E legalizá-la é a luta de Ethan Nadelmann, diretor da Drug Policy Alliance, a maior organização americana que defende o fim da guerra às drogas. Uma recente pesquisa do jornal The Washington Post mostrou que 46% dos americanos apoiam a legalização, contra 22% em 1977. Nadelmann, que de vez em quando também dá suas tragadas, viria ao Brasil no começo de agosto para um congresso sobre o estudo das drogas. Nesta entrevista, ele explica como a imagem da maconha mudou.
A maconha deixou de ser um tabu?
Trinta anos atrás, as gerações mais velhas não sabiam diferenciar maconha de heroína. Hoje, grande parte das pessoas entre 40 e 60 anos usou maconha e sabe que a maioria não partiu para drogas mais pesadas. Antes era difícil imaginar um candidato a presidente dos EUA dizer que usou Cannabis. Hoje, temos 3 presidentes consecutivos que a usaram de um jeito ou de outro [Clinton disse que fumou, mas não tragou; e um amigo de Bush revelou que ele usou]. Quando perguntaram a Obama se ele tinha tragado, sua resposta foi:”Claro, muitas vezes”.
Qual a importância dessa declaração de Obama?
Politicamente, Obama pode achar impossível dizer “vamos torná-la legal”. Mas ele fez as pessoas pensar. Milhões de americanos estão felizes por tê-lo como presidente. E se Obama tivesse sido preso por usar maconha? Poderia ter se tornado presidente?
Por que você diz se inspirar na luta dos gays na sua campanha a favor da maconha?
As duas campanhas buscam deslegitimar a noção de que as pessoas deve ser punidas por seu comportamento pessoal, mesmo que em público. Elas também são similares na importância de”sair do armário”. O movimento gay foi adiante porque as pessoas estavam dispostas a admitir que eram gays. O mesmo aconteceria se mais pessoas assumissem que usam maconha e que não deveriam ser tratadas como criminosas. Hoje, admitir o uso de maconha é o mesmo que dizer “me prenda” ou “me demita”.
Quais os custos da criminalização da maconha?
O maior é o custo humano e financeiro de prender 800 mil pessoas por ano por posse de maconha nos EUA, geralmente por pequenas quantidades. Nos últimos 35 anos, 20 milhões de americanos passaram a ter ficha criminal por causa da maconha. Vários perderam carteira de motorista, emprego e bolsas de estudo.
Por que proibi-la, então?
As transcrições das audiências do Congresso que a tornaram ilegal, em 1937, parecem um roteiro da série Monty Python.Carecem de informação científica! A maconha não foi criminalizada por ser um problema em si, mas por sua associação com mexicanos e outras minorias. Se ela fosse uma droga associada a brancos e bem-sucedidos, não seria criminalizada. Foi uma forma de demonizar as pessoas que a usavam, e não de regularizá-la.