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5 mitos sobre a criação de filhos que ninguém tinha coragem de te contar

Até agora.

Por Gisela Blanco
Atualizado em 30 jan 2018, 17h02 - Publicado em 2 fev 2013, 22h00

Açúcar, televisão, sujeira. Tudo isso faz mal, certo? Nem sempre. Como a ciência e a medicina estão em constante evolução, boa parte do que se acreditava ser saudável ontem pode fazer mal amanhã. E vice-versa. Na criação de filhos é a mesma coisa: muito do que o senso comum indica que os pais devam proibir ou evitar na verdade podem ser itens muito saudáveis para o desenvolvimento das crianças.

Antes de tomar alguma recomendação como verdade absoluta, é bom lembrar que em outros tempos a palmatória era um objeto comum para educar estudantes nas escolas e que, no início do século passado, pastilhas de cocaína eram usadas para tratar a dor de dente em crianças pequenas – duas coisas inimagináveis hoje. Que tal agora conhecer um outro lado dos vilões atuais? Então deixe antigos conceitos de lado e vire a página.

Mito 1 – açúcar deixa as crianças agitadas

(Fascinadora/iStock)

Pirulitos, balinhas, sorvete: além de engordar e causar cáries, essas bombas de açúcar dão tanta energia que funcionam como drogas estimulantes, capazes de fazer as crianças rodopiarem pela sala a noite inteira. Ok, as duas primeiras afirmações são verdadeiras, mas a última é puro mito.

O grande vilão da alimentação infantil pode não ser uma maravilha da alimentação, mas também não é um estimulante. “O chocolate, por conter cafeína, pode de fato deixar as crianças mais agitadas. Mas o açúcar sozinho, não”, diz Isa Jorge, nutricionista e professora da USP.

Como algumas crianças já são agitadas por natureza, ganhar um doce pode ser um motivo a mais de felicidade que vai deixá-las acesas por mais tempo – daí uma razão para que os pais tenham a impressão de que ela está mais ativa.

“Pelo contrário, por ser um sabor conhecido das crianças, o açúcar pode trazer conforto e ter efeito calmante”, diz a nutricionista. Não é à toa que se oferece um copo de água com açúcar para alguém que acabou de tomar um susto. Em uma pesquisa do centro de estudos sobre paladar Monell, na Filadélfia, de 198 crianças, metade foi capaz de suportar dor por mais tempo depois de tomar água com açúcar. Além de ser o primeiro sabor reconhecido pelas crianças pequenas, o vilão também pode funcionar como um analgésico.

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Mito 2 – Sujeira ajuda a criar anticorpos

(leolintang/iStock)

Como já diriam as propagandas de sabão em pó, para que as crianças cresçam saudáveis, faz bem uma boa dose de vitamina “S” (de sujeira), certo? Por isso, virou moda entre os pais moderninhos deixar o filho se esbaldar na lama.

Os argumentos em prol dessa atitude vêm da Teoria da Higiene, proposta pelo médico inglês David Strachan no fim dos anos 80. Ele concluiu que crianças nascidas em famílias com muitos irmãos, expostas a mais agentes infecciosos, teriam menos alergias, pois colocam seu sistema imunológico para trabalhar. Ou seja: o aumento dos casos de doenças como asma, bronquite e rinite seria causado pelo excesso de limpeza e pelo pouco contato com outras pessoas contaminadas.

A partir dela, surgiram vários experimentos e análises – que comparavam desde a incidência de asma nas Alemanhas Ocidental e Oriental (a primeira, mais rica, tinha mais) até o aumento de diabetes em ratos de laboratório que cresceram em um ambiente limpinho. Acontece que, apesar de todos os testes e subteorias que ela gerou, a Teoria da Higiene nunca foi comprovada e aceita oficialmente.

“Sujeira faz mal, sim. Principalmente até os dois anos de idade, quando toda criança ainda é imunologicamente deficiente”, afirma o pediatra Sérgio Eiji Furuta, da Unifesp. Vale lembrar também que muitos dos defensores da Teoria da Higiene vivem em países desenvolvidos, onde muitas doenças já foram erradicadas. “Deixar no Brasil que seu filho coma areia do parquinho é colocá-lo em risco de pegar toxoplasmose e outras doenças tropicais”, diz Furuta.

Nos primeiros seis meses de vida, o organismo do bebê ainda é tão frágil que uma simples gripe pode matar. O ideal nessa fase é seguir aquelas velhas regras: mantê-lo longe de qualquer local contaminado e pedir para que todas as visitas que chegam da rua lavem as mãos antes de pegá-lo no colo. Com o tempo, o bebê vai aumentando sua capacidade de produzir anticorpos, e os cuidados podem diminuir.

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Mas calma, não há motivo para paranoia. Pode deixar a criança comer a bolacha que caiu no chão rapidinho. É tudo uma questão de bom senso – ou de que chão estamos falando. “Se for em um hospital, no meio da rua ou parquinho, de jeito nenhum. Já no chão de casa, que está sempre limpo, tudo bem”, afirma o pediatra.

Mito 3 – Mamadeira é sempre pior do que leite materno

(Magone/iStock)

Em qualquer caixa de leite em pó, está a advertência do Ministério da Saúde: “O aleitamento materno evita infecções e alergias e é recomendado até os dois anos ou mais”. Desde 2001, a Organização Mundial da Saúde recomenda que até os seis meses de idade a criança não tome ou coma nada, a não ser leite materno. Seria isso mais uma mentira que os médicos contam às mães?

Não. Não há dúvidas de que o leite produzido pela própria mãe é o melhor para mamíferos de qualquer espécie – inclusive humanos. Transmite anticorpos da mãe e é mais fácil de ser digerido e ter suas vitaminas aproveitadas pelo corpo do bebê.

