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Conheça os segredos dos imortais

Conheça a história de pessoas que sobreviveram a quedas de avião, incêndios, acidentes de carro. E aprenda com elas a trapacear a morte.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 18 jan 2017, 11h28 - Publicado em 2 Maio 2012, 22h00

SuperArquivo

No maior atentado do século 21, as torres gêmeas do World Trade Center levaram consigo quase 3 mil mortos. Outras 8 mil pessoas sobreviveram para contar a história. No centro de São Paulo, os incêndios nos edifícios Andraus e Joelma marcaram a década de 70. O maior deles, Joelma, matou 187 pessoas e marcou a vida de mais de 500 sobreviventes. Congelados no mar Báltico, outros 852 naufragaram junto com o navio Estonia, em 1994. Apenas 137 saíram vivos. É das tragédias que nascem as estatísticas. Todos esses números são pessoas que viveram dramas parecidos, mas são encaixados em categorias completamente diferentes: mortos e sobreviventes. E é desses últimos que podemos aprender lições preciosas. Como conseguiram escapar do perigo enquanto outros tantos morreram? Ou mais, por que tantos perderam a vida, enquanto eles ganharam uma segunda chance? O que determina quem vive e quem morre?

Segundo John Leach, especialista em psicologia da sobrevivência e professor da Universidade de Oslo, apenas 10% de nós conseguem imediatamente manter a cabeça no lugar e agir racionalmente em momentos de tensão. Outros 10% surtam e tomam as piores decisões – e dificilmente saem vivos. Os 80% restantes podem congelar de medo e encarar panes do cérebro, mas não estão fadados à morte. Conseguem se controlar e sobreviver. Não dá para saber em qual categoria você se encaixe – a não ser, é claro, que algum imprevisto aconteça.

Não adianta se apoiar na célebre frase “isso nunca vai acontecer comigo”. Lawrence Nordhoff, especialista em acidentes de trânsito, acredita que uma pessoa adulta deve encarar 2 ou 3 acidentes de trânsito durante toda a vida. Charles Perrow, autor do livro Normal Accidents: Living with High-Risk Technologies, acredita que nem todo incidente tem uma explicação lógica. Alguns simplesmente acontecem. É como um monte de areia: você acrescenta um punhado de grãos até que, inexplicavelmente, o monte desmorona. Para Perrow, acidentes de grandes proporções são raros; os acidentes em si, não. Para se ter ideia, em 2010, nos EUA, a cada 85 segundos, o Corpo de Bombeiros recebeu um chamado para controlar incêndio em alguma residência, e a cada 30 minutos uma pessoa sofreu queimaduras por conta destes acidentes. Então é melhor se preparar. “O mais importante para viver é imaginar o pior e esperar o melhor”, diz Ben Sherwood, autor do livro Clube dos Sobreviventes, no qual ele relata histórias e estatísticas de pessoas que sobrevivem a desastres. Assim você pode escapar das armadilhas de um dos principais mecanismos de defesa do corpo: o medo.

Fase 1: Desespero

Na quinta-feira do dia 24 de fevereiro de 1972, mais de mil pessoas trabalhavam nos escritórios do edifício Andraus. Por volta das 15h30, uma carga na rede elétrica iniciou um dos maiores incêndios da história de São Paulo. Em poucos minutos, os gritos de “fogo” se espalharam pelos 30 andares do prédio. Alguns escaparam pelas escadas, mas muitos correram até o heliponto, na esperança de serem salvos por lá.

Cada uma dessas pessoas, quando ouviu a palavra “fogo”, ligou o sinal de tensão. O estímulo do estresse deixou o corpo em alerta. Isso acontece porque o organismo reage a favor da sobrevivência. O sangue recebe uma dose reforçada de adrenalina, noradrenalina e cortisol, que desencadeiam uma série de mudanças. A respiração fica ofegante, elevando o nível de oxigênio no sangue. Os batimentos do coração aceleram, para espalhar os nutrientes pelo corpo mais rapidamente. Todo o estoque de combustível armazenado (açúcar e gorduras) é quebrado para aumentar a energia do corpo. Com mais energia e oxigênio, os músculos ganham agilidade. Pronto, o medo deixou o corpo com força extra para correr ou lutar. Toda essa reação saudável causada pelo estresse surgiu em nós há milhões de anos. E ela nada mais é do que uma adaptação que permitiu ao nosso organismo cooperar em situações de risco. Ou seja, para fugir com mais facilidade das ameaças. Mamíferos, anfíbios, reptéis e até mesmo insetos, moluscos e vermes marinhos respondem da mesma forma aos estímulos do medo.

