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21. “Eu te dei educação.”

A verdade: Personalidade é resultado dos genes e do meio. Mas, nesse ambiente, a instrução dos pais conta pouco

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h45 - Publicado em 8 mar 2013, 22h00

Maurício Horta

O filho arrota à mesa e a mãe lhe pergunta onde aprendeu tais modos incivilizados. A resposta é simples. Na rua. Pais podem oferecer proteção, alimentos e genes. Sem isso, seus filhos não existiriam. Mas o que dizer do resto? Idioma, modos, crenças… Assim como grande parte dos psicólogos que estudam o desenvolvimento de crianças, Judith Harris acreditava que tudo isso viesse da criação dada pelos pais. Até que, enquanto fazia mestrado em Harvard, ela se mudou para uma pensão. No andar de baixo moravam os proprietários – um casal russo com 3 filhos. Os pais falavam em russo entre si e com seus filhos. Mas, enquanto os dois tinham um inglês muito ruim, seus filhos – o mais novo com 5 anos e o mais velho com 9 – falavam com um perfeito sotaque de Boston. Também se comportavam como as outras crianças da rua. Estava claro para Harris que os filhos dos proprietários não aprenderam com seus pais russos a falar e se comportar como americanos. Outro buraco apareceu quando ela analisou o caso de crianças britânicas de classe alta. Ainda que fossem criadas por babás ou governantas e se mudassem para internatos por volta dos 8 anos, elas chegavam à vida adulta se comportando de forma semelhante aos pais. Harris teve duas conclusões. Primeiro, parte da personalidade é de fato genética (o que é provado por estudos que identificam traços de personalidade muito semelhantes entre irmãos gêmeos separados na infância). E o resto vem do ambiente. Não, ambiente aqui não é sinônimo de criação, mas de situações em que crianças interagem com seus iguais. Com irmãos e primos, com amigos e inimigos da rua, com panelinhas na sala de aula, com o time de futebol, com a turma que ouve o mesmo tipo de música. Cada um desses grupos tem uma cultura e um conjunto de regras próprios, em parte adotados de fora, em parte criados dentro dele mesmo. Quando convivem com esses iguais, crianças e adolescentes precisam descobrir quais seus lugares e como ganhar status. Para isso, eles se comparam aos seus iguais, avaliam em que são fortes e em que são fracos. Então, começam a se especializar e a desenvolver estratégias deles mesmos. Isso continua a acontecer até chegarem a uma personalidade bem delineada na idade adulta. Não é que pais tenham papel zero. A criação pode não influenciar muito o que acontece na rua, mas importa dentro de casa (ainda que muito da forma como os pais criam seja uma resposta ao temperamento inato do filho, não necessariamente um retrato dos valores dos pais). Pais também podem escolher a vizinhança, a escola, as atividades extraclasse e a igreja que os filhos frequentarão. Ainda assim não têm controle sobre o que acontece nesses ambientes nem sobre os papéis que seus filhos vão ocupar neles. Filhos não são uma página em branco na qual pais podem escrever a história que bem entenderem.

O QUE RESTA FAZER

“Pais desanimados sabem que não são capazes de levar a melhor sobre o grupo de iguais de seus filhos e acertadamente vivem obcecados pela melhor vizinhança possível para criar seus rebentos.”
Steven Pinker, neurocientista.

Conviver com amigos é mais importante do que ouvir os pais
Se jovens simplesmente seguissem seus pais, não desenvolveriam estratégias inovadoras

Por que crianças e adolescentes aprendem seus comportamentos e estratégias sociais com seus iguais e não apenas seguindo instruções de seus pais? Não seria mais fácil receber a receita pronta de como viver em sociedade do que quebrar a cabeça na tentativa e erro das brincadeiras na infância e do convívio em grupos de amigos na adolescência? Não para Anthony Pellegrini, psicólogo da Universidade de Minnesota. “Parte da resposta para isso é que a tutela de adultos é rara na história humana”, afirma ele. Afinal, ao longo da evolução, não havia nada parecido com o sistema escolar. “Mas o mais fundamental é que a tutela e a observação de adultos só transmitiriam práticas existentes.” O possível benefício do jogo em relação à instrução de adultos é que comportamentos gerados na interação com iguais são mais inovadores. Isso é essencial para a sobrevivência humana, pois estratégias precisam mudar conforme mudanças de ambientes. Não fosse por isso, dificilmente nos adaptaríamos a novos meios sociais ou regiões geográficas. Ao interagir com seus iguais, jovens podem observar comportamentos e estratégias dos aldultos, mas então recombiná-los de formas diferentes. Além disso, esse tipo de atividade tem custos e riscos baixos. Como pouca coisa há a perder em brincadeiras (ninguém vai passar fome porque está desperdiçando tempo produtivo com seus amigos), jovens podem se dar o luxo do erro. Afinal, “não é para valer”. Assim podem descobrir estratégias novas que tragam benefícios e deixar de lado as que tragam danos. A brincadeira é a origem da inovação.

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