Artur Louback Lopes
O presidente dos Estados Unidos não é necessariamente o candidato mais votado nas eleições presidenciais. Em 2000, por exemplo, o democrata Al Gore recebeu quase 550 mil votos a mais que George W. Bush e não ganhou as chaves da Casa Branca. O mesmo aconteceu em 1876 e em 1888. Isso se deve ao sistema eleitoral indireto, que concede a decisão final a um colégio eleitoral, composto de delegados, escolhidos nos 50 Estados da federação e no Distrito de Colúmbia, onde fica a capital Washington.
A princípio, para nós brasileiros, a idéia de escolher o presidente assim pode soar nada democrática – afinal, durante a ditadura militar, também se usava um colégio eleitoral no Brasil. Contudo, é bom que fique claro que o sistema americano não é igual ao que coroou nossos generais. Aqui, o colégio era formado pelos próprios parlamentares, dentre os quais alguns “biônicos” (não eleitos), que indicavam o nome do presidente. Nos Estados Unidos, o eleitor de fato vota no seu candidato favorito, do mesmo modo que se faz hoje no Brasil e na maior parte do mundo. A diferença vem depois da apuração dos votos. Em vez de se indicar o campeão de votos como o presidente ou credenciar os dois mais votados para um segundo turno, definem-se os delegados que representarão cada estado e cada candidato no colégio eleitoral, onde, enfim, o mais votado vence. Embora haja muitos partidos nos Estados Unidos, os democratas e republicanos sempre dominaram a cena política.
É um sistema complexo e um tanto controverso, principalmente depois das conturbadas eleições de 2000, que suscitaram debates sobre mudanças. Na ocasião, a ex-primeira-dama e senadora Hillary Clinton pediu, com todas as letras, o fim do colégio eleitoral. Em resposta, o jornal The New York Times publicou um editorial defendendo o sistema, sob a alegação de que ele “torna impossível aos políticos ignorar os pequenos estados”. Mas, apesar do debate, nada mudou. “Acho improvável que algo mude, já que qualquer proposta precisa do referendo de três quartos dos legislativos estaduais – e os pequenos e médios estados não apóiam mudanças”, afirma David Fleischer, cientista político da Universidade de Brasília.
Da urna à Casa Branca
Entenda a eleiçãopresidencial dosamericanos
1 – VOTO FACULTATIVO
No dia 2 de novembro, os eleitores votam no seu candidato à Presidência favorito. Como o voto não é obrigatório, a abstinência é grande: em 2000, apenas 54,5% dos maiores de 18 anos votaram. A legislação eleitoral local é soberana, portanto, o sistema de votação pode variar de condado para condado, indo desde a tradicional cédula de papel às urnas eletrônicas com tela sensível
2 – MAIORIA LEVA TUDO
O candidato mais votado em cada estado indica todos os respectivos delegados – Nebraska e Maine são exceções nessa distribuição, pois dividem os delegados proporcionalmente aos votos. O número de representantes por estado é determinado de acordo com sua representação no Congresso: um delegado por cada deputado e um por dois senadores
3 – A ESCOLHA DO LÍDER
Os 538 delegados formam o colégio eleitoral. O vencedor precisa de 270 votos. Em muitos estados, os delegados são obrigados a votar no candidato que o indicou. Nos outros, já houve casos de “traição”, como em 1948, quando um delegado sulista rebelou-se contra Harry Truman e votou no independente Thurmond. Se nenhum candidato atingir a maioria, a Câmara dos Deputados escolhe um dos três candidatos mais votados
Sua excelência, o candidato
O método usado pelos partidos para eleger seus candidatos é bastante parecido com as eleições. Afiliados votam nos diretórios locais do partido, indicando seu pré-candidato favorito. Na convenção nacional, cada estado tem direito a um número pré-determinado de delegados. Estes são indicados pelos pré-candidatos, respeitando a proporção dos votos recebidos por cada um nos estados. São esses delegados que elegem o candidato oficial do partido. Neste ano, apenas os democratas adotaram esse processo, já que nenhum republicano decidiu tentar a indicação contra Bush.
Fatos e votos
• Alguns estados adotam um método conhecido como caucus nas suas primárias. São reuniões locais em que se discutem os programas dos pré-candidatos e, ao final, vota-se de forma aberta
• As primárias de New Hampshire têm um significado especial para democratas e republicanos. Quem vence lá costuma ser o candidato indicado pelo partido. O mito não é infalível, mas este ano funcionou
• Neste ano, alguns estados contarão com mais delegados que em 2000, outros menos. A maior bancada, a da Califórnia, passou de 54 para 55 representantes. Já a de Nova York, de 33 para 31
• Desde 1852, apenas democratas ou republicanos foram eleitos presidentes. Após a Segunda Guerra Mundial, os candidatos desses dois partidos receberam 94,8% dos votos populares
• A última vez que um candidato independente conseguiu um voto no colégio eleitoral foi em 1972. John Hospers não recebeu nenhum voto popular na Virgínia, mas foi indicado por um delegado de lá
• Em 2000, Al Gore provavelmente teria vencido na Flórida e sido eleito se Ralph Nader, do Partido Verde, não houvesse concorrido e “roubado” alguns dos seus eleitores
• Em 1912, o ex-presidente Theodore Roosevelt lançou-se por um partido dissidente, dividindo as preferências republicanas e, por tabela, elegendo o democrata Woodrow Wilson
• Em 1992, H. Ross Perot foi um fenômeno eleitoral. O bilionário independente recebeu 19% dos votos populares e ajudou a desabonar os planos de reeleição de George Bush