Essas reações foram úteis no Andraus. A força extra ajudou alguns sobreviventes na hora de destruir um cadeado, que impedia o acesso ao telhado. Uma pesquisa realizada em 1960, por dois pesquisadores de Chicago, descobriu que a força flexora pode aumentar de 26,5% a 31% sob efeito de alguns estimulantes, como adrenalina e anfetaminas. Os helicópteros chegaram e logo iniciaram os resgates. Ainda assim, 16 pessoas morreram e 345 ficaram feridas.

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Em 1974, o fogo voltou ainda mais devastador ao centro de São Paulo. Às 8h40, um curto-circuito acabou com a paz dos trabalhadores do Banco Crefisul. Em menos de 30 minutos, o incêndio no edifício Joelma estava totalmente fora de controle. Mais de 700 pessoas ocupavam o prédio. A lembrança do incêndio anterior marcou a memória das pessoas que estavam lá. Desesperadas, buscaram a mesma salvação que funcionou no Andraus: o telhado. Subiram no teto, mas dessa vez não havia um heliponto, o que dificultou o acesso dos bombeiros. Em vez do resgate, encontraram uma temperatura infernal, próxima dos 100 ºC. A essa temperatura a concentração de oxigênio no ar fica abaixo de 10% (em ambientes normais, a média é de 21%), dificultando a respiração. No total, 187 morreram no Joelma. Vinte vítimas se jogaram do prédio.

A memória do incidente anterior enganou a esperança daquelas pessoas – mesmo quem já trabalhava lá não parou para pensar na possibilidade de não haver um heliponto no alto do prédio. O medo é uma emoção, cuja resposta inicial parte de ordens vindas das amídalas (são elas que recebem o aviso “estamos em perigo” e passa adiante, desencadeando toda aquela cadeia de reações). Quando reagimos ao estresse, o lado emocional se antecipa e lança mecanismos de respostas automáticas – e às vezes atropela nosso pensamento racional. Se isso acontecer, as lembranças (no caso, as referências do outro incêndio que havia acontecido há pouco tempo) podem dominar suas ações – e levar tudo a perder.

Congelados
Passava da meia-noite quando uma onda forte atingiu a porta de carga dianteira do Estonia. A barca se dirigia da Estônia para a Suécia, com 989 passageiros a bordo. Há 6 horas navegando pelo mar Báltico, o Estonia encarava uma tempestade com ondas de 9 metros de altura. Perto da uma da manhã, a força do mar venceu a estrutura da proa: parte dela se soltou do navio. A água se viu livre para entrar. Os passageiros, chacoalhados violentamente de um lado para o outro dentro da barca, se deram conta do perigo. Muitos foram nocauteados pela violência do mar contra o navio e nem tiveram chances de fugir. Outros tentaram subir as escadas em direção às partes mais altas da barca. Mas tantos outros simplesmente congelaram. Não se moveram. Não tentaram se salvar. Nada. Estavam em choque, completamente imóveis.

A culpa é do estresse. E da maneira como cada um reage a ele – alguns levam meses para se recuperar de relacionamentos furados, enquanto outros levam poucos dias; tem quem morra de medo de barata, rato, cachorro… Enfim, pessoas se perturbam e se estressam com motivos e intensidades diferentes. Quando o nível de estresse chega às alturas, os hormônios lançados no sangue e a excitação das amídalas podem ter consequências ruins. Congelar diante do perigo é uma delas.

Alguns especialistas acreditam que, nesses casos de congelamento, a parte do cérebro que assimila novas informações deixa de funcionar. E aí as pessoas simplesmente não se movem. Ou seguem a rotina normalmente, como se nenhuma tragédia se desenhasse diante de seus olhos. No atentado ao World Trade Center, uma das sobreviventes queria trocar de roupa, antes de descer as escadas. Ela precisava colocar as “roupas de ir para casa”. “O meio mudou e eles ainda não se adaptaram, não aceitaram. Então seguem fazendo o que sempre fizeram, a rotina. Mas isso é um erro, seu cérebro precisa se readaptar, encarar que as coisas mudaram”, explica Leach.

