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A Inteligência Artificial vai matar o sarcasmo

O mundo está ficando chato? Imagina quando seu senso de humor for igual ao do Google Now

Por Ana Carolina Leonardi
Atualizado em 11 mar 2024, 11h10 - Publicado em 11 jul 2016, 16h00

A Inteligência Artificial está cada vez mais avançada – e já aprendeu a nos imitar. A Siri, da Apple, é capaz de entender seu padrão normal de fala e faz até piadinhas com Game of Thrones. O próximo passo é a conversa com um bot se tornar indistinguível de um papo com outro ser humano.

Segundo a psicóloga israelense Liraz Margalit, que escreve para o site Psychology Today, quando interagimos com A.I.s (entidades de inteligência artificial) falantes, nosso cérebro processa a interação virtual como se fosse real – inclusive atribuindo características humanas aos chatbots. É a mesma coisa que fazemos com animais de estimação, uma tendência natural chamada de “antropomorfismo”.

O problema é que nossa relação com as A.I. pode mudar a forma como conversamos uns com os outros – e empobrecer a linguagem.

Um bate papo humano não é marcado só por palavras. O tom de voz e as expressões faciais complementa o significado do que está sendo dito. Até por isso, é muito mais fácil acontecer um mal entendido pela internet – falta olhar nos olhos de quem está falando.

Já os robôs não precisam se envolver emocionalmente nem interpretar sinais não verbais. Simplificamos nossa linguagem ao tratar com eles e os dois lados se compreendem facilmente. É aí que a história complica.

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O cérebro humano tem a tendência evolutiva de preferir a simplificação no lugar da complexidade, o que Margalit chama de “preguiça cognitiva”. Nossas interações cognitivamente simples com os robôs podem, então, estimular a construção de um novo modelo mental de interação social.

Nesse novo formato, não cabe uma forma de comunicação mais tênue e mais difícil de interpretar, que depende totalmente dos sinais não verbais, como o sarcasmo e a ironia.

Esse empobrecimento do bate papo ainda é o melhor dos cenários. A grande preocupação da psicóloga tem mais a ver com o filme Her: que a gente substitua relações humanas por relações com inteligência artificial.

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E há muitos motivos para isso. Em primeiro lugar, falando com a Siri você é capaz de atingir seu objetivo – seja ele fazer uma pesquisa, saber sobre o tempo ou simplesmente ter a sensação de companhia – sem custo nenhum, de forma absolutamente conveniente. Você não precisa ser educado, sorrir, se envolver nem se colocar no lugar do outro.

Além disso, todas as relações envolvem jogo de poder. Só que, no caso da Inteligência Artificial, você é sempre o “chefe”, e está na posição dominante – afinal, esse companheiro virtual foi programado exclusivamente para te servir. “A combinação entre inteligência, lealdade e fidelidade é irresistível à mente humana”, explica Margalit. Isso alimenta nosso egoísmo primitivo: podemos ser ouvidos sem ter que escutar.

Aí sim vai dar para dizer que “o mundo está ficando chato”: um monte de Sheldons, mimados e alheios à qualquer sarcasmo, conversando entre si e com as máquinas, sem nenhuma plateia capaz de entender a ironia da situação.

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