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Conversamos com Pedro Aguilera,  criador de “3%”

Rejeição, aclamação internacional, política brasileira e o futuro da série. Batemos um papo com o cara por trás da distopia.

Por Felipe Germano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 ago 2022, 15h37 - Publicado em 27 abr 2018, 19h08

Apesar de ter chego a Netflix em 2016, para Pedro Aguilera, 3% é uma história muito mais antiga. Era 2011 quando o roteirista conseguiu tirar, pela primeira vez, a história distópica do papel. Filmou três episódios pilotos da série e jogou tudo no Youtube. 26 minutos gratuitos com um objetivo claro: “Buscamos um canal de TV interessado em viabilizar a temporada completa”, afirma a descrição dos curtas. Não deu certo. Pelo menos por hora. Levaram cinco anos até que a Netflix se oferecesse para bancar a empreitada. E quando o resultado chegou ao público, as reações não poderiam ser mais diferentes: enquanto a crítica nacional apedrejou a produção, que se tornou a primeira série brasileira da Netflix, os gringos amaram. Meses depois, havia se tornado a então série de língua não-inglesa mais assistida da rede de streaming.

Agora, no final de abril, a história de 3% (e de Pedro) continua: o seriado ganha sua segunda temporada, mais uma vez, estreando simultaneamente no mundo inteiro. Conversamos com o criador e roteirista da série sobre a dualidade de opiniões nacionais e internacionais, como a política brasileira interfere na série e quais os planos para o futuro:

3% passou por um fenômeno inusitado: assim que saiu, ele foi bastante criticado no Brasil, mas explodiu lá fora. Chegou a ser a série mais vista da Netflix de língua não-inglesa, indicada por publicações importantes, por que você acha que isso aconteceu?

Eu vou puxar um pouco  a sardinha pro meu lado, mas eu tbm acho que foi muito amado por um público no Brasil. Como a gente nunca sabe os números, já que a netflix não conta,   ficamos nesse limbo.

Tem outra coisa: a gente vive muito um fenômeno em que as pessoas gostam de se afirmar pelo que gostam ou não. E eu sei que a série dá margem aos dois lados, porque tem muitos defeitos, mas muitas qualidades também.

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Quanto ao sucesso lá fora, eu acho que isso tem relação ao acesso dos gringos. Quem gostou lá fora gostou pelos mesmos motivos de quem gostou aqui dentro. A diferença é que, dessa vez, eles tiveram a oportunidade de ver um produto brasileiro numa plataforma internacional. Até porque, na minha opinião, os brasileiros têm um identificação com a série, mas o temas retratados são universais.

E vocês prestam atenção nas críticas? Elas alteraram alguma coisa pra essa segunda temporada?

Ouvimos as críticas sim! O que acontece é que a gente (eu, e os diretores), está dentro de uma coisa que quanto mais a gente faz, mais a gente percebe como é dificil de fazer. A segunda temporada é um retrato disso, tivemos a oportunidade de avaliar onde erramos, para tentar arrumar, e onde acertamos, para tentar acertar de novo – o que é mais difícil do que parece. Então tudo acabou sendo uma nova tentativa de arranjar coisas e acertar novas.

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É ano de eleição, o Brasil está vivendo um momento de polarização. Como a segunda temporada conversa com nosso cenário político?

Ela com certeza conversa, porque a gente estava muito envolvido nisso tudo, enquanto escrevia. Então a gente tenta linkar com problemas brasileiros, principalmente a desigualdade, que é uma coisa muito peculiar. Agora, eu não sei te citar exemplos diretos. A série começou a ser escrita há anos, quando vivíamos outro tipo de caos: o lance das ocupações nas escolas dos secundaristas, por exemplo, entrou de forma indireta.

Você fez algum tipo de pesquisa para abordar temas na segunda temporada?

Não vou contar em  detalhes porque quero evitar spoilers, mas, sim, pesquisamos bastante. Principalmente sobre como alguns produtos deverão funcionar no futuro, como vai funcionar a segurança das tecnologias. Em determinado momento, por exemplo, a gente tentou entender como vão ser os HDs daqui alguns anos. Meu pai já trabalhou com Data center, conversei com ele por telefone por horas.

E o que o público pode esperar para a segunda temporada?

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A minha expectativa é que quem curtiu a primeira temporada também curta a segunda, estamos empolgados, orgulhosos, espero que seja uma temporada de sentimentos intensos – e esse é o nosso objetivo.

E você tem um plano sobre quantas temporadas gostaria que a série tivesse?

A gente fez um documento há muito tempo atrás, logo no começo, que era uma ideia pra ter uma ideia. Eram coisas muito resumidas, mas que falavam sobre as ideias que a gente queria contar. Muita coisa continuou, mas também muita coisa mudou muito – até porque ideias melhores vão aparecendo. Então é dificil calcular. Resumindo: a gente perdeu um pouco esse controle. Hoje a gente já não tem mais tanta certeza sobre números mais concretos.

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E quais são os maiores desafios em fazer uma série nacional para uma plataforma internacional?

Sinceramente, não tem tanta diferença. Na verdade, é um ponto positivo nosso. Quando eu converso com os executivos da Netflix, o recado que eles nos passam é sempre o mesmo: a especificidade do local é justamente o que faz uma série se tornar maior.

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