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Outros especialistas acreditam que o problema talvez seja no modo cerebral de busca por soluções. Enquanto a água tomava conta do Estonia, o lobo temporal de alguns passageiros procurava na memória uma forma de agir com base em outros momentos parecidos. Não encontrava, mas persistia na busca. Sem sucesso, a pessoa continua imóvel, esperando qualquer sinalização sobre como proceder. Não à toa, os tripulantes de aviões hoje em dia são instruídos a gritar continuamente coisas como “Vamos, saiam do avião, vamos”, durante uma emergência. É uma tentativa de acordar os passageiros congelados. Mas mesmo quando existe um conhecimento e treinamento prévio para algumas situações, a memória também pode falhar. Leach estudou casos de paraquedistas que não abrem o paraquedas reserva (isso acontece em 11% dos acidentes fatais com paraquedistas). Ele concluiu que, sob estresse, a memória ativa não consegue se comunicar com a memória de longo prazo. Então, apesar de os paraquedistas saberem como agir, eles travam.

Sobrevive quem consegue voltar ao normal o mais rápido possível. Foi o que fez o canadense Tim Sears. Ele acordou de madrugada no meio do oceano – vestia apenas uma cueca samba-canção e moletom – e não fazia ideia de onde estava o navio Celebration, de onde ele havia caído. Tim analisou a situação, tinha duas opções: nadar ou afundar. Passou as 7 horas seguintes nadando de todas as formas, à espera do amanhecer (em águas frias, a recomendação é ficar parado para conservar calor, mas o mar do Golfo do México tem temperatura média anual acima dos 18 ºC). O sol chegou, mas, em outras 12 horas, nenhum barco se aproximou. Ainda assim, Tim continuou agindo. Quando o sol ia embora, um cargueiro se aproximou. Tim tirou a camiseta, e acenou. Dois marinheiros o resgataram e levaram direto para a cozinha. Foi quando Tim percebeu que havia passado mais de 15 horas no oceano. Desatou a chorar.

Fase 2: Recuperação

As reações do nosso cérebro às catástrofes parecem uma interminável lista de problemas e panes. Mas, a não ser que você faça parte dos 10% que surtam, agem por impulso e fazem tudo errado, dá para reverter esse jogo de erros. Ao mesmo tempo em que percorre a amídala e provoca as reações de medo, a informação percorre outro caminho mais longo e chega ao neocórtex para cumprir 3 objetivos: reconhecer o ambiente ao redor, controlar o medo e selecionar a ação certa. É quando você assume de novo a direção do seu corpo. Sobrevive quem muda essa chave em tempo hábil. Em geral, pessoas calmas sabem melhor como fazer isso, mas não existe uma personalidade típica de sobreviventes. “A principal característica dos sobreviventes é a adaptabilidade: conseguir mudar de atitude conforme as situações. Em toda nossa evolução, a habilidade de adaptar-se é essencial. É a mágica para sobreviver”, conta Sherwood. Enquanto alguns relutam para acreditar no que veem, os sobreviventes aceitam a situação nova e agem de acordo com ela. Dançam conforme a música, mesmo se ela passar de Beethoven a Ramones bruscamente.

De volta ao Andraus
Quando ouviu as palavras “fogo” invadir o 23º andar, Enrico Ferri tomou fôlego e subiu até o último andar. Esperaria pelo resgate no telhado do edifício. Italiano nascido em Verona, Enrico já havia participado de outra tragédia: a 2ª Guerra Mundial. Pela segunda vez ele encarava a morte – e eis aqui outra vantagem no jogo da sobrevivência: ter vivido outras situações-limite. Mas Enrico se manteve calmo. “Depois da primeira vez, você vai se acostumando. Mas o medo não desaparece nunca”, contaria a um programa de televisão depois. Ele seguiu à risca a regra número um da sobrevivência: manteve a calma. Quando chegou ao telhado viu que as labaredas já se espalhavam pela janela do último andar. Mas aqui ele se deparou com mais um fator importante na sobrevivência: a sorte. Ela estava em vários momentos: o heliponto ajudou no resgate; havia janelas apenas na parte da frente do prédio, deixando a parte traseira do telhado mais segura; e, por fim, a direção do vento, que levava o fogo para longe das pessoas.

