“Cada dia, a gente viaja com menos”
Aos 29 anos, recém-casados, Isabela Figueiredo e Rafael Avila largaram tudo e foram rodar pela América do Sul. Nunca mais voltaram. Desde dezembro de 2012, seu jipe é sua casa. Ao longo de 50 mil quilômetros, viram conflitos, corrupção e mudaram seu jeito de ver o mundo. E não param por aí: querem dar a volta ao mundo.
SUPER – Por que largar tudo e viajar?
Isabela – A gente queria sair desse esquema de só se importar com trabalho. Queria diminuir o ritmo.
SUPER – E com que vocês trabalhavam?
Isabela – Eu era gerente em uma operadora de turismo e o Rafa era gerente em uma empresa de shopping center.
SUPER – Como foi a preparação?
Isabela – Começou um ano antes, com o projeto, o roteiro, a escolha de um carro 4×4 para entrar em qualquer terreno.
Rafael – Só que o jipe tem 10 anos, precisou de uma bela revisão mecânica. E o orçamento não era alto, a gente fez o que pôde por conta própria. Enfim: economizamos, nos planejamos e fomos.
SUPER – Rolou algum problema inesperado?
Isabela – O gás do fogão.
SUPER – Por quê?
Isabela – Acontece que, na Bolívia, o gás é subsidiado. É ilegal deixar o país com um cilindro, para evitar contrabando.
Rafael – Na verdade, a gente sempre tinha problemas com o gás. A entrada da boca é diferente em cada país, era difícil abastecer. E faltar gás significa faltar comida.
SUPER – Tiveram problemas nas fronteiras?
Rafael – Polícia corrupta. Sempre insinuavam alguma coisa, buscavam problemas inexistentes no carro. Só no Chile a polícia pareceu mais honesta.
Isabela – Na Venezuela, a polícia é muito autoritária, nos parou durante muito tempo. Os policiais queriam presentes do Brasil. No fim, dei uma nota de R$ 2 e umas balinhas.
SUPER – Em que lugar vocês se sentiram menos seguros?
Isabela – Fomos roubados na Colômbia. Ouvimos muitas histórias de violência lá: menina vendada no meio do mato, um camping assaltado por um grupo. E em todas as estradas colombianas vimos exército fortemente armado.
SUPER – Algum lugar surpreendeu vocês?
Isabela – O brasileiro pensa que o Peru e a Bolívia são muito pobres. Mas eles são culturalmente diferentes. Lá, não dá para ver quem tem dinheiro, essa diferença social não é tão gritante.
SUPER – Quais os próximos passos?
Isabela – Europa, Ásia e África, o mundo. Cada dia, a gente viaja com menos. Prolongamos a viagem de 18 meses para três anos com o mesmo dinheiro.
SUPER – Como vocês reduziram gastos?
Isabela – Passamos a contar às pessoas nossa história, assim conseguimos ajuda, hospedagem. Há também adaptações, como andar mais devagar para economizar combustível e comprar a fruta mais barata do país.
SUPER – A viagem mudou vocês?
Isabela – Sim. A gente saiu para ter uma vida mais simples, mas ainda apegados a um monte de coisas. Aí elas se tornam banais, comprar isso ou aquilo perde o sentido. Você se apega à essência da viagem. Hoje, me preocupo se minha roupa está limpa, não se está nova.