entorta o braço e consegue. E essa não é a única habilidade do Homem Elástico de Minas Gerais, mais conhecido pelo nada lisonjeiro apelido de Torto. Desde criança, Bruno tem uma flexibilidade fora do comum. Ele estica o pescoço, dobra os joelhos parcialmente para trás e faz diversos movimentos impensáveis. “Alguns ligamentos e alguns dos meus músculos conseguem fazer o que é a posição de alongamento para outras pessoas sem ter que fazer força”, diz. O garoto se diverte com a vantagem física apresentando o que chama de “O Show do Torto” para amigos e familiares. Recentemente, Bruno também se espichou todo para ganhar os seus 15 minutos de fama, repetindo a performance em programas de TV.

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O superpoder é, na verdade, resultado de algo que está escrito em cada célula do corpo de Moreno. De acordo com a pesquisadora Neuseli Lamari, essa anomalia é chamada de hipermobilidade. “É uma mutação genética dos tecidos caracterizada por uma alteração numa proteína que dá sustentação aos tecidos”, afirma a médica, estudiosa do assunto há mais de 30 anos e titular da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, interior de São Paulo. O colágeno age de modo diferente no corpo dessas pessoas e é isso que faz com que seus tecidos sejam mais maleáveis. Essa anomalia tem causa desconhecida, mas é herdada principalmente da mãe. Parece rara? Aí que você se engana – 30% da população mundial a tem, de acordo com estimativas. A diferença é que Moreno conta com a hipermobilidade em mais pontos do corpo (veja o teste). Neuseli explica que, até 10 anos atrás, só era considerado hipermóvel quem apresentava a elasticidade elevada em todas as articulações. Hoje não é mais assim. É convenção que haja casos de hipermobilidade localizada, ou seja, em apenas uma estrutura. Por grupos étnicos, o Homem Elástico também é uma raridade. Há mais casos nos orientais, depois nos negros e, em último, nos brancos, que é o caso de Moreno. Embora essa seja uma característica transmitida de pais para filhos, o jovem não encontrou nenhum outro caso diagnosticado nos galhos mais altos de sua árvore genealógica. Moreno foi diagnosticado ainda quando criança e logo encaminhado para realinhamento postural e exercícios físicos. Ele adora a genética diferenciada e se diverte exibindo alongamentos bizarros. Além disso, Moreno diz que tem mais facilidade para praticar esportes justamente por ser mais elástico. “Quando jogo futebol, aproveito que meu corpo é assim e faço umas jogadas incomuns”, afirma.

Alongamento e ioga, obviamente, são brincadeira de criança para Bruno e para os outros hipermóveis. É importante salientar a diferença: uma pessoa que não tenha essa característica genética leva anos para conseguir fazer algumas posições de ioga, por exemplo. E, se essa pessoa treinada para de praticar por um tempo, volta a ter dificuldade. Moreno não. Se alguém pede para ele esticar o pé até a cabeça hoje, ele consegue. Se ele passar 10 anos sem fazê-lo e tentar novamente, vai conseguir com a mesma facilidade.

Neuseli explica que não há mal em brincar com o tal superpoder, mas que é preciso acompanhamento. Não é a ambição de Moreno, mas muitos hipermóveis acabam vivendo de sua anomalia, trabalhando em circos e programas de televisão. “Pode trabalhar no circo? Pode, desde que seja em um local que tenha estrutura e orientação profissional para evitar lesões”, diz. A médica explica que as articulações, por mais que sejam hipermóveis, precisam de estabilidade, ou seja, não é uma boa exercer sua elasticidade à toa. Acompanhamento e alinhamento postural são fundamentais para que essas pessoas desenvolvam a consciência dos limites de seu corpo.

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Moreno, como todo bebê, nasceu conseguindo levar o pé à boca. Foi com o passar dos anos que as articulações dos outros foram enrijecendo e as dele não. Se os pais não o tivessem levado para um cuidado profissional, ele correria o risco de ter sérios problemas. A especialista Neuseli explica que a hipermobilidade pode ser muito divertida para quem vê, mas não é tão divertida para quem vive. “Esse colágeno não está apenas no aparelho locomotor. Tem também na bexiga, por exemplo. Então a bexiga pode também ter hipermobilidade”, afirma a pesquisadora. As consequências são bem maiores que apenas a risada da plateia. O problema pode atacar os tecidos da bexiga, provocando perda de urina. Outro exemplo é a válvula mitral, parte importante do coração, que pode sofrer um colapso e provocar a morte súblita do paciente. Artrites, atroses e outras falhas nas articulações podem, diferentemente de problemas que chegam com a idade, acometer os hipermóveis precocemente. Fortes dores nas articulações são comuns nesses casos.

Uma companheira frequente dos hipermóveis é a síndrome de Ehlers-Danlos. Nem todas as pessoas que têm a anomalia são também doentes – mas todas as pessoas que a possuem são hipermóveis. Por isso, o diagnóstico da superelasticidade é um primeiro passo para a investigação. A síndrome é uma mobilidade aumentada nas articulações e na pele. A doença tem vários níveis, desde um mais leve, que requer apenas mais cuidados com exercícios físicos, até os mais graves, como problemas cardíacos e em outros órgãos. Cair com frequência, criar hematomas na pele com qualquer batida, escoliose, cicatrizes largas e até miopia são sintomas que, se combinados, podem significar a presença da síndrome. O diagnóstico rápido e o tratamento continuado são as principais medidas.

Você é um hipermóvel?
Some um ponto para cada etapa. Se somar 4 ou mais pontos (considerando cada lado do corpo separadamente), deve procurar um médico para avaliação mais aprofundada.

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1. Estique o braço direito com a palma da mão virada para a terra. Puxe o polegar na direção do antebraço. Se encostar, some um ponto (repita no braço esquerdo).

2. Estique o braço direito com a palma da mão voltada para o teto. Observe seu cotovelo. Se o côncavo estiver para cima (ou seja, o cotovelo aberto mais que 180°) mais que 10°, some um ponto (repita no braço esquerdo).

3. Coloque a mão em uma superfície plana com a palma voltada para baixo. Pegue seu dedo mínimo e puxe na direção do braço. Se ele subir a mais de 90° (mais que reto para cima), some mais um ponto (repita na mão esquerda)

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4. Em pé, estique as pernas. Se os joelhos não ficarem retos, mas, sim, com uma curvatura para trás, some um ponto para cada perna.

5. Em pé, tente colocar as mãos no chão em frente a seus pés sem dobrar os joelhos. Se conseguir encostar as palmas das mãos no chão, some um ponto.

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