Não é vital, mas em histórias de sobrevivência a sorte aparece em alguma situação. E uma pesquisa do psicólogo Richard Wiseman, da Universidade de Hertfordshire, Reino Unido, mostra que talvez a sorte não seja tão ao acaso como imaginamos. Durante 10 anos, ele entrevistou azarados e sortudos. Concluiu que pessoas mais relaxadas, sociais, otimistas e com maior percepção do mundo, escutam pressentimentos e atraem boa sorte. Encontram alternativas em lugares que ninguém viu. E têm mais amigos e conhecidos, que formam uma “rede de sorte”. Segundo Wiseman, a maioria de nós conhece cerca de 300 pessoas próximas. Isso nos deixa a duas apresentações de outras 90 mil pessoas que podem trazer alguma oportunidade boa.

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Acredita-se, inclusive, que pessoas com mais familiares e amigos tenham chances maiores de sobreviver a uma catástrofe. “Evidências mostram que pessoas com apoio da família e amigos têm mais chances de sobreviver. Elas querem voltar para a família, têm um propósito”, conta Leach. Quando se tem algo a perder, a vontade de viver cresce. Mas isso não inclui apenas parentes ou amigos. Dá para encontrar na hora um motivo que o instigue a viver, como tomar a liderança do grupo. Quando você organiza e orienta o resgate ou a evacuação de um prédio em chamas, a sua sobrevivência se torna fundamental para todos. Isso pode dar motivação para lutar de maneira mais eficiente pela sua sobrevivência.

No telhado, Enrico se acomodou à espera de resgate. Ele tinha razões para viver. A poucos quilômetros do Andraus, a família ansiava por notícias. Quando duas pessoas tentaram descer pelo fio do telex (pai do fax e avô do e-mail) e se esborracharam no chão, Enrico achou mais um propósito: acalmar os ânimos das pessoas do telhado. Um helicóptero se aproximou do heliponto. Enrico, então, ajudou a organizar uma fila, com mulheres à frente. Com a situação controlada, pegou carona em um dos helicópteros e desceu ao encontro da família.

A enrascada em que Paul Barney se meteu foi pior do que a de Enrico Ferri. Ele estava no navio e acordou à uma da manhã com o barulho forte do naufrágio. Em pouco tempo percebeu que a barca começava a se inclinar para um dos lados. Levantou-se e traçou pequenas tarefas para sair com vida de lá. Precisava agir conforme mandavam as novas regras da barca prestes a naufragar. É o que sobreviventes fazem: traçam planos e os dividem em pequenas tarefas. “Sobreviver não é uma coisa grandiosa – é, na verdade, uma série de pequenas coisas. Mas você precisa fazê-las. Se parar, você morre. Um sobrevivente apenas sobrevive dia após dia, exatamente como nós”, diz Leach. Paul procurou então as roupas mais quentes que possuía e tirou as botas para ter mais equilíbrio. Entrou em um bote salva- vidas, mas ele logo virou. Barney voltou para dentro e puxou junto a ele outras pessoas. Mas agora, ensopado, sofria com o frio. Concentrou-se em deixar a respiração mais lenta e desacelerar os batimentos do coração – e assim, economizar energia. Funcionou. Barney sobreviveu.

Fase 3: As lições

Para ter mais chance de sobreviver, é possível aprender a evitar imprevistos e treinar o cérebro para situações extremas. A boa notícia é que você já começou: ler sobre o assunto – como esta reportagem da SUPER – pode deixar você mais preparado na hora de incidentes. Ter algum tipo de conhecimento prévio é fundamental. Ler o manual de instruções em caso de acidentes dos aviões ajuda. Assim como assistir às precauções de segurança que passam antes do filme no cinema. Pode parecer besteira, mas não é: nosso cérebro leva de 8 a 10 segundos para fazer escolhas que desconhece. Quando já sabe como agir diante da situação, esse tempo cai para 1 a 2 segundos. Outra dica é analisar o seu comportamento em situações de privação “normais”, as que nos acontecem todos os dias. “Pratique suas reações em coisas pequenas, como um engarrafamento. Não perca o controle, fique calmo. Se você lida bem com coisas pequenas, estará preparado quando as grandes aparecerem”, afirma Laurence Gonzales, autor do livro Deep Survival: Who Lives, Who Dies, and Why. Ou seja, se você tem o hábito de buzinar e xingar o motorista da frente, dificilmente vai recuperar a calma se o seu apartamento pegar fogo. Lembre-se: você não quer fazer parte dos 10% sem controle da população.

