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Cães selvagens da África espirram para aprovar ideias dos colegas

Quando um mabeco – esse orelhudo aí embaixo – quer ir caçar, a ideia vai à votação. Os outros espirram para dizer "sim". Ou não.

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
11 set 2017, 19h06

Sabe quando você olha para uma luz muito forte e aí espirra sem explicação? Cuidado para não fazer isso nas savanas da África. Um mabeco – cão selvagem e bem dentuço de nome científico Lycaon pictus – pode entender isso como um chamado da alcateia. E vir correndo na sua direção.

Um artigo científico publicado ontem revela que essa espécie de lobo dos trópicos – que está em risco de extinção – é o único animal social da natureza que se comunica com seus iguais espirrando. Sim, da mesma forma que humanos falam, chimpanzés gesticulam e abelhas liberam feromônios (ou dançam).

Quando um dos cães propõe partir em uma caçada, há uma espécie de votação em praça pública. Os cães que toparem acompanhá-lo precisam espirrar “de mentira” (em termos técnicos, exalar ar rapidamente e de forma audível) para dizer “sim”. Se o quórum for considerado suficiente – ou seja, se um número mínimo e pré-estabelecido de membros concordar com a decisão –, todos partem juntos, sem discutir.

Esse limite mínimo varia de acordo com o status social de quem teve a ideia do rolê. Se é um cão com autoridade que quer sair, são necessários menos votos para o grupo todo concordar. Um cão mais inexperiente, por outro lado, precisa ter o horário de almoço aprovado por um número maior de iguais para que a caçada saia do papel. Ou seja: há uma espécie de “rei” ou “presidente” no poder, mas também há uma espécie de congresso para ponderar suas decisões. Uma manifestação primitiva de democracia.

As “votações” ocorrem em intervalos periódicos, quando os cães, que em geral dormem em horários parecidos, acordam mais ao menos ao mesmo tempo e começam um rally, um momento de intensa interação em que eles parecem querer brincar. Segundo os pesquisadores, que chegaram a essas conclusões após passar um ano observando cinco alcateias em Botsuana, entender os padrões comportamentais do Lycaon pictus permitirá melhorar as estratégias de preservação desse canídeo pouco afeito a seres humanos – e evitar, com alguma sorte, sua extinção. Alguém vota contra?

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