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Bilíngues confundem o que veem com o que escutam

Pesquisa afirma que controlar vários idiomas no cérebro têm consequências permanentes sobre como o indivíduo processa informações auditivas e visuais

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 14 Maio 2018, 15h38 - Publicado em 14 Maio 2018, 14h09

Estimativas indicam que metade do mundo é bilíngue. Essa característica definitivamente não se aplica ao Brasil, onde apenas 5% da população fala uma segunda língua. Dominar um segundo idioma, além de trazer vantagens para o mercado de trabalho, pode provocar efeitos colaterais, como o desenvolvimento de múltiplas personalidades (uma para cada língua que se fala), por exemplo. E outras desvantagens também existem: segundo um novo estudo da Northwestern University, pessoas bilíngues estão mais sujeitas a confundir o que veem e o que ouvem, ou seja, sofrer com o Efeito McGurk.

A relação entre audição e visão é bem maior do que imaginamos. Para entender a fala, esses dois sentidos trabalham em conjunto, e o Efeito McGurk é gerado em consequência disso. Se você escuta alguém falando \ba\, mas a imagem que vê é a expressão labial referente ao fonema \ga\, seu cérebro pode interpretar de uma terceira maneira: você dirá que ouviu \da\. Essa ilusão recebeu o nome do cientista que a descobriu em 1976 e a expôs pela primeira vez no estudo “Ouvindo lábios e vendo vozes”, publicado na Nature.

A pesquisa atual descobriu que bilíngues estão mais sujeitos a essa ilusão. Ela afirma que o que vemos está profundamente relacionado com o que ouvimos, e que fluentes em mais de uma língua têm maior dependência das informações visuais (o que não está relacionado com o nível de proficiência nas duas línguas) para processar a linguagem falada. Estudos anteriores relataram que, se uma pessoa fala vários idiomas, eles podem competir no cérebro, tornando mais difícil para os bilíngues processarem o que ouvem. Por necessidade, eles acabam confiando muito no que veem para compreender o que escutam.

“Uma pessoa bilíngue e outra monolíngue escutando o mesmo discurso podem ouvir dois sons completamente diferentes, mostrando que a experiência da linguagem afeta até mesmo os processos cognitivos mais básicos”, disse Sayuri Hayakawa, uma das autoras do estudo.

Olhando por outro lado, o fato de bilíngues estarem mais sujeitos a esse efeito significa que eles são melhores em integrar os sentidos para interpretar os discursos. Isso não acontece com todos – por exemplo, pessoas que veem filmes dublados podem nunca sofrer com o efeito, já que o cérebro delas se habituou a não associar, obrigatoriamente, expressões labiais a sons.

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