A atitude mental vale mais do que qualquer ferramenta. Sobreviventes controlam o medo, resignam-se com os acontecimentos e agem. Fazem de tudo para sair vivos. Para manter essa atitude positiva, os especialistas recomendam dicas aparentemente banais, mas que surtem efeito. Gonzales sugere que sejam comemorados todos os pequenos sucessos (cada tarefa concluída é uma vitória). O carro bateu e você ainda está vivo? Comemore. Encontrou uma possível saída? Concentre-se nisso em vez de pensar “por que justo o meu carro bateu, por queee?” Sobreviventes, em geral, não se veem como vítimas. Eles querem é sair vivos, para reencontrar os amados, para seguir com suas vidas ou simplesmente para contar a história. Se não, não há também por que viver.

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ACIDENTE DE AVIÃO

Antes
– Fique consciente: não tome álcool ou calmantes.
– Use sapato de amarrar, e roupas de manga comprida.
– Sente no máximo a 5 poltronas da saída de emergência.
– Faça um mapa mental de saída. Em caso de acidente, é possível que fogo ou fumaça impeçam a visão. Por isso, você deve conseguir sair apenas com o tato e a memória.

Fique atento!
Os acidentes costumam acontecer nos primeiros 3 minutos da decolagem e nos 8 últimos do pouso. Nesse momento:

Durante
– Fique atento ao que está acontecendo.
– Mantenha os cintos atados.
– Use as máscaras de oxigênio.
– Durante o impacto, incline-se para frente. Encoste a cabeça na superfície onde você a bateria (a poltrona da frente), para evitar choques.
– Mantenha seus pés firmes contra o chão.

Depois
– Não tente pegar seus pertences.
– Retire o cinto de segurança.
– Relembre o mapa mental traçado anteriormente.
– Conte as poltronas até a saída prevista.
– Agora é hora de ajudar alguém, se for possível.
– Você terá 90 segundos para sair do avião. Depois desse tempo, o fogo passa pelo alumínio da nave e a temperatura dentro da cabine chega aos 1 000º C.

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Crianças sortudas
Em 2006, aos 10 anos de idade, Mateus de Oliveira escapou da queda de um bimotor na Serra da Cantareira, Ele foi empurrado para fora da nave pelo empresário Antônio Cortez. Caiu na mata e ficou desacordado. Quando acordou, voltou ao avião e tirou o empresário. Mateus tinha apenas ferimentos leves e guiou Cortez, com queimaduras graves, pela mata até ver uma casa. Dois homens morreram no avião – um deles, o pai do garoto.

Confie na sorte
O Airbus A310 da companhia aérea estatal do Iêmen mergulhou no Oceano Índico, em julho de 2009, e matou 153 pessoas. Baya Bakari foi a única sobrevivente. Após o impacto, perto da uma da manhã, ela ainda escutou as vozes de outros possíveis sobreviventes, mas não conseguiu enxergar nada. A garota não sabia nadar e estava sem colete salva-vidas. Sobreviveu graças a um pedaço do avião, ao qual se agarrou até ser resgatada por um bote.

– Mesmo em caso de acidentes graves, a chance de uma pessoa sobreviver é de 76,6%.

– A chance de cair de avião nos países desenvolvidos é de 1 em 60 milhões.

– Já no Brasil, a estatística cai para 1 em 2 milhões.

 

BATIDA DE CARRO

Antes
– Ande sempre de cinto de segurança.
– Dirija à direita. Acidentes acontecem mais na pista mais rápida.
– No banco de trás, sente no meio. É o lugar mais seguro do carro.
– Confira se você está carregando o kit de primeiros-socorros.
– Carregue sempre o extintor de incêndio dentro da validade indicada.

Durante
– Se a batida vier de trás, não aperte os freios para não capotar.
– Prepare-se para o impacto. Avise outros passageiros que estiverem distraídos.
– Faça força para segurar sua cabeça contra o encosto. Isso é importante para evitar que a cabeça bata no volante – deixando você inconsciente.
– Segure as duas mãos firmes no volante, na posição de 5 e 7 horas do relógio. Isso deixa espaço livre para o airbag inflar e proteger sua cabeça.

Depois

Em caso de fogo
– Se você não conseguir sair do carro a tempo, cubra sua cabeça e tronco com casacos ou roupas. Se conseguir sair, não tente salvar o veículo.

