Cidades grandes: Elas têm jeito, sim
Com criatividade e emplenho coletivo, metrópoles de vários países conseguem reverter a crise
Spensy Pimentel
Diante do cenário apocalíptico de algumas das maiores megalópoles do planeta, muita gente chega à conclusão de que, talvez, o melhor para a humanidade seria regressar à pacata vidinha rural dos nossos ancestrais. Mas exemplos no mundo inteiro indicam que é possível encontrar soluções simples para grandes mazelas urbanas, como o crime, os congestionamentos e a sujeira. Programas de reciclagem do lixo, como os que já existem em Porto Alegre ou Manila, nas Filipinas, geram renda para a população carente ao mesmo tempo que previnem a degradação ambiental. A reforma de centros históricos como a realizada no Pelourinho, a parte mais antiga de Salvador atrai o turismo e melhora a qualidade de vida da população. Em Portland, capital do Estado americano do Oregon, a saída foi demolir as vias elevadas que rasgavam o centro da cidade. A região se revitalizou rapidamente, revertendo o processo de deterioração.
No combate à criminalidade, a estratégia adotada em Nova York pelo prefeito Rudolph Giuliani se tornou uma referência mundial. Desde que ele assumiu o cargo, em 1994, o número de homicídios baixou em 74% e a cidade abandonou a lista das 150 mais violentas dos Estados Unidos, depois de ocupar o primeiro lugar nas décadas de 70 e 80. A novidade é a chamada tolerância zero a idéia de que, para reduzir os crimes pesados, é necessário punir com rigor até mesmo os pequenos delitos.
A busca de alternativas para os grandes problemas urbanos foi o tema da Habitat II, Conferência das Nações Unidas sobre Assentamentos Humanos, realizada em Istambul, na Turquia, em 1996. Os participantes da reunião foram unânimes ao sublinhar o papel dos prefeitos e da comunidade, o chamado poder local, na busca de soluções. Não há panacéias, destaca o documento principal da conferência. O importante é obter o máximo das possibilidades de cada cidade.
Entrevista
“As metrópoles serão centros de serviços”
Ex-secretário municipal e estadual de Planejamento em São Paulo, o arquiteto Jorge Wilheim fala sobre o futuro das cidades.
SUPER Como serão as cidades no século XXI?
Jorge Wilheim O mundo continuará se urbanizando muito depressa. Mas a lista das maiores cidades, antes encabeçada por metrópoles desenvolvidas, como Nova York ou Tóquio, terá no topo cidades do Terceiro Mundo, que não têm infra-estrutura para grandes populações. O desemprego e a deterioração das condições de vida podem gerar um forte aumento da violência.
É possível enfrentar os problemas urbanos sem melhorias na área social?
É natural que um habitante de uma metrópole dê prioridade de a temas como o trânsito. Mas o desemprego e o analfabetismo também afetam a cidade. Sem instrução, o trabalhador não acha lugar no mercado de trabalho e acaba marginalizado. As indústrias estão abandonando as grandes metrópoles, que se tornam centros de serviços. É o que aconteceu com Londres, Paris e Nova York.
Os brasileiros continuarão a migrar para as cidades?
Sim. A todo momento surgem cidades novas no interior, porque o Brasil ainda não ocupou economicamente a totalidade do seu território. Antes, toda a rede urbana se articulava em torno do eixo Rio-São Paulo. Hoje há um grande número de cidades médias, de 300 000 a 500 000 habitantes, com um padrão de vida tão bom que conseguem até atrair moradores das grandes metrópoles.
Há quem diga que, com as novas tecnologias de comunicação, deixará de ser vantajoso morar na cidade.
O aumento dos recursos de comunicação, como a Internet, não gera o isolamento. Ao contrário, faz com que a vida social se intensifique, porque as pessoas ficam com mais vontade de se encontrar. A cidade é o lugar ideal para o convívio.