O problema é que nem toda mulher pode ou gosta de amamentar. Mesmo as que podem às vezes não devem, como no caso das que precisam tomar remédios como antidepressivos, já que os princípios ativos podem passar pelo leite. Também acontece com frequência de o bebê se recusar a mamar no peito da mãe.

Em casos assim, ninguém precisa ficar paranoico com a saúde futura do bebê. “Hoje temos fórmulas de leite de vaca em pó que imitam muito bem a composição do leite materno. São alimentos saudáveis e confiáveis”, afirma o pediatra Sérgio Eiji Furuta, da Unifesp. O maior problema é em relação ao tipo de proteína do leite da vaca, principalmente nos três primeiros meses de vida, que é mais difícil de ser processado e pode aumentar as chances de alergias.

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Outra perda é em relação aos anticorpos que o bebê só recebe pelo leite da mãe. Mas isso não significa que os bebês adeptos da mamadeira vão necessariamente ficar mais doentes. “Faz mais diferença nessa fase colocar a criança na creche, onde ela fica exposta a um número enorme de vírus e bactérias”, afirma.

Outro ponto polêmico é o tempo de amamentação exclusiva até os seis meses de idade. No ano passado, uma equipe formada por pediatras e nutricionistas da University College, de Londres, ousou contra-argumentar as recomendações da OMS.

Depois de fazer uma revisão de várias pesquisas, concluíram que as crianças deveriam comer alimentos sólidos a partir dos quatro meses de idade, para evitar anemia por deficiência de ferro e um maior risco de alergias alimentares. De acordo com os pesquisadores, os conselhos da OMS servem mais para países subdesenvolvidos, com pouco saneamento básico, onde há maiores riscos de que o alimento oferecido ou a água usada para fazer uma mamadeira estejam contaminados.

Se existe uma patrulha em relação à amamentação exclusiva, também há preconceito no outro lado: gente que acha um absurdo crianças que mamam muito além dos dois anos. Pode parecer esquisito mesmo, mas os médicos garantem que não há nenhuma contraindicação. Nem mesmo psicológica. “Apenas um comportamento isolado não é o bastante para dizer que há uma dependência patológica”, afirma a psiquiatra Daniela Ceron-Litvoc, pesquisadora da Unifesp. Amamentar um bebê crescidinho pode, afinal, ser também cultural. No Nepal, por exemplo, 93% das crianças ainda mamam aos dois anos de idade.

Mito 4 – Televisão afasta as crianças dos livros

(mactrunk/iStock)

Se a sua avó ainda acredita que a televisão atrapalha o desenvolvimento das crianças, pode contar para ela que esse é mais um mito. A impressão de que elas ficariam preguiçosas e com aversão aos livros é falsa. “Não dá para dizer que a televisão faz mal por princípio”, afirma a educadora Rosália Duarte, especialista em educação da PUC-Rio. “O problema é restringir o tempo da criança a uma atividade só. Brincar somente na rua ou praticar esportes o dia inteiro também não vai ser bom”, diz.

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Segundo a Academia Americana de Pediatria, o ideal é que as crianças passem no máximo duas horas por dia em frente a telas luminosas (computadores e celulares entram na conta). E existe uma forma correta de assistir: de preferência em família. “Pesquisas mostram que assim a experiência muda completamente. Como quando leem um livro com um adulto e comentam sobre ele”, afirma Roberta Golinkoff, especialista em linguagem e educação da Universidade de Delaware, nos EUA.

E quanto às pesquisas que dizem que a TV tem impacto negativo nas notas escolares? Para provar que elas não representam a realidade, os economistas Matthew Gentzkow e Jesse Shapiro, da Universidade de Chicago, analisaram as notas de 300 mil crianças americanas que nasceram por volta de 1947, quando a televisão chegou em alguns Estados. Excluídas as diferenças sócio-econômicas, oito anos depois as notas daqueles que tinham televisão em casa não eram nada piores do que as das outras crianças. Em muitos casos, eram melhores. E olha que naquela época os programas não eram assim tão educativos.

“Quanto maior a diversidade de experiências, melhor para a educação. E a TV contribui mostrando várias atividades culturais”, diz Rosália Duarte.

Mito 5 – Videogame atrapalha a concentração

Pelo contrário. Não só os pais modernos, que também cresceram jogando, mas psicólogos e neurocientistas já sabem hoje que os jogos eletrônicos trazem uma série de benefícios para as crianças – do aumento da concentração à capacidade de tomar decisões.

Se alguém aí se pergunta como enfrentar monstros ou acelerar um carro virtual pode ajudar a desenvolver habilidades intelectuais, entenda: o importante não é no que você está pensando enquanto joga, mas a forma como você está pensando. Em boa parte dos jogos, a criança é obrigada a parar para coletar evidências, analisar situações, prever o desenrolar da partida, consultar seus objetivos a longo prazo e só então decidir.

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Os games podem inclusive ajudar a melhorar o foco em crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Nos Estados Unidos, a Nasa estuda alguns desses efeitos benéficos há mais de dez anos. “Livros ativam nossa imaginação e música desperta emoções, mas os jogos te forçam a decidir, escolher, priorizar”, afirma o escritor Steven Johnson no livro Tudo que é Ruim é Bom pra Você (Zahar, 2012).

Segundo os especialistas, o segredo para o sucesso – e para afastar o sedentarismo e a obesidade frequentemente relacionados aos videogames – é moderação. É preciso aprender a limitar o tempo de uso e garantir que a criança tenha outras atividades além dos jogos – pratique esportes, brinque ao ar livre, leia livros.

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