Se cair na água
– O veículo vai cair de frente (a parte mais pesada do carro). Espere estabilizar.
– Janelas abertas: Aproveite para escapar.
– Retire o cinto de segurança.
– Janelas fechadas: Se o sistema elétrico não estiver funcionando não adianta tentar abrir as portas até que água preencha o veículo na altura no pescoço. A pressão da água impedirá a abertura das portas antes disso e você desperdiçará energia.
– Com as janelas abertas, o carro se enche de água em 1 a 2 minutos.

– 1,2 milhão de pessoas morrem em acidentes de carro todos os anos.

– Uma pessoa terá, em média, de 2 A 3 acidentes de trânsito NA VIDA.

– Se o carro cair na água de janelas abertas, ele vai encher de água em 1 ou 2 min. Além disso, uma pessoa aguenta 3 minutos sem respirar. Dá e sobra pra fugir.

Avise aonde vai (mesmo que no Facebook)
Em setembro do 2001, David Lavau, que tinha 67 anos, dirigia sozinho por uma estreita rodovia da Califórnia. Em uma das curvas, perdeu o controle do carro, desceu o barranco e caiu em uma ravina. Esperou por um helicóptero à noite, que não apareceu. Pela manhã, engatinhou e saiu do carro. Encontrou outro veículo com um homem morto e percebeu que estava sozinho. Comeu insetos, folhas e bebeu água potável (e suja) de um riacho. Cinco dias depois, os filhos se deram conta do sumiço. Rastrearam o celular, fuçaram no Facebook e, 6 dias depois do acidente, partiram em direção à rodovia Lake Hughes. Eles paravam e gritavam o nome do pai em toda ravina e colina encontrada no caminho. Até que, em uma delas, um senhor respondeu de volta, pedindo ajuda. Um dos filhos desceu e encontrou o pai, com algumas vértebras e costelas quebradas e o braço fraturado em 3 pontos. Ele sobreviveu.

 

INCÊNDIO EM CASA

Antes
– Não fume dentro de casa. Bitucas são as maiores causas de incêndio.
– Se estiver em hotel, peça o quarto próximo das saídas de emergência.
– Deixe as chaves de casa sempre no mesmo local para saber onde encontrá-las.
-Tenha sempre um mapa mental das saídas de emergência. De novo, pode ser que você tenha que se locomover sem enxergar.

Durante
– Feche as portas pelas quais você passou para cortar o fogo.
– Não abra janelas desnecessariamente. Fogo precisa de ar.
– Nunca, jamais pegue o elevador para sair do edifício.
– Não volte para tentar resgatar pessoas. Deixe os profissionais lidar.
– Molhe um pano e coloque sobre o rosto. Isso vai funcionar como um filtro contra os gases tóxicos do incêndio.

Fogo fora
– Se você estiver do lado de fora do incêndio, procure fumaça embaixo da porta e toque a maçaneta. Se estiver quente, não abra. Isso significa que o fogo pode se propagar ao abrir.

Depois
– Mesmo se não houver queimadura visível, vá ao hospital.
– Fumaça a calor podem causar queimaduras pulmonares (de duas maneiras: inalação do calor e queimadura mesmo do tecido pulmonar). Se você ficar uma hora no incêndio, as chances são grandes de você ter desenvolvido uma delas.
– Estima-se que, em 40 m2, o fogo leve de 5 a 6 minutos para ficar fora de controle. Portanto tempo é precioso. Fique sempre próximo ao chão (a fumaça é mais leve que o ar e fica flutuando próximo ao teto.)
– A maior parte das vítimas de incêndio morre asfixiada e não queimada.
– Isso porque, a 75 ºC, a quantidade de oxigênio no ar cai para 10% (é de 21% normalmente). Outro problema é o CO2. Se houver 2% de CO2 no ar, a pessoa morre em uma hora. Se for para 10%, a morte é instantânea.

Aja logo
John Leach, especialista em sobrevivência, se interessou pelo assunto na prática. Em 1987, ele estava na estação King¿s Cross, em Londres, quando fumaça tomou conta do lugar. Ele fugiu pelas escadas e ofereceu ajuda a um policial. Não teve resposta: o policial congelara. Assim como ele, outras pessoas mantinham a rotina normal. Uma mulher perguntou: “meu trem vai ser cancelado?”, enquanto a fumaça se espalhava pela estação. 31 pessoas morreram no incêndio.

Seja racional

Um grupo de 20 pessoas descia a montanha de Middle Kootenay Pass, quando recebeu um aviso de avalanche. Mesmo assim, duas pessoas resolveram subir a montanha para esquiar. A neve desabou logo depois. Somente um deles escapou a tempo. Sob o comando do lado emocional, o cérebro os levou direto ao perigo. Havia uma marca na memória, tirada de experiências anteriores, que dizia “enfrentar a montanha é divertido, tente de novo”. E eles se deixaram levar.

 

NAUFRÁGIO

Antes
– Investigue o barco: procure rotas de fuga e descubra onde estão amarrados os botes.
– Fique atento à localização de todos os coletes salva-vidas.
– Saiba como funciona a liberação dos botes.

Durante
– Tente pegar comida e – principalmente – água.
– Leve um espelho ou celular. É possível colocá-los contra o sol para servir como sinalizadores.
– Afaste-se do barco afundando para não ser sugado com ele.
– Uma vez dentro do bote salva-vidas, use boias e coletes para salvar outras pessoas.

Depois
Como conseguir água para consumo

1. Colete plantas do mar e coloque em um recipiente

2. Cubra com um plástico e amarre-o em torno do recipiente.

3. Coloque algo pesado no meio do plástico.

4. A umidade reage com o calor. Em um dia ensolarado você conseguirá até 1,5 litros.

– Nunca beba água do mar ou urina.

– Colete tudo que encontrar boiando no mar, inclusive destroços do barco. Eles podem ajudá-lo.

– Náufragos costumam morrer de hipotermia. Se cubra com plantas e algas.

Ajude os outros
Logo após o barulho no Costa Concordia, Rose Metcalf, dançarina e membro da tripulação, entrou em ação. Quando o navio começou a afundar, Rose ajudou na evacuação dos passageiros. Quando os botes ficaram lotados, escalou até o deck seguinte e esperou pelo helicóptero. Foi uma das últimas pessoas resgatadas. O cruzeiro italiano levava 4 229 pessoas quando se chocou contra uma rocha. O naufrágio terminou em 32 mortes.

 

PERDIDOS NA SELVA

Antes

Na mochila
– Boa parte das pessoas que se perde em floresta entrou nela voluntariamente. Por isso, toda vez que sair no mato leve faca, lanterna, anzóis, fósforos e primeiros-socorros. Além de bússolas, GPS e comida.

Roupas
– Coturnos de plástico, calças e blusas compridas com tecidos grossos.

Durante
– Aceite que está perdido. Pare de vagar – sua missão agora é sobreviver ao dia a dia.
– Localize água e comida próximo ao local em que você está.
– Construa ou encontre um abrigo.
– Tome banho todos os dias: isso evita infecções e insolações.

Depois

Fogo
– Mantenha-se aquecido. A maior causa de morte entre os perdidos na selva é a hipotermia.

Fumaça
– A fumaça que vai aquecê-lo também serve de sinalizador para que você possa ser encontrado.
– Gaste apenas 60% da energia que você costuma gastar por dia. O Exército brasileiro recomenda que você descanse de 10 a 15 minutos a cada 60 minutos de esforço físico, para você não enfraquecer demais.

– 75% das mortes de perdidos na selva acontecem nas primeiras 48 horas ¿ quase sempre de hipotermia.

– Crianças de até 6 anos têm a maior taxa de sobrevivência: elas ainda não têm a consciência de que estão em encrenca, e também conseguem se adaptar com mais facilidade a novos ambientes. Já crianças entre 7 e 12 anos têm a maior taxa de mortalidade: elas entendem que estão em apuros, mas não têm maturidade para ficar calmas.

Seja paciente
Os franceses Loïc Pillois e Guilhem Nayral resolveram fazer uma trilha de 100 km pela Amazônia, a partir da Guiana Francesa. Equipados com bússola, mapa e 12 dias de comida, se perderam na selva. Construíram um abrigo e esperaram 3 semanas. Ouviram barulhos de helicópteros, mas não foram vistos. Sem esperança de resgate, voltaram a caminhar 3 horas por dia. 7 semanas depois, foram encontrados.

Para saber mais

Clube dos Sobreviventes
Ben Sherwood, Fontanar, 2012

Deep Survival: Who Lives, Who Dies, and Why
Laurence Gonzales, W. W. Norton & Company